Para os leitores que gostam de novidades, principalmente no campo da rádio recepção, eis mais uma montagem experimental: um receptor que possui uma etapa amplificadora transistorizada, mas cuja fonte de energia vem do próprio espaço! Como tudo isso é possível? Vejo no artigo.
Os receptores do tipo "galena" ou "cristal" se caracterizam por não possuírem etapas de amplificação: todo o sinal que se obtém no fone depende do sinal de rádio que é captado pela antena. Assim, o rendimento deste tipo de rádio está na dependência direta da eficiência e da proximidade da antena.
Como fazer então para captar as estações mais fracas?
O advento do transistor possibilitou a amplificação dos sinais, mas os transistores precisam de energia e esta pode ter diversas origens, como por exemplo as pilhas e, de forma mais curiosa, células solares, geradores experimentais, etc., os quais já descrevemos em diversos artigos.
Uma fonte de energia que não exploramos é a que vem pelo próprio espaço e que consiste nos sinais das estações mais fortes. Assim, podemos usar o sinal de uma estação forte para alimentar um transistor, que amplificará os sinais das estações mais fracas!
Nosso projeto experimental pode ser implementado com uma ou duas antenas e pode servir de ponto de partida para interessantes descobertas.
COMO FUNCIONA
O que fazemos é dispor, a partir de uma ou duas antenas, de dois sinais: um que corresponde à estação mais forte e é selecionado em L2 e CV2, servindo para se obter uma pequeníssima tensão que, filtrada por C2, serve para alimentar o transistor Q1 que funciona como amplificador; o outro, que corresponde à estação que desejamos ouvir, é detectado por Dl após sintonia em CV1 e L1, e levado à entrada do transistor, onde é amplificado.
Como a tensão que se obtém da detecção por D2 e filtragem por C2 é muito baixa, só podemos ter algum sucesso com este tipo de circuito se o transistor for de germânio. Usamos o 2S B175, mas equivalentes, como o 2S B54, podem ser experimentados.
O fone também deve ser muito sensível, dando-se preferência para os tipos de cristal, pois outros, como os de baixa impedância encontrados em walkman e mesmo em alguns rádios, não serão excitados, e, portanto, não haverá som algum.
A antena deve ser bem longa, com pelo menos 10 metros de comprimento, e a ligação à terra deve ser muito eficiente, podendo ser o polo neutro da tornada ou qualquer objeto de porte em contato com o solo.
MONTAGEM
Na figura 1 damos o diagrama completo do nosso rádio.
A montagem, que pode ser realizada em uma ponte de terminais, é mostrada na figura 2.
As bobinas são iguais, exceto pela tornada, consistindo em 80 a 100 voltas de fio esmaltado 28 ou mais grosso. A tomada de L1 é feita na 40ª espira.
O variável é de uma seção, podendo ser aproveitado de rádios de ondas, médias com capacitância entre 175 e 410pF.
Os diodos devem ser de germânio, como o 1 N34, 1 N54, 1 N60 etc. Não devem ser usados tipos de silício, como o 1N4148 ou 1N914.
Os capacitores são cerâmicos, de poliéster ou styroflex, e os resistores são de 1/8W. Para o transistor é importante observar a posição de ligação: o coletor é identificado por uma pinta ou marca triangular.
PROVA E USO
Ligue o aparelho a uma boa antena externa (ou duas, sendo uma para L1/CV1 e outra para L2/CV2).
Sintonize primeiramente uma estação em CV1 e depois ajuste CV2 para obter maior volume. Esse maior volume vem justamente da amplificação do transistor, que ocorre com a captação de sinal por CV2 e L2.
Q1 — 2SI375 ou 2SB 175 — transistor PNP de germânio
D1, D2 — 1N34 ou 1N60 — diodos de germânio
L1, L2 — bobinas de antena — ver texto
CV1, CV2 variáveis para ondas médias
C1, C2 — 100nF capacitores cerâmicos ou de poliéster
C3 — 220nF ou 330nF capacitor cerâmico ou de poliéster
R1 — 1M a 2M2 resistor
R2 — 22k a 47k — resistor;
J1 — jaque para a ligação do fone
Diversos: bastões de ferrite, fone de cristal, fios, solda, antena, ponte de terminais etc.