Um equipamento de prova de grande utilidade na oficina do técnico reparador de televisores e monitores de computadores é o que faz testes de transformadores de saída horizontal ou fly-backs. Consistindo basicamente num oscilador de potência, ele permite detectar curtos, interrupções ou fugas no setor de alta tensão indicando assim se o componente deve ou não ser trocado. O provador que descrevemos é eficiente e de baixo custo podendo até aproveitar material que o técnico disponha em sucata.
Os fly-backs não mais são usados nos televisores e monitores, pois a tecnologia de nossos dias elimina o cinescópio, mas se alguém quiser usar um desses componentes num projeto, o artigo dá uma idéia de como prová-lo. Este artigo é de 1995.
Para provar um transformador de saída horizontal (fly-back) não se pode empregar instrumentos comuns como por exemplo um multímetro. De fato, o multímetro apenas detecta eventuais interrupções de um enrolamento, mas não revela fugas de alta tensão ou mesmo curto-circuitos.
O melhor teste de um fly-back é o que simula suas condições normais de operação, ou seja, gerando alta tensão.
Para se conseguir isso não é difícil, mesmo que os circuitos de tal função de um televisor ou monitor de vídeo não funcione: basta gerar um sinal na faixa dos 5 aos 18 kHz de boa potência e aplicá-lo de maneira apropriada no transformador em teste.
A finalidade do projeto que apresentamos é justamente essa: temos um oscilador de potência que pode aplicar por meio de algumas espiras enroladas de maneira simples no transformador, um sinal de prova, e a partir dele podemos verificar o comportamento do componente, ou seja, se ele gera a alta tensão sem fugas, conforme sugere a figura 1.
Praticamente qualquer tipo de fly-back pode ser testado com o nosso projeto, não importando o tamanho ou modelo do televisor ou monitor de vídeo, o que torna-o indispensável em qualquer oficina.
Até mesmo bobina de ignição de carros e motos podem ser verificadas, já que operam segundo princípio bastante semelhante na produção de alta tensão.
Um outro ponto importante a ser ressaltado neste projeto é que ele admite uma boa gama de equivalentes para alguns componentes o que permite o aproveitamento de material de sucata.
Se o leitor trabalha com reparação de televisores e não possui um provador profissional, que tal montar uma unidade alternativa de baixo custo porém bom desempenho?
CARACTERÍSTICAS
* Tensão de alimentação: 110 V ou 220 V CA
* Corrente de prova: 800 mA a 1,5 A (ver texto)
* Frequência de operação: 5 a 18 kHz
COMO FUNCIONA
O que temos é basicamente um oscilador de potência que opera na faixa de áudio e que tem sua saída em aberto. Como carga deste oscilador para aplicação do sinal gerado será usada uma bobina colocada no fly-back em prova.
A alta corrente desta bobina e sua baixa impedância exigem o emprego de uma etapa de excitação com características especiais.
Temos então o seguinte circuito completo para fazer tudo isso:
A fonte de alimentação é dupla gerando uma baixa tensão de 12V para alimentar o setor oscilador e um transistor excitador e uma alta tensão para um transistor de potência que excita a bobina.
Os 12 V são obtidos a partir de um regulador do tipo 7812 que então alimenta um circuito integrado 555 e um transistor BD137.
O 555 funciona como um oscilador cuja frequência depende de C3 e do ajuste de P1, além dos resistores R2 e R3.
O ideal será ajustar a frequência para algum valor entre 12 e 15 kHz que estaria próximo das condições normais de operação de um fly-back, no entanto, mesmo as frequências mais baixas excitam bem os componentes em teste.
O sinal gerado pelo 555 é retangular servindo para excitar um transistor driver do tipo BD137.
Este transistor não forneceria um sinal de boa intensidade para a prova de um fly-back, gerando uma tensão relativamente baixa e que não permitiria a verificação de uma condição de fuga ou faiscamento entre enrolamentos.
Por este motivo, é acrescentado um transistor de alta potência para alta tensão na excitação do fly-back.
Para alimentação desse transistor não usamos os 12V regulados, mas sim uma tensão maior que é obtida da retificação e filtragem do secundário do transformador. Usando um transformador de 12+12V teremos algo em torno de 17,5 V para este setor, e usando um transformador de 15+15V teremos algo em torno de 21 V para este setor.
O fly-back em teste será então a carga deste transistor que o excitará com um sinal de boa potência.
Para os leitores que tiverem acesso a um FET de potência podemos simplificar o projeto com a eliminação do driver, conforme mostra a figura 2.
O FET, diferentemente de um transistor bipolar comum opera como amplificador de tensão e não de corrente, o que significa que sua elevada impedância de entrada permite sua excitação direta pela saída do 555.
O importante no projeto é que tanto qualquer transistor de potência com ganho acima de 50 como qualquer FET de potência com tensão dreno/fonte maior que 200V servem para o projeto, o que dá uma enorme gama de opções para o montador.
MONTAGEM
O diagrama completo da versão básica com transistor bipolar é mostrado na figura 3.
Evidentemente, a montagem deve ser feita com base numa placa de circuito impresso e uma sugestão de disposição de componentes é mostrada na figura 4.
O transformador deve ter um enrolamento primário de acordo com a rede de energia e seu secundário deve ser de 12+12 V ou 15+15 V com uma corrente de 1,5 A ou 2 A.
Os diodos podem ser 1N4004 ou equivalentes e os capacitores eletrolíticos devem ter as tensões mínimas de trabalho indicados na relação de material.
Os resistores são de 1/8 W ou 1/4 W exceto R5 que deve ser de fio com pelo menos 5 W de dissipação.
O LED serve para indicar quando o aparelho está ligado, e o circuito integrado 555 deve ser montado num soquete DIL de 8 pinos, para maior segurança. O circuito integrado 7812 assim como o transistor de potência Q2 devem ser dotados de radiadores de calor. Para o circuito integrado, o radiador consiste numa chapinha dobrada em "Ü" mas o transistor deve ter um radiador maior, conforme mostrado na figura 5.
Para o transistor de potência Q2 temos diversas opções, devendo apenas o montador ter o cuidado de verificar a disposição dos terminais de emissor, coletor e base no momento de fazer sua conexão no aparelho.
Alguns tipos de transistores que podem ser usados são os seguintes:
TIP47, TIP48. TIP49, TIP50, SID6410, SID6511, SID6512, SID6514, e finalmente o 2N3055.
Evidentemente, o leitor pode fazer experiência com um transistor de saída horizontal tirado de qualquer televisor fora de uso. Se não funcionar é porque o ganho pode estar muito abaixo dos 50, o que ocorre em alguns tipos como o BU208 que não serve para esta aplicação.
Se o montador optar pela versão com FET de potência, praticamente qualquer tipo da série IRF pode ser usado.
A conexão ao fly-back em prova é feita por meio de dois fios com garras. Estes fios não devem ter mais de 30 cm de comprimento (para que não ocorram perdas).
O capacitor C3 tanto pode ser de poliéster metalizado como cerâmico, e seu valor não é crítico podendo estar na faixa de 150 a 270 nF.
Na figura 6 temos uma sugestão de caixa para a montagem, observando-se que os únicos ajustes externos são da frequência de operação e liga/desliga. Se o montador utilizar um potenciômetro com chave pode reunir estas duas funções num único controle.
PROVA E USO
O teste de funcionamento é feito com um fly-back comum e já corresponde ao modo de se usar: enrolamos de 4 a 8 voltas de fio comum encapado na parte inferior do núcleo do fly-back em teste conforme mostra a figura 7.
Acionando a chave que liga o provador e ao mesmo tempo ajustando P1 vamos ouvir um zumbido no fly-back e aproximando uma chave de fendas da maneira indicada na figura deveremos ter a produção da faísca de alta tensão entre 0,4 e 1 cm aproximadamente.
Se isso ocorrer sem que vejamos faiscamento entre os diversos enrolamentos, e sem que ocorram instabilidades com ruídos indicando faiscamentos internos, então o fly-back estará em bom estado.
Se não houver faiscamento algum então estaremos diante de um fly-back com enrolamento aberto.
A verificação adicional para este componente pode ser feita com o próprio multímetro, testando-se a continuidade dos enrolamentos de menor tensão.
Em alguns casos a limpeza do fly-back com a remoção da sujeira acumulada pode resolver problemas de faiscamentos ou fugas de alta tensão. No entanto, as fugas e faiscamentos que ocorrem durante muito tempo acabam por queimar o local, formando uma trajetória carbonizada para a corrente de fuga e que inutiliza o componente. Em outras palavras, se no local do faiscamento o isolamento já estiver queimado dificilmente o componente pode ser recuperado.
Para usar basta então enrolar a bobina de prova, acionar o aparelho e verificar tanto a alta tensão como eventuais fugas entre os enrolamentos.
Semicondutores:
CI-1 - 7812 - circuito integrado regulador de tensão
CI-2 - 555 - circuito integrado - timer
Q1 - BD137 ou equivalente - transistor NPN de média potência
Q2 - TIP47 ou equivalente - ver texto - transistor NPN de alta potência e alta tensão (saída horizontal)
D1, D2 - 1N4004 ou equivalentes - diodos de silício
LED - LED vermelho comum
Resistores: (1/8 W, 5%)
R1 - 4,7 k ?
R2, R3 - 10 k ?
R4 - 10 k ?
R5 - 1 ? x 5 W - fio
P1 - 100 k ? - potenciômetro comum (com ou sem chave)
Capacitores:
C1 - 1 000 µF/25 V - eletrolítico
C2 - 100 µF/ 16 V - eletrolítico
C3 - 22 nF - cerâmico ou poliéster
Diversos:
T1 - Transformador com primário de acordo com a rede local e secundário de 12+12V ou 15+15V e corrente de 1 a 2 A.
S1 - Interruptor simples
F1 - 2A - fusível
G1, G2 - Garras jacaré
Placa de circuito impresso, radiadores de calor para o circuito integrado e Q2, suporte para o fusível, soquete para o CI-2, cabo de alimentação, caixa plástica para montagem, fios, solda, etc.