Existem projetos que podem ser feitos de tantas maneiras que num único artigo seria impossível abordá-los em todas as suas variações. Os que sabem corno fazer isso tem a coincidência de que seria preciso algo mais do que poucas páginas que dispomos, para abordar infinitas variações em torno do que se deseja, do que se dispõe e das sofisticações com que cada um pode contar. Os amplificadores telefônicos incluem-se nesta categoria de projetos. Desta forma, o que fazemos neste artigo, é dar três projetos em níveis diferentes de desempenho, com componentes que oferecem ao leitor a possibilidade de obtenção fácil, em função do comércio de sua localidade e alimentações que vão desde 2 pilhas pequenas até uma bateria de 9 V ou 6 pilhas pequenas.

 

Nota: Este artigo é da revista Eletrônica Total 24 de 1992. Os circuitos só funcionam com sinais analógicos.

 

A escuta de uma conversa telefônica por diversas pessoas pode ser interessante em diversas ocasiões. Um contato em família com parente distante torna-se muito mais agradável se todos que estiverem no local, naquele momento, puderem acompanhar o diálogo.

Para esta finalidade podemos acoplar aos aparelhos telefônicos amplificadores que reproduzem os sons dos dois microfones (estação local e remota), num alto-falante. Existem diversas possibilidades de fazermos o acoplamento do sistema telefônico a um amplificador!

a) Acoplamento direto: neste caso, a linha pode ser conectada diretamente à entrada de um amplificador. O amplificador deve ter um bom ganho e o problema principal encontrado nesta configuração é o não isolamento do circuito amplificador da linha telefônica, (figura 1).

b) Acoplamento por transformador: caso em que a entrada do amplificador é isolada da linha telefônica por meio de um transformador que também serve para casar as impedâncias e proporcionar maior rendimento ao sistema.

 

Fig. 1 Ligação direta de amplificador comum à linha telefônico.
Fig. 1 - Ligação direta de amplificador comum à linha telefônico.

 

 

c) Acoplamento indutivo: este acoplamento é obtido aproximando-se uma bobina captadora (também conhecida por "maricota" pelos radioamadores) do telefone. Esta bobina capta indutivamente os sinais que são jogados na entrada de um amplificador, (figura 2).

O principal problema deste tipo de acoplamento é que o amplificador tem de trabalhar com um ganho muito alto e a bobina se torna sensível à captação de zumbidos. Seu posicionamento no telefone também é algo crítico.

 

d) Acoplamento óptico: esta é a outra técnica que faz uso de um foto-emissor, um LED que é modulado pelo sinal telefônico e que tem sua luz excitando um fototransistor ligado a um amplificador. Bom isolamento é obtido, mas o ganho do amplificador tem de ser elevado.

 

 


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No nosso projeto usaremos a técnica do acoplamento ao transformador. O primeiro projeto se baseia no LM386 e trabalha com alimentação de 9 V, proporcionando excelente potência e sensibilidade. Para uma versão com pouco menos de potência, mas com a vantagem da alimentação por 6 volts, temos o TDA7052. A escolha de um outro circuito, dentre estes dois primeiros deve ser feita mais em relação à disponibilidade dos circuitos integrados em sua localidade.

Para uma versão menor, de mais fácil construção com transistores temos o circuito final com alimentação de 3 ou de 6 volts. Esta é uma versão especialmente indicada para os iniciantes.

 

CARACTERÍSTICAS

a) Circuito 1

• Integrado: LM386

• Alimentação: 9 Volts

• Carga: 4 ou 8 S2

• Potência: 1 watt a 1,5 watt b) Circuito 2

• Integrado TDA7052

• Alimentação 6 volts • Carga: 85?

• Potência: 1 watt c) Circuito 3

• Transistores: BC558/BC548

• Alimentação: 3 ou 6 volts

• Potência: 50 mW a 100 mW

 

COMO FUNCIONA

O acoplamento do sinal de áudio da linha telefônica ao circuito é feito da mesma maneira nos três projetos que apresentamos. Temos um amplificador de saída de áudio comum em que o enrolamento de baixa impedância é ligado em série com a linha telefônica de modo a não prejudicar a passagem do sinal normal, dada justamente a esta baixa impedância.

Do enrolamento de alta impedância do transformador o sinal de áudio passa pelo controle de volume que consiste num potenciômetro comum cujo valor depende do circuito escolhido. O potenciômetro fundaria como um divisor de tensão convencional. O sinal do cursor do potenciômetro vai então para a entrada do circuito amplificador e aqui temos as três variações possíveis.

No caso do LM386, o integrado precisa de uma alimentação mínima de 9 volts que preferivelmente deve vir de pilhas comuns e não de bateria, dado o consumo de corrente na máxima potência. Este amplificador tem excelente ganho e usa poucos componentes externos.

A saída ao alto-falante é feita via um capacitar eletrolítico de acoplamento e o resistor, em série com o capacitar na saída C2 e R1 faz a equalização de modo a termos mesma impedância em toda faixa de frequências de operação.

Este circuito admite na saída alto-falante de 4, 8 ou mesmo 20 ohms. O consumo de corrente, e, portanto, o rendimento, serão maiores com impedâncias menores. Para o TDA7052 temos o menor número de componentes externos, na verdade, apenas o alto-falante. Este integrado opera com apenas 6 volts de alimentação e fornece 1 watt de saída em carga de 8 Ω. Não devemos usar um alto-falante de impedância menor.

Finalmente, para terceiro projeto temos uma versão muito simples, com apenas dois transistores e que até pode ser montada em ponte de terminais.

Esta versão pode ser alimentada com 3 ou 6 volts e o resistor R1 determina o ganho do circuito. Devemos escolher o maior valor que dê maior volume de som sem distorção. Valores na faixa de 330 kΩ até 2,2 MΩ podem ser experimentados. Nas três versões, é conseguido maior rendimento quando usamos um alto-falante com pelo menos 10 cm de diâmetro, instalando numa pequena caixa acústica. A unidade pode então ser montada de maneira indicada na figura 3.

 

Fig. 3 — Sugestão de caixa e ligação a linha.
Fig. 3 — Sugestão de caixa e ligação a linha. | Clique na imagem para ampliar |

 

 

MONTAGEM

Na figura 4 temos o diagrama completo do projeto n° 1 usando o LM386.

 

Fig. 4 – Diagrama esquemático do primeiro amplificador.
Fig. 4 – Diagrama esquemático do primeiro amplificador. | Clique na imagem para ampliar |

 

 

A disposição dos componentes numa placa de circuito impresso é mostrada na figura 5, (Veja foto).

 

Fig. 5 Placa de circuito impresso do primeiro amplificador.
Fig. 5 Placa de circuito impresso do primeiro amplificador.

 

 

O transformador é o único dos componentes mais crítico. Mas, podemos usar qualquer pequeno transformador de saída para transistores com uma impedância baixa de secundário (4, 8 ou 26 Ω) e que será ligado à linha telefônica e uma impedância de primário de 200 Ω a 2 kΩ.

Até mesmo pequenos transformadores de alimentação com primário de 110 V e secundário de 5 a 12 V, com correntes de 50 mA até 250 mA, podem ser experimentados, pois a finalidade aqui e proporcionar uni casamento de impedâncias. Os capacitores eletrolíticos devem ter tensões de trabalho de 12 Vou mais e os demais capacitores tanto podem ser cerâmicos como de poliéster. O controle de volume também não é crítico, podendo PI ter valores entre 1 KΩ e 10 K Ω.

Para conexão da linha ao amplificador, sugerimos o uso de uma tomada e um plugue telefônico convencional, de modo a podermos fazer um adaptador conforme mostra a figura 6.

 

 

Fig. 6 Tomada e plugue telefônico usados no projeto.
Fig. 6 Tomada e plugue telefônico usados no projeto.

 

 

O interruptor eventualmente pode estar incorporado ao controle de volume. Não recomendamos o uso de bateria de 9 V, neste projeto, pois dada a potência do amplificador seu desgaste será muito rápido. O melhor será usar 6 pilhas médias ou mesmo grandes. Outra possibilidade consiste no uso de pequena fonte de alimentação com pelo menos 200 mA de capacidade de corrente.

 

Fig. 7 – Diagrama esquemático do segundo amplificador.
Fig. 7 – Diagrama esquemático do segundo amplificador. | Clique na imagem para ampliar |

 

 

O segundo projeto, que usa o TDA7052 é mostrado na figura 7. A disposição dos componentes numa placa de circuito impresso é mostrada na figura 8.

 

Fig. 8 Placa de circuito impresso do segundo amplificador.
Fig. 8 Placa de circuito impresso do segundo amplificador.

 

 

O transformador é o mesmo do projeto anterior, e o eletrolítico pode ter uma tensão de trabalho de 6 V ou mais. C1 tanto pode ser cerâmico como poliéster. P1 pode incluir o interruptor geral e seu valor também não é crítico, podendo ficar entre 10 kΩ e 47 kΩ.

 

 

 

Fig. 9 — Diagrama esquemático do terceiro circuito.
Fig. 9 — Diagrama esquemático do terceiro circuito. | Clique na imagem para ampliar |

 

 

Fig. 10 — Montagem em ponte de terminais do terceiro circuito.
Fig. 10 — Montagem em ponte de terminais do terceiro circuito. | Clique na imagem para ampliar |

 

 

Para alimentação podem ser usadas 4 pilhas pequenas, médias ou grandes. O terceiro projeto, que usa transistores, tem o diagrama mostrado na figura 9.

A disposição dos componentes numa ponte de terminais bem como, em placa de circuito impresso é mostrada na figura 10 e 11 respectivamente. O resistor é de 1/8 W e o transformador é o mesmo das montagens anteriores. Os transistores admitem equivalentes e a alimentação tanto pode ser feita com duas como com quatro pilhas pequenas. O capacitor eletrolítico deve ter uma tensão de trabalho de pelo menos 6 volts.

 

PROVA E USO

Para provar o aparelho basta intercalá-lo na linha telefônica, conectando sua entrada ao plugue da linha e sua saída ao telefone. Feito isso, faça uma ligação e ajuste P1 para a melhor reprodução. Na terceira versão talvez seja necessário alterar R1 para melhor rendimento em função dos ganhos dos transistores usados que podem ter variações de unidade para unidade.

Comprovado o funcionamento, não será necessário retirar da linha a unidade quando o telefone estiver em uso sem o amplificador ligado. Para usá-lo bastará ligar seu interruptor e ajustar o volume da maneira desejada. O volume não deve ultrapassar o ponto em que ocorra a microfonia, ou seja, um forte apito devido á realimentação acústica. Este problema poderá ser minimizado se afastarmos o fone do telefone e o alto-falante do amplificador. Em uso, eles devem ficar pelo menos 1 metro afastados. Outra possibilidade é virar o alto-falante para longe do fone.

Se ocorrerem roncos, inverta a ligação dos fios X1, ou seja, tire o acoplamento do transformador do fio que passa direto na ligação original.

 

Fig. 11 Placa de circuito impresso do terceiro amplificador.
Fig. 11 Placa de circuito impresso do terceiro amplificador.

 

 

CASAMENTO DE IMPEDÂNCIA

Quando temos uma fonte de sinal como por exemplo, um microfone, uma cabeça gravadora, um pré-amplificador ou uma linha telefônica, a maneira como esta fonte fornece seu sinal é caracterizada por uma grandeza denominada impedância e é medida em ohms. Tanto os circuitos que fornecem sinais como os que recebem, possuem uma impedância própria: num caso temos a impedância de saída e no outro temos a impedância de entrada. Para que o sinal de um circuito passe totalmente para outro, sem perdas, é preciso que suas impedâncias sejam iguais, ou seja, que elas sejam "casadas".

A linha telefônica por exemplo, tem uma impedância baixa, enquanto a entrada de um amplificador é de alta impedância. Se quisermos ter um bom rendimento na transferência de um sinal de um para outro, como neste projeto, precisamos "casar" as impedâncias. Existem muitas maneiras de se mudar a impedância de um sinal, mas a mais simples é a usada neste projeto que consiste no uso de um transformador: de um lado temos o enrolamento de baixa impedância que "casa" com a linha telefônica e do outro de alta impedância que "casa" com a entrada do amplificador.

 

 

 


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