Procedimentos

Existem alguns procedimentos básicos na análise de equipamentos eletrônicos que valem para qualquer tipo de aparelho eletrônico. Estes procedimentos são usados na análise dos equipamentos, na utilização de instrumentos e na detecção de falhas de componentes.

É conveniente que o leitor se familiarize com estes procedimentos, se pretende adquirir prática maior na reparação. Caso contrário, poderá consultá-los apenas no momento de dúvidas ou quando precisar deles.

Evidentemente, os procedimentos descritos neste livro não são definitivos, e até admitem variações. A maneira de os expormos aqui é função da necessidade de transmitirmos um conhecimento imediato para a solução de problemas que possam ocorrer com um aparelho que não funcione da maneira esperada.

 

(53) ANÁLISE POR ETAPAS

Para facilitar a análise de qualquer aparelho eletrônico fazemos sua divisão por setores ou etapas. Cada setor ou etapa reúne um certo número de componentes de funcionamento mais ou menos independente e exerce uma certa função dentro de um aparelho eletrônico. Conhecendo a função da etapa fica mais fácil descobrir quando alguma coisa anormal ocorre com o funcionamento do aparelho.

Na próxima figura temos um rádio comum transistorizado com pontos de análise dos sinais. Cada transistor corresponde a uma etapa. Do ponto 1 ao 8 temos sinais de RF e do 8 ao 16 temos sinais de áudio.

 


 

 

 

O componente central de uma etapa normalmente é um ou mais transistores ou então um circuito integrado. Em torno deste elemento ligam-se resistores, capacitores, diodos, transformadores e outros componentes que podem ter as seguintes funções:

 

a) Acoplar os sinais, ou seja, permitir a passagem do sinal de uma etapa para outra como, por exemplo, transformadores e capacitores.

 

b) Polarizar a etapa, ou seja, fornecer tensões contínuas aos diversos elementos ativos como transistores e circuitos integrados. Os resistores são os componentes mais usados nesta função.

 

c) Desacoplar sinais, ou seja, desviar sinais indesejáveis para a terra, sendo usados normalmente capacitores para esta finalidade.

 

Quando nos referirmos a uma etapa de um aparelho isso significar  um determinado setor de um equipamento que pode exercer uma das seguintes funções:

 

* Fonte de alimentação - sendo formada por componentes como um transformador (nem sempre presente), diodos retificadores, capacitores, resistores e eventualmente transistores, diodos zener e circuitos integrados reguladores de tensão. Nas fontes chaveadas, como as usadas em computadores, podemos encontrar osciladores com FETs, SCRs e outros componentes.

* Pré-amplificador de áudio - consistindo em um ou mais transistores, resistores de polarização, capacitores que operam com sinais de baixas frequências e dependendo do aparelho, circuitos integrados especiais para esta função.

* Driver ou impulsor de áudio - consistindo em transistores, transformadores, capacitores e resistores que "empurram" o sinal de áudio amplificado para a saída de rádios, amplificadores e outros aparelhos. Esta função pode ser encontrada em circuitos integrados juntamente com outras.

* Saída de áudio - é a etapa imediatamente anterior ao fone de ouvido ou alto-falante de qualquer aparelho que tenha estes elementos. Pode ser formada por um ou mais transistores ou ainda um circuito integrado.

* Oscilador de RF ou misturador - etapa que é encontrada em rádios AM e FM e opera com transistores de altas frequências além de bobinas e capacitores comuns e variáveis além de resistores. Em muitos rádios esta etapa está incorporada a um circuito integrado.

* Amplificador de FI ou frequência intermediária - etapa que amplifica sinais de altas frequências tendo por base transistores e em alguns casos circuitos integrados, bobinas de FI, filtros cerâmicos e componentes comuns como resistores, capacitores, etc.

* Detector - ponto de um receptor de rádio onde deixa de existir o sinal de alta frequência para se encontrar apenas sinais de baixas freqüências ou áudio. Normalmente esta função é executada por um diodo semicondutor como elemento básico.

* Amplificador de vídeo - setor que usa transistores ou circuitos integrados e tem por função amplificador sinais que levam informações sobre a imagem a ser reproduzida num televisor ou num monitor de vídeo de computador.

* Amplificador de CC ou corrente contínua - etapa que emprega transistores ou ainda circuitos integrados que amplificam correntes contínuas.

* Inversor - oscilador de baixa freqüência que gera um sinal que, aplicado a um transformador, dá origem a uma alta tensão para alimentação de diversos equipamentos ou etapas. É encontrado nos flashes eletrônicos, no-brakes de computadores, fontes chaveadas de computadores e outros equipamentos, ignições eletrônicas, etc.

* Etapas lógicas - usam circuitos integrados especiais CMOS ou TTL e operam apenas com dois níveis de tensão (alto e baixo). Encontramos esta etapa em computadores, instrumentos digitais, calculadoras, etc.

 

Todas as etapas possuem, entradas e saídas que devem ser identificadas na análise de um equipamento. Para as etapas transistorizadas temos três possibilidades de acordo com a configuração em que estão ligados os transistores:

 

* Emissor comum - o sinal entra pela base do transistor e sai pelo coletor.

* Base comum - o sinal entra pelo emissor e sai pelo coletor.

* Coletor comum - o sinal entra pela base e sai pelo emissor.

 

Para as válvulas os elementos equivalentes são: grade = base; anodo = coletor; catodo = emissor.

Muitos circuitos integrados formam sistemas completos com diversas etapas possuindo assim uma entrada e uma saída, ou ainda diversas entradas e diversas saídas.

Temos como exemplo disso, circuitos integrados de amplificadores de áudio que contém amplificadores completos. Estes circuitos têm uma entrada ligada a uma etapa pré-amplificadora que está ligada internamente a uma etapa impulsora e que, por sua vez está ligada a etapa de saída, onde encontramos a saída que vai ser ligada a um fone ou alto-falante.

Diversos pinos adicionais correspondem à alimentação, elementos de polarização e desacoplamento além de outras funções.

Temos ainda amplificadores “classe D” que usam circuitos integrados muito complexos contendo até microprocessadores para programação de ganho, controle externos e muito mais que funcionam segundo princípios completamente diferentes.

Também existem os chamados "acoplamentos" diretos ou "Darlingtons" onde não existe uma separação entre as etapas pois elas estão interligadas por um fio comum. De qualquer maneira, sempre temos uma entrada e uma saída para o sinal.

A análise de uma etapa inclui dois tipos de procedimentos:

 

* Verificar se o sinal passa pela etapa e recebe o processamento esperado ou então se a etapa gera o sinal esperado.

* Medir tensões nos diversos elementos da etapa para verificar se estão corretas.

 

(54) USO DO INJETOR DE SINAIS

O injetor de sinais gera um sinal de áudio e RF que pode ser aplicado nas etapas de um aparelho para verificar seu funcionamento. O sinal aplicado na entrada de uma etapa amplificadora deve sair amplificado desta etapa.

Na figura 89 temos os pontos típicos de aplicação do sinal do injetor num rádio comum transistorizado, observando-se que aplicamos inicialmente no controle de volume que divide o aparelho em dois setores: áudio e RF.

Se houver reprodução do sinal, vamos em direção à entrada de RF ou antena. Se não houver reprodução vamos deslocando a pesquisa em direção ao alto-falante. No ponto em que o sinal deixa de ser reproduzido temos a etapa com problemas.

A conexão do injetor ao aparelho é feita ligando-se a garra jacaré ao negativo da fonte ou massa do aparelho analisado e tocando-se a ponta nos locais em que o sinal deve ser injetado. Deve haver a reprodução de um som contínuo no alto-falante ou fone com a injeção do sinal. A intensidade do sinal aumenta quando percorremos o receptor de rádio ou aparelho de som a partir do alto-falante em direção à entrada.

 

(55) SEGUIDOR DE SINAIS

Um seguidor de sinais nada mais é do que um amplificador que possua duas entradas ou uma entrada que pode ter suas funções comutadas por uma chave. Numa posição o amplificador é capaz de amplificar sinais de baixa frequência (áudio ou BF) e na outra posição o amplificador conecta um diodo detector para poder trabalhar com sinais de altas frequências ou RF.

 

Os sinais de uma etapa de áudio
Os sinais de uma etapa de áudio

 

 

O seguidor é usado para acompanhar ou seguir os sinais nas diversas etapas de um aparelho, constatando-se assim sua presença. Se o sinal estiver ausente num determinado ponto em que o esperamos, então chegamos ao local ou etapa em que se manifesta o problema.

O sinal seguido pelo seguidor tanto pode ser uma estação sintonizada se for um rádio como uma fita, disco ou CD se for um gravador, CD player ou walkman. Também podemos usar o injetor de sinais como fonte de sinal, ligando-o à entrada do aparelho analisado e acompanhando o sinal com o seguidor.

A ligação do seguidor de sinais a um aparelho é simples: o cabo de terra ou garra é ligada ao negativo da fonte de alimentação que pode ser o suporte de pilhas ou chassi de metal ou ainda a malha de algum cabo de entrada ou saída de sinais.

A ponta de prova é então tocada nos pontos em que esperamos encontrar sinais como, por exemplo, nas entradas e saídas de cada etapa. Veja que, para usar um seguidor de sinais, é preciso saber identificar a entrada e saída dos sinais de cada etapa.

Ao acompanhar um sinal da entrada de um amplificador ou etapas de sintonia de um rádio em direção ao alto-falante, o sinal deve ir ficando cada vez mais forte. A redução gradual do ganho ou sensibilidade do seguidor é‚ feita para compensar a intensidade do sinal encontrado. Assim, começamos com máximo ganho e vamos reduzindo este ganho à medida que vamos nos aproximando do alto-falante ou fone.

Se, em determinado ponto, houver uma queda brusca do nível do sinal, distorção ou seu desaparecimento então teremos chegado ao local em que existe algum tipo de problema.

Ao analisar etapas de RF como, por exemplo, misturadores, osciladores de rádios, receivers, etapas de FI, pequenos transmissores, devemos usar o seguidor na posição de RF. Ao analisar etapas depois de um detector de rádios como, por exemplo, nos amplificadores, etapas de saída de áudio, pré-amplificadores, drivers, etc., devemos usar o seguidor na posição de áudio ou BF.

A maioria dos seguidores é alimentada por pilhas o que os torna portáteis e imunes a roncos que normalmente são provocados por fontes de alimentação.

 

(56) MEDIDAS DE TENSÃO

Em muitos trabalhos de análise ou reparação de equipamentos precisamos fazer medidas de tensão com um multímetro. Nos diagramas e nas indicações de reparos, as tensões são referidas em relação à massa, terra ou chassi do aparelho.

Assim, temos duas possibilidades de medida de tensões nos aparelhos eletrônicos:

 

a) Tensões alternadas

Estas são encontradas principalmente nos circuitos de entrada de aparelhos alimentados pela rede de energia e nos secundários de transformadores que tenham os primários alimentados pela rede local, como, por exemplo, em fontes de alimentação. Também encontramos estas tensões nos secundários dos transformadores de fontes chaveadas como as encontradas em computadores.

Para estas medidas o multímetro deve ser ajustado para operar na escala AC volts apropriada. O limite da escala pode ser 250 V ou 300 V se vamos medir tensões na rede de 110 V ou 220 V. Nos secundários dos transformadores de baixa tensão, por exemplo, podemos usar uma escala de 25 ou 30 V.

No secundário de transformadores de inversores como os encontrados em No-brakes de computadores, ignições eletrônicas, inversores para lâmpadas fluorescentes e outros, também encontramos tensões alternadas que podem chegar a valores muito altos, da ordem de 600 a 800 volts.

No entanto em alguns destes circuitos, ao medir a tensão com o multímetro podemos não obter o valor real da tensão lá existente. A simples ligação do instrumento para medir a tensão num circuito de alta impedância faz com que ela caia enormemente de valor e a leitura ser  um valor muito abaixo do normal.

A própria forma de onda da tensão nestes circuitos não é a mesma da rede de energia (senoidal), o que faz com que o multímetro dê falsas indicações de valor nestes casos.

O multímetro, nesta medida, simplesmente para "dizer" se há ou não tensão e portanto se o circuito está funcionando, mas não serve para "dizer" se a tensão está correta.

 

b) Tensões contínuas

Estas são encontradas depois dos diodos retificadores das fontes de alimentação e em todos os circuitos alimentados por pilhas e baterias.

A exceção está nos circuitos de controles de potência que podem funcionar praticamente só com as tensões da rede, como os que usam SCRs e Triacs.

Para medir tensões contínuas colocamos o multímetro nas escalas DC volts apropriadas e conectamos a ponta de prova preta ao chassi, negativo da fonte ou negativo do suporte de pilhas. A ponta de prova vermelha é então ligada no ponto no qual desejamos saber a tensão.

Se numa medida deste tipo houver tendência do ponteiro de se movimentar para a esquerda, ou seja, indicar valores negativos, então invertemos as pontas (ou acionamos a chave de inversão) e consideramos os valores lidos no instrumento como tensões negativas (-2,3 volts, por exemplo).

Medidas de tensões em componentes que operem com regime de muito baixa corrente (alta impedância) como, por exemplo, resistores de valores altos (acima de 47 k ohms) tomadas com multímetros de pequena sensibilidade (menos de 5 k ohms por volt) podem sofrer alterações. Neste caso, teremos a indicação de uma tensão que pode estar abaixo do valor real, pois a introdução do instrumento no circuito altera a própria tensão que está sendo medida, fazendo-a cair.

Recomendação: a existência de tensão num circuito deve ser sempre verificada em primeiro lugar, ao analisarmos um equipamento com problemas. Se um aparelho não recebe alimentação (por deficiência da fonte) nenhuma das etapas funciona.

 

Detector de tensão:

Na figura 91 temos um circuito muito simples com LED que serve para indicar se existe ou não tensão contínua num aparelho analisado. Este circuito detecta tensões alternadas (dois LEDs acesos) ou tensões contínuas (um LED aceso) entre 2 e 12 volts.

 

Um simples indicador de tensão
Um simples indicador de tensão

 

 

Não use este circuito em aparelhos que trabalhem com tensões acima de 12 volts, ou em pontos em que a tensão seja desconhecida.

 

(57) "DEDO" INJETOR

Tocando com o dedo no fio de entrada de um amplificador temos a reprodução de um forte ronco. Isso ocorre porque nosso corpo funciona como uma espécie de "antena" que capta os 60 Hz da rede de energia, e, com o dedo, injetamos este sinal no amplificador. Havendo a reprodução deste sinal no fone ou alto-falante podemos saber que o aparelho se encontra bom.

Esse toque com os dedos na entrada de amplificadores pode ser usado na prova de funcionamento.

O som reproduzido deve ser forte e puro e em alguns casos pode até haver a "captação" de estações de rádio próximas, que são reproduzidas de forma "misturada".

Tocando com os dedos nas entradas das etapas de áudio também podemos verificar seu funcionamento pela presença do ronco. Ele será tanto mais forte quanto mais longe do alto-falante estiver a etapa, pois o sinal passa por mais etapas de amplificação até a saída.

 

(58) FONTE DE ALIMENTAÇÃO

Para reparar aparelhos que usam pilhas ou estão ligados no carro é conveniente dispor de uma fonte de alimentação. Esta fonte fornecerá a tensão contínua que o aparelho em teste precisa para funcionar e assim ser analisado com facilidade sem precisarmos dispor de pilhas ou uma bateria.

Uma fonte ideal para o trabalho de bancada deve fornecer tensões de 0 a 12 volts com corrente de pelo menos 1 A.

 

Uma ótima fonte para a bancada do reparador
Uma ótima fonte para a bancada do reparador

 

 

Fontes deste tipo podem ser adquiridas prontas ou então, se o leitor preferir, pode montá-las.

Na figura abaixo damos o circuito de uma dessas fontes, que serve para os trabalhos de bancada, exceto com amplificadores de carro, muito potentes e que exigem correntes elevadas.

 

Fonte 1,2 V a 24 V x 3 A
Fonte 1,2 V a 24 V x 3 A

 

 

A fonte é usada da seguinte maneira:

Ligamos o seu polo negativo ao negativo do suporte de pilhas do aparelho que deve ser alimentado ou ao fio que vai ao chassi (preto) se o aparelho for de uso no carro.

Ligamos o polo positivo da fonte ao positivo do suporte de pilhas ou ao polo positivo da alimentação (fio vermelho) se o ele for do tipo usado no carro.

Antes de ligar o aparelho em teste, ligamos a fonte e ajustamos sua saída para a tensão que o aparelho precisa para funcionar normalmente. Nunca faça o ajuste com o aparelho ligado!

Em caso de dúvidas quanto à tensão, se o aparelho for alimentado por pilhas veja a seguinte tabela:

1 pilha = 1,5 volt (qualquer tamanho)

2 pilhas = 3,0 volts ( qualquer tamanho)

3 pilhas = 4,5 volts (qualquer tamanho)

4 pilhas = 6,0 volts (qualquer tamanho)

6 pilhas = 9,0 volts (qualquer tamanho)

1 bateria = 9 volts

 

Se, ao ligar o aparelho na fonte for constatada uma queda brusca de tensão então:

 

a) O aparelho alimentado apresenta um problema de curto-circuito ou excesso de consumo. Se for do tipo alimentado por pilhas isso pode significar um consumo rápido das pilhas. Se for do tipo alimentado por bateria então pode ocorrer a situação indicada em (b).

 

b) O aparelho exige corrente maior do que a fonte usada no teste pode fornecer. Neste caso, precisaremos alimentá-lo com uma fonte de maior corrente (mais de 1 A) ou então diretamente a partir de uma bateria.

 

Se notar a queda de tensão brusca não devemos deixar o aparelho ligado. Desligue-o imediatamente, pois isso pode sobrecarregar a fonte de alimentação.

Algumas fontes de alimentação comerciais possuem proteção contra curto-circuito na saída. Desta forma, se houver algum problema de curto-circuito na saída para o aparelho alimentado, ou excesso de corrente ela estará protegida, desligando automaticamente.

Eliminadores de pilhas também podem ser considerados fontes de alimentação, servindo para a prova de diversos aparelhos. Devemos apenas tomar cuidado com a polaridade de sua saída.

Baterias recarregáveis, conjuntos de pilhas também podem ser usadas na bancada com fontes de alimentação auxiliares.

Na figura abaixo temos um "identificador" de polaridade feito com dois LEDs.

 

Identificador de polaridade
Identificador de polaridade

 

 

Se o LED vermelho acender a ponta positiva é a vermelha. Se o LED verde acender, a ponte positiva é a preta. O circuito pode ser usado com tensões de 2 a 12 volts.

 

(59) GERADOR DE SINAIS OU GERADOR DE FUNÇÕES

O gerador de sinais se diferencia do injetor de sinais em muitos aspectos. Um deles é que, enquanto o injetor de sinais produz um tom que corresponde a muitas frequências misturadas (rico em harmônicas), não havendo assim uma frequência fixa, o gerador de sinais pode ser ajustado para produzir um sinal de frequência fixa.

Outro aspecto é a possibilidade de se gerar sinais de alta frequência modulados ou não em tons, o que é importante para o ajuste de determinados tipos de aparelhos. Temos finalmente a possibilidade de controlar o nível ou intensidade do sinal gerado, o que não ocorre com o injetor de sinais.

 

Um gerador de funções
Um gerador de funções

 

 

No caso do gerador de funções temos ainda a possibilidade de gerar sinais com diferentes formas de onda.

O gerador de sinais típico gera sinais na faixa de 100 kHz a 100 MHz ou mais e serve para ajustar rádios, comprovar o funcionamento de rádios, sintonizadores, transceptores, televisores, walkmans, etc.

O gerador de sinais é usado da mesma forma que o injetor: ligamos a ponta negativa ou garra ao terra do aparelho (chassi) e a outra ponta ou garra no local em que desejamos injetar o sinal.

Ajustamos a frequência nas escala e a intensidade do sinal no controle apropriado. Também selecionamos numa chave se o sinal aplicado é ou não modulado.

Frequências muito usadas no ajuste de rádios e outros aparelhos são as de FI (frequência intermediária) de 455 kHz para rádios AM, FI de FM de 10,7 MHz, os extremos da faixa de AM de 550 e 1600 kHz, faixa de ondas curtas até 7, 14 ou 30 MHz e em alguns casos os extremos das faixas de FM de 88 e 108 MHz. O sinal de 54 MHz também é comum no ajuste de determinados tipos de televisores.

Para o ajuste de rádios normalmente se injeta o sinal na antena.

No entanto, se o rádio não tiver uma antena externa podemos fazer o acoplamento por meio de uma espira de fio comum como mostra a figura abaixo.

 

 Figura 96  - Dois modos de se aplicar o sinal do injetor a um rádio
Figura 96 - Dois modos de se aplicar o sinal do injetor a um rádio

 

 

Esta bobina deve ficar no mesmo sentido do enrolamento da bobina interna de ferrite que existe no interior do rádio de modo a haver acoplamento perfeito do sinal de prova.

O sinal gerado nesta configuração é "irradiado" para o circuito do receptor que então o capta, permitindo o ajuste.

O sinal de um gerador de sinais é identificado de duas formas:

* Sem modulação - consiste numa espécie de "sopro" que ouvimos no alto-falante ou fone do receptor quando o sintonizamos.

* Com modulação - consiste num apito contínuo no alto-falante ou fone do receptor.

 

(60) CALIBRAÇÃO DE RÁDIOS AM - FI

O sinal de um gerador de sinais sintonizado em 455 kHz é modulado em 1 kHz ou outra frequência de áudio disponível e aplicado à antena ou a bobina de sintonia (ferrite) por meio de um elo (veja item 59).

O capacitor variável do receptor deve ser ajustado para sintonizar o extremo superior da faixa ou 1600 kHz (todo aberto).

a) Ajuste o ganho do gerador de sinais para apenas se conseguir ouvir (bem baixo) o sinal produzido no fone ou alto-falante. O controle de volume do rádio deve estar todo aberto.

 

b) Na saída do receptor podemos tanto ligar um voltímetro de áudio como avaliar a resposta pelo nível do sinal reproduzido, ou seja, fazer o ajuste "de ouvido".

 

c) Ajuste com uma ferramenta não metálica (plástico ou madeira) os núcleos das bobinas de FI (amarelo, branco e preto nos tipos mais comuns) para obter o máximo de intensidade do sinal no alto-falante.

 

d) Repita o ajuste duas ou três vezes, pois o ajuste de uma bobina normalmente afeta o anterior levemente, exigindo-se, por isso, um retoque para se obter o melhor ganho.

 

Obs.: um ajuste muito "agudo" faz com que ocorram apitos ou heterodinagens nas mudanças de estações. Este apito pode ser eliminado retirando-se um pouco de sintonia uma das bobinas, sem prejudicar a sensibilidade do receptor.

 

Se não for conseguido o ajuste isso pode significar etapas de FI com problemas como núcleos de bobinas partidos, problemas de fios dessas bobinas ou dos componentes das etapas. Verifique.

Muitos receptores de telecomunicações, de radioamadores antigos são de dupla conversão, ou seja, possuem dois conjuntos de bobinas de FI operando em frequências diferentes, e elas podem não ser de 455 kHz num ou noutro caso.

Frequências intermediárias de 915, 200, 420 kHz podem ser encontradas em aparelhos antigos que o leitor pretenda "recuperar" ou mesmo reparar. A consulta a um manual ou esquema é importante para se identificar a freqüência intermediária caso ela seja desconhecida.

Injetor: o injetor de sinais também pode servir para o ajuste das FIs, injetando-se o sinal na entrada (antena ou bobina) e fazendo-se o ajuste para máximo rendimento, no entanto, deve-se ter muito cuidado para que não se coloquem todas as bobinas muito fora da posição original, pois neste caso não se têm uma referência para a freqüência de operação. O uso do injetor é indicado apenas para retoques do ajuste principal.

 

(61) AJUSTE DE RECEPTORES DE AM - Total

Comece por identificar os parafusos de ajustes dos trimmers da faixa de AM no corpo de variável.

* O trimmer da antena ao ser girado levemente provoca a saída de sintonia das estações.

* O trimmer da antena ao ser girado levemente faz com que ocorra uma pequena variação do sinal da estação sintonizada.

 

A conexão do gerador de sinais é feita ligando-se sua saída na antena ou acoplando-se à bobina de antena ou à própria caixa do receptor através de algumas espiras de fio comum.

Feita a preparação também precisamos identificar o núcleo da bobina osciladora (vermelho) diferenciando-o das bobinas de FI.

 

Procedimento:

a) Feche totalmente o variável (sintonize 550 kHz) que corresponde ao extremo inferior da faixa. O rádio deve estar ligado com o controle de volume todo aberto. Sintonize o gerador de sinais na mesma freqüência (550 kHz) com sinal modulado em tom. Ajuste o núcleo da bobina osciladora (vermelha) para captar o sinal. Reduza a intensidade do sinal do gerador para que ele não sature o receptor e tenha um nível médio.

b) Abra totalmente a sintonia do receptor (1 600 kHz) e coloque o trimmer da bobina osciladora em posição de sintonizar o sinal do gerador.

c) Volte o gerador de sinais para 600 kHz e sintonize o receptor nesta frequência. Ajuste a posição da bobina de antena no bastão de ferrite para captar o sinal com máxima intensidade.

Posteriormente fixe a bobina no bastão usando para isso uma gota de cera de vela ou uma gota de uma cola fraca.

d) Sintonize o receptor na frequência de 1 500 kHz e coloque o gerador de sinais na mesma frequência. Ajuste agora o trimmer da bobina de antena (trimmer de antena) no variável para obter o máximo de intensidade de sinal.

e) Refaça os ajustes todos mais uma vez, dando assim um retoque nos ajustes feitos.

 

Constatado o bom funcionamento deste sistema, proceda ao ajuste das bobinas de FI conforme procedimento do item 60. Em alguns casos é interessante fazer antes o ajuste das FIs, principalmente se o receptor estiver muito desajustado e não for possível captar sinal algum do gerador nestes ajustes.

 

 

(62) AJUSTE DE ONDAS CURTAS

Os ajustes dados a seguir valem para receptores que sintonizem entre 2 e 30 MHz e tenham diversas faixas. Os procedimentos devem ser repetidos para cada faixa.

Começamos por acoplar o gerador de sinais ao receptor usando para isso algumas espiras de fio comum ou fazendo a ligação à antena, como na figura 96.

 


 

 

 

Os ajustes das etapas de FI são feitos uma única vez ao se ajustar a faixa de ondas médias (se houver), ou conforme mesmo procedimento indicado no item 60.

 

Procedimento:

a) Coloque a sintonia do receptor na frequência mais baixa da faixa a ser ajustada (variável todo fechado) e ajuste o gerador de sinais para a mesma frequência. Ajuste o núcleo da bobina osciladora para captar o sinal. Reduza o ganho do gerador à medida que vai obtendo mais sensibilidade do receptor.

b) Sintonize no receptor a frequência mais alta da faixa que está sendo ajustada (abra todo variável) e coloque o gerador na mesma frequência. Ajuste o trimmer da bobina osciladora para captar o sinal do gerador.

c) Feche a sintonia do receptor, colocando-o numa frequência 200 a 500 kHz acima do extremo inferior da faixa (se a faixa começar em 7 MHz, sintonize em 7,5 MHz). Coloque o gerador de sinais na mesma frequência e ajuste o núcleo da bobina de antena correspondente para captar com máxima intensidade o sinal. (Alguns aparelhos não possuem este tipo de ajuste, pois a bobina‚ posicionada junto com a de ondas médias no bastão de ferrite).

d) Leve a sintonizado receptor para próximo do extremo superior. (Se o receptor terminar a faixa ajusta em 11 MHz, coloque a sintonia por exemplo em 10,5 MHz) . Ajuste o gerador de sinais para a mesma frequência e ajuste o trimmer da bobina de antena para máxima intensidade de sinal. Nos receptores em que existe um único trimmer de antena para todas as faixas, este ajuste já terá sido feito quando do ajuste da faixa de ondas médias.

 

Repita todos os ajustes para obter um repasse e depois feche o receptor que estará pronto para uso.

 

Obs.: para usar estações de ondas tropicais e curtas para ajuste, elas são captadas com mais facilidade à noite.

 

 

(63) AJUSTE DE FM - FI

Para este ajuste podemos usar tanto um gerador de sinais sintonizado em 10,7 MHz como também um gerador de ruídos, do tipo mostrado na figura 97.

 

Um gerador de ruído - Q1 pode ser de qualquer tipo
Um gerador de ruído - Q1 pode ser de qualquer tipo

 

 

O gerador de sinais ou então o gerador de ruídos deve ser ligado na base do primeiro transistor amplificador de frequência intermediária.

Este circuito está conectado após a primeira bobina de FI nos receptores comuns. Se o circuito usado for integrado, identificamos a entrada do integrado de FI e no pino correspondente injetamos o sinal.

O gerador de sinais, se usado deve estar ajustado para produzir um sinal modulado em tom na frequência de 10,7 MHz.

 

Procedimento:

a) Identifique a bobina do detector de FM e coloque seu núcleo quase todo para fora (desajuste).

 

b) Ajuste então a última bobina de FI para máxima intensidade de sinal na saída. A intensidade do gerador de sinais deve ir sendo reduzida à medida que obtemos máxima sensibilidade do receptor.

 

c) Ajuste a bobina discriminadora (detector de FM) para um ponto de mínimo que deve ser encontrado entre dois máximos. Refaça o ajuste.

 

Obs.: como o número de pontos de ajustes para este tipo de circuito depende da sua configuração, podem haver outros pontos a serem ajustados. Desta forma, será conveniente consultar o procedimento recomendado pelo fabricante do aparelho, caso ele seja diferente daquele que citamos como exemplo.

 

(64) AJUSTE DE RF - FM

O sinal de um gerador que alcance até 100 MHz é aplicado à antena do receptor.

A identificação dos trimmers de antena e oscilador, caso não se disponha de diagrama do aparelho pode ser feita por um simples teste:

* Girando-se levemente o trimmer de antena temos alteração apenas na sensibilidade (intensidade do sinal) diminuindo ou aumentando o nível do sinal sintonizado.

* Girando-se levemente o trimmer do oscilador temos a saída de sintonia da estação sintonizada.

 

Procedimento:

a) Coloque o gerador de sinais em 88 MHz e sintonize o receptor para esta frequência (variável todo fechado). Ajuste a bobina osciladora para sintonizar este sinal.

b) Abra todo o variável, sintonizando 108 MHz e coloque o gerador nesta frequência (se não alcançar, coloque em 100 MHz). Ajuste o trimmer oscilador para captar este sinal.

c) Feche o variável até sintonizar aproximadamente 90 MHz e coloque o gerador de sinais na mesma frequência. Ajuste o trimmer de antena para máxima intensidade de sinal.

 

Obs.: variações podem ocorrer em função do circuito.

 

(65) AJUSTE DE VELOCIDADE DE FITA

Este ajuste é feito em gravadores, walkman, tape-decks, etc. Para ele precisaremos de um frequencímetro que será conectado na saída do gravador ou de gravação.

Precisaremos também de uma fita de teste que produza um sinal de 3 kHz. (Se o leitor não dispuser desta fita, peque um gravador comum que esteja bom, coloque nele uma fita virgem e grave do seu gerador de áudio um tom de 3 kHz que então serve de base para este ajuste, com menor precisão é claro).

 

Usando o osciloscópio no ajuste
Usando o osciloscópio no ajuste

 

 

Procedimento:

 

a) Ligue o equipamento da maneira recomendada

b) Com a fita em reprodução ajuste o parafuso do motor ou então o trimmer do controle de velocidade do motor para que seja lida no frequencímetro a frequência de 3 kHz usada como padrão.

 

(66) AJUSTE DE AZIMUTE

Neste ajuste é feito em cabeças gravadoras de aparelhos cassete antigos. Em princípio ele pode ser feito de "ouvido" conforme atuação nos parafusos dos pontos indicados na figura 98.

Devemos fazer o ajuste para que os sinais dos dois canais tenham a mesma intensidade de saída.

Outra possibilidade consiste em se fazer este ajuste com uma fita de teste. Na saída do aparelho é ligado um voltímetro de áudio para se medir a intensidade do sinal. Com os controles do gravador todos abertos, ajustamos os níveis de sinais para a mesma intensidade nos dois canais.

Após o ajuste é conveniente selar o parafuso de ajuste pingando um pouco de cera de vela ou passando esmalte de unhas.

 

Obs.: nas oficinas este ajuste pode ser feito ligando-se na saída um osciloscópio e obtendo-se o sinal a partir de uma fita padrão de 6,3 kHz com 20 dB. Ajusta-se o nível do sinal nos dois canais para a mesma intensidade tomando como base a indicação do osciloscópio.

 

 

 

Índice

Curso Básico de Reparação - Introdução

Curso Básico de Reparação – 1

Curso Básico de Reparação – 2

Curso Básico de Reparação – 3

Curso Básico de Reparação – 4

Curso Básico de Reparação – 5

Curso Básico de Reparação – 6

Curso Básico de Reparação – 7

Curso Básico de Reparação – 8

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