O multímetro é o instrumento de maior utilidade em qualquer oficina de reparação. Assim, conforme abordamos em outros artigos, todo o técnico que se estabelece profissionalmente precisa ter um de boa qualidade. O multímetro ideal para os trabalhos de reparação deve possuir pelo menos 3 escalas de corrente, 5 de tensões contínuas e alternadas e pelo menos 3 escalas de resistências.
Hoje contamos com os tipos digitais também a custo acessível. No entanto, para certos testes e reparação ainda é conveniente ter um bom multímetro analógico na oficina.
A sensibilidade do multímetro ideal deve ser superior a 10.000 ohms por volt, e quanto maior for este valor, melhor será a qualidade do instrumento.
Existem bons instrumentos, inclusive de fabricação nacional, que podem ser adquiridos com as características exigidas para um trabalho profissional. (figura 1)
O primeiro passo que todo o técnico deve dar ao conseguir seu multímetro é aprender a usá-lo. Para isso, deve verificar em seu manual todos os procedimentos para as diversas medidas.
Um ponto muito importante para garantir a integridade do instrumento e procurar sempre saber o que vai medir.
Cuidado! Nunca confunda as unidades como tensão e corrente, pois isso pode levar a sérios desastres.
Um desastre comum e a experiência que muitos técnicos fazem de medir a “corrente“ da rede de alimentação, ligando as pontas de prova diretamente na tomada com o instrumento ajustado para a escala de mA (corrente).
Isso causa a queima instantânea do aparelho, pois na rede o que temos e tensão e não corrente. A corrente é estabelecida pela carga, que é o instrumento, e como sua resistência é muito baixa na escala de mA a queima e imediata, pois a corrente será muito alta.
Para medir a rede, ou seja, verificar se há tensão, a escala usada é a de volts de corrente alternada (VCA), com fundo de pelo menos 250. Assim, o valor 110 será 110 V ou 220 V, conforme a rede.
Devemos então dar algumas noções iniciais sobre as unidades elétricas que o multímetro mede e seus significados:
a) Volt: é a unidade de tensão, abreviada por V. A medida de tensão é a mais realizada nos circuitos eletrônicos ligados, sendo feita conforme mostra a figura 2.
Encontramos as pontas de prova entre os pontos em que queremos saber a tensão ou diferença de potencial. Se a tensão medida for continua, a polaridade das pontas de prova deve ser observada. A ponta vermelha deve ser colocada no ponto de tensão mais alto ou positivo.
A ponta preta vai ao ponto de menor potencial ou negativo, que também pode ser o chassi do aparelho. Se a tensão for alternada, não será preciso observar a polaridade. O multímetro deve ser ajustado de acordo com a tensão medida.
b) Ohm: é a unidade de resistência, abreviada por ohms (ômega - ?), que é uma letra do alfabeto grego.
A medida da resistência é feita sempre com o aparelho desligado e a polaridade deve ser observada no caso de certos componentes como diodos e transistores.
Com a medida da resistência normalmente se faz a prova de componentes como os resistores, bobinas, capacitores, transformadores, etc. Nos circuitos eletrônicos encontramos resistências tão baixas como 1 ohm ou tão altas como 10.000.000 de ohms.
Na figura 3 mostramos como proceder para a medida de uma resistência.
c) Ampère: é a unidade de corrente, abreviada por A. A medida da corrente não é muito comum nos testes de aparelhos eletrônicos, e a sua realização exige alguns cuidados especiais como a interrupção do circuito, conforme mostra a figura 4.
Dificilmente se mede a corrente num componente de circuito. O mais comum é a medida da corrente de fontes de alimentação.
Medidas de corrente
A medida da corrente de uma fonte de alimentação, ou da corrente de repouso de uma etapa de saída de um amplificador de áudio e algo que o técnico deve saber fazer.
Para isso, deve ser usado o multímetro na escala apropriada de corrente. Observamos que, de todas as medidas, a que exige mais cuidados é justamente esta, pois qualquer descuido leva à queima do multímetro.
O multímetro deve inicialmente ser colocado na escala mais alta de corrente.
Depois, antes de ligá-lo ao aparelho, devemos fazer uma prova isolado do equipamento no qual vamos medir a corrente para saber se ele não está em curto.
Se ligarmos um amplificador e seus transistores de saída aquecerem demais instantaneamente ou resistores fumegarem é sinal que está havendo excesso de corrente em algum ponto. Se tentarmos medir esta corrente ela pode causar a queima do instrumento. (figura 5)
Uma vez constatada que a corrente está próxima do normal, ou seja, não ha sina de curto ou excesso, podemos pensar na sua medida.
Na figura 6 vemos o modo de ligação do multímetro na escala de corrente em série com a alimentação de um amplificador.
O trimpot entre as bases dos transistores de saída deste amplificador deve então ser ajustado para a corrente de repouso recomendada pelo projetista. O ajuste deve ser feito com muito cuidado para se evitar problemas com o multímetro.
Por segurança, um bom procedimento é a ligação em série de um fusível rápido com a capacidade igual à do fundo da escala do instrumento, ou seja, em torno de 500 mA.
Na figura 7 damos o procedimento para medir a corrente de uma fonte de alimentação pequena, que alimenta uma certa carga cuja corrente queremos saber.
É claro que antes você deve ter ideia da corrente que está sendo fornecida pela fonte para que não haja perigo de sobrecarregar o instrumento. Os multímetros comuns têm escalas máximas de corrente em torno de 500 a 600 mA, o que está abaixo do valor da corrente máxima de certas fontes.
Medida segura de correntes
Para os casos em que não temos certeza da intensidade da corrente que queremos medir e ela pode atingir valor elevado, acima de 1 A, existe um método seguro que protege de certo modo o instrumento contra sobrecargas.
Este método consiste em se medir a tensão sobre um resistor de valor conhecido e pela aplicação de uma fórmula simples (lei de Ohm) calculamos a corrente.
Na figura 8 mostramos como isso deve ser feito.
O resistor usado pode ser de 1 ohm no máximo, mas valores como 0,1 ohm são recomendados se a fonte for de menos de 12 volts.
A tolerância do resistor deve ser a mais baixa possível, 2% ou 5% se possível, pois dela dependerá a precisão da medida.
O que fazemos então é medir a tensão sobre o resistor. Para 1 ohm, cada volt medido vale 1 ampère, pois:
I = V/R e R=1 ohm
Para 0,1 ohm, cada 0,1 volt vale 1 ampère, pois:
I = V/R e R=0,1 ohm
Veja então que, com este procedimento, toda a corrente praticamente circula pelo resistor, de modo que, se houver algum problema de excesso de corrente, é este componente que vai suportar e o multímetro fica mais seguro.
Colocando o multímetro na escala de 0-5 volts, por exemplo, podemos medir correntes até 5 A.
Com relação à influência do resistor no circuito, para apenas 1 A numa fonte de 20 volts, provoca uma queda de 1/20 ou 5% sendo esta a alteração provocada no circuito, a qual, para efeitos práticos, não é significativa.
Vale mais a segurança do que a precisão absoluta neste caso!