Ao tentar fazer uma brincadeira com um amigo, Beto, Cleto e o professor Ventura se deparam com um problema inesperado: como convencer o que é não é! Veja como problemas intermitentes podem ser resolvidos com muita paciência e critério nesta interessante aventura.

- Sou o melhor técnico do mundo e ninguém pode negar isso!

 

Beto e Cleto já estavam cansados de ouvir isso de seu Joaquim, responsável pela única oficina de manutenção eletrônica da cidade e especialista em aparelhos eletrônicos, do televisor ao computador e que frequentemente era procurado para fornecer componentes que não eram encontrados na única loja da cidade. O profissional técnico reparador da cidade, de meia idade e com muita experiência se gabava de conhecer todos os macetes de reparação e frequentemente criticava, no bom sentido, o preparo que os jovens tinham na escola técnica.

 

- O que vocês aprendem lá não serve para nada! Garanto que se eu colocar qualquer um devocês diante de qualquer televisor, com o menor defeito que seja, ninguém vai conseguir encontrá-lo nem no dobro do tempo que eu levo! Eletrônica se aprende "na marra", tomando choque e quebrando a cabeça, como eu faço há  mais de 20 anos nesta oficina! - Seu Joaquim falava isso com orgullho desprezando às vezes os jovens que se preparavam na escola técnica que era considerada uma das melhores do país.

 

Depois de ouvir outra vez tudo isso, Beto e Cleto comentavam o problema não, é claro, sem conseguir um velho "fly-back" de um TV abandonado para suas experiências que certamente sairia muito caro se fosse adquirido novo, mesmo que encontrado na loja de componentes, isso sem se falar na dificuldade cada vez maior em se conseguir peças de reposição, ou para montagens:

 

- Ninguém coloca na cabeça de seu Joaquim que existe uma diferença entre o preparo que deve ter um técnico reparador e um profissional de desenvolvimento ou mantenção industrial, propriamente dito.

 

Cleto ouvia atentamente, simplesmente concordando com a cabeça.

 

- Se o problema fosse encontrar defeitos seria muito fácil ensinar uma sistemática simples, como fazem muitas escolas por correspondência ou centros de treinamento, sem se preocupar muito com uma teoria sólida, ou ainda uma base matemática, e todos poderiam consertar qualquer coisa em pouco tempo. Entretanto eletrônica não é só reparação. É muito mais!

 

Cleto interrompeu:

- Eu que o diga!

 

- Temos de batalhar nossas 8 horas por dia para assimilar uma teoria completa, e isso nos leva a ter na mente procedimentos que não incluem a reparação propriamente dita mas projeto, instalação, segurança e muito mais.

 

Nosso dia a dia é diferente: não sabemos de cabeça que tensão deve ter o pino X do integrado Y de um televisor modelo Z, pois isso não nos interessa. O técnico no seu dia a dia, assimila estas informações e mais procedimentos lógicos de medidas, e com isso facilmente encontra defeitos que nós, "especialistas em tudo" teríamos sérias dificuldades.

 

- Provavelmente até o professor Ventura! - Interrompeu Cleto.

 

- Sim! A atividade de cada um, no dia a dia, é que leva a especialização. O fato de não dominarmos um setor da eletrônica com tanta perfeição, não significa que não tenhamos nosso valor. Provalvelmente o Prof. Ventura não seria capaz de identificar os terminais de um simples integrado de um televisor comercial, ou saber numa primeira olhada que tensão encontrar em certo ponto, ou em que etapa está determinado defeito, simplesmente observando uma imagem distorcida, mas se lhe dermos tempo ele "reprojeta" o televisor e fornece, por meio de equações precisas, todas as tensões e formas de onda do circuito!

 

Cleto raciocinava:

 

- Há uma diferença! A eletrônica hoje é muito vasta e, além disso, existem muitos campos de atividade dentro desta ciência. Eletrônica como mecânica, dando a mecatrônica, informática, telecomunicações, e muito mais. Cada qual no seu setor trabalha dentro de um limitado conjunto de informações e técnicas que, se sair dela, se sente completamente incapaz. A eletrônica é única mas seus ramos são muitos!

 

- É o caso que vemos! Coloque o seu Joaquim na sala de aula e provavelmente ele não consegue falar! Coloque o professor Ventura diante de um televisor quebrado e provavelmente ele terá muita dificuldade em repará-lo. Coloque o professor Paulo, de eletrônica digital, diante de um amplificador de áudio ou de um transmissor e ele terá dificuldades até para colocá-lo em funcionamento!

 

-  É a especialização!

 

-  Sim, "cada macaco no seu galho!"

 

Cleto, pensativo comunicou uma idéia ao amigo, depois de andarem mais um pouco:

 

- Sabe, bem que poderíamos "pregar uma pequena peça" no seu Joaquim, para lhe mostrar que o que ele sabe não é toda a eletrônica!

 

- Você quer dizer "usar a nossa eletrônica", dentro de nossa especialidade, para criar um problema que talvez não seja alcançado pela eletrônica dele? - Beto parecia ter "pego a idéia" mal ela tinha sido exposta.

 

- Exatamente !

 

- Sim, mas a "nossa" eletrônica ‚ suficiente para vencer a dele? - Cleto tinha suas dúvidas, pois mesmo estando no último ano do curso, ele ainda não se sentia seguro à ponto de poder fazer algo de maior complexidade. O outro deu a solução ideal para o caso:

 

- A "nossa" eletrônica talvez não, mas se pudermos contar com a eletrônica do prof. Ventura...

 

- Isso mesmo ! - Interrompeu Cleto - Mas será que ele concordará?

 

Cleto não tinha dúvidas:

 

- Acredito que não haverá problema nenhum! O professor Ventura sabe que o que vamos fazer é uma brincadeira inocente e não se oporá em nos ajudar.

 

O professor Ventura ouviu calmamente, como sempre fazia, a história dos rapazes. Então eles queriam dar uma lição no seu Joaquim, técnico que todos conheciam.

 

- E, alguém tem alguma sugestão ? - A pergunta do professor pareceu desanimar os dois rapazes, pois eles exatamente esperavam que viesse dele uma sugestão. Cleto foi quem falou.

 

- Nossa idéia é induzir num televisor um defeito que ele não possa encontrar, pelo menos facilmente...

 

Cleto tinha algo mais a dizer:

 

- Sim um defeito que seja tão "cabeludo" que ele "dê o braço a torcer", e venha nos pedir ajuda!

 

O professor ventura coçou o queixo e, depois de pensar algum tempo, sugeriu:

 

- Eu tenho a idéia, mas o modo de pô-la em prática, mas isso vai ser por conta de vocês. Eu não quero entrar nessa "história" de atrapalhar o trabalho do coitado do Joaquim... mas pensando melhor é algo bem interessante...

 

Nesse momento o professor pôs-se a sorrir, com aquele ar maquiavélico de qualquer garoto que está prestes a fazer uma grande travessura. Isso deixou Beto e Cleto mais curiosos ainda.

 

- Vamos professor, não nos deixe curiosos! Conte logo o que tem em mente! - Beto não se aguentava de curiosidade.

 

- Que tipo de defeito deixa um técnico maluco? - A pergunta do professor era interessante. Cleto respondeu:

 

- Ora, um defeito intermitente!

 

- Sim um defeito do tipo que só aparece na hora que não estamos prontos para medir tensões ou ter acesso à etapa suspeita. Corremos, e quando tudo está pronto para as medidas, o aparelho volta a funcionar normalmente!... É de deixar maluco! - Completou Cleto.

 

- Mas, professor, um defeito intermitente pode ser localizado pois...

 

Beto não teve tempo de completar. O professor interrompeu-o bruscamente:

 

- Ah! Não do jeito que eu tenho em mente! Escutem só!

 

Os dois rapazes prestavam atenção:

 

- Vamos montar um pequeno "iradiador de interferências" do tipo chuvisco com um gerador de ruído branco, mas acionado aleatoriamente por 3 timers de tempos diferentes. Desta forma, com os tempos não coincidentes, o "defeito" apareceria em instantes quase que aleatórios. A principal vantagem deste sistema qual seria?

 

O professor olhou para Cleto que nem tentou responder, pois o professor continuou:

 

- Em primeiro lugar o "defeito" não viria de um circuito ou componente do próprio televisor. Um bom técnico desconfiaria de um transistor ou um capacitor com defeito intermitentes, ou mesmo uma solda "fria" que normalmente causa isso, se "introduzíssimos" o problema artificialmente. Tem de ser algo maior!

 

Depois de se ajeitar melhor numa cadeira, o prof. Ventura prosseguiu:

 

- Alimentado de modo escondido, seria difícil o técnico desconfiar de algo que não está no esquema. A tendência natural é procurar o problema a partir do diagrama na mão, analisando apenas o que interessa. O que não interessa, ou não existe normalmente, passa desapercebido. Por outro lado, ele "irradiaria" a interferência para o circuito de modo que também não haveria conexão alguma com o televisor, dificultando ainda mais a descoberta. A simples medida de tensões, mesmo no momento em que o defeito ocorra não vai revelar nada!

 

- Puxa! Isso vai deixar o Joaquim maluco! - Beto via o velho técnico desesperado procurando um defeito "que não existe".

 

- Mas e a parte prática? - Cleto estava agora interessado em saber como tudo ía ser feito.

 

Não houve muita dificuldade para a realização do "projeto" na prática.

 

O professor Ventura emprestou um velho televisor, que ele possuia na sua oficina, e a adaptação da pequena plaquinha, que os rapazes haviam montado, não foi difícil, pois ela era bem pequena. Um cantinho escondido no televisor praticamente ocultava a placa, e somente se todo aparelho tivesse as placas retiradas é que ela seria descoberta. A alimentação foi feita de um modo engenhoso. Aproveitando o cabo de antena, fizeram um filtro passa altas para o sinal e dele, via dois indutores, com uma ponte puxaram os dois fios finos de alimentação. Dessa forma, de maneira completamente desapercebida, a alimentação para o "interferidor" passava pelo próprio cabo de entrada da antena.

 

O "sinal", produzido de modo intermitente, era irradiado dentro do próprio televisor e cobria toda a faixa de VHF de modo que, não importava o canal sintonizado, ele se manifestaria normalmente.

 

A prova de funcionamento revelou que o aparelho "funcionava" conforme o previsto; depois de alguns minutos de ligado, começava o problema. De tempos em tempos, a imagem e o som normais eram interrompidos, com a tela sendo preenchida totalmente por um forte chuvisco e o som desaparecendo ficando em seu lugar forte chiado. O problema durava 3 a 5 segundos apenas, depois voltando tudo ao normal. Este tempo era suficiente para não dar margem a realização de testes pelo técnico, deixando-o mais maluco ainda!

 

O defeito voltava em intervalos irregulares, que variavam entre 40 ou 50 segundos e até 5 minutos.

 

É claro que nenhum dos três poderia levar o aparelho a oficina do Técnico Joaquim, pois ele sabia que os três não teriam dificuldades em reparar um TV, e quando o "defeito" se mostrasse diferente, ele logo desconfiaria de alguma coisa.

 

A tarefa de levar o televisor a oficina ficou com o zelador do prédio da escola, para quem os rapazes contaram o que pretendiam fazer. O velho riu bastante, pois tendo uma certa amizade com o técnico Joaquim, queria também se divertir às custas do outro, mesmo sem entender nada de eletrônica.

 

- Expliquei ao Joaquim que o TV apresentava uns "chuviscos" de tempos em tempos, que não deixava eu ver minhas novelas. Também falei que não pedi a ninguém da escola para reparar, pois não queria incomodar. Ele ligou o aparelho e o "troço" realmente apareceu ! - explicou depois o zelador.

 

- E quando ele disse que fica pronto o aparelho ?

 

O zelador respondeu a Beto:

 

- Ele disse que, como é coisa simples (coitado) amanhã ou depois eu devo dar uma passadinha lá.

 

No primeiro dia nada aconteceu. Beto e Cleto curiosos, deram uma passadinha na oficina do seu Joaquim, no fim da tarde, para ver se alguma coisa de anormal ocorria. O técnico se mostrava atarefado, mexendo no televisor "preparado" mas não mostrava sinais de preocupação.

No segundo dia o zelador passou na oficina, e depois informou os rapazes que o técnico pediu um pouco mais de tempo para reparar o seu aparelho.

 

-"Estava com muito serviço", informou o zelador.

 

Neste segundo dia começaram aparecer os primeiros sinais de que o técnico estava com dificuldades. As luzes da oficina que normalmente apagavam logo depois das 6, permaneceram acesas até depois das 9 da noite! Beto e Cleto passaram diante da oficina e viram isso.

 

- Parece que o negócio está fazendo efeito!... - Comentou Beto para com o amigo.

 

- Realmente. Mas será que êle dar  o "braço a torcer"?

 

O terceiro dia revelou que o problema se agravava. Os dois rapazes passaram na oficina no final da tarde e viram seu Joaquim nervoso, com um televisor na bancada, parcialmente desmontado. Era o televisor "preparado" que funcionava com o defeito intermitente...

 

- Algum problema seu Joaquim ? - perguntou inocentemente Cleto.

 

- Não, é apenas um daqueles defeitos intermitentes que demoram um pouco mais de tempo, mas que um especialista como eu não o deixa escapar...

 

Beto pensou com seus botões;

 

"- Ainda pensando que é o melhor do mundo... Veremos!"

 

Naquele dia, mais uma vez, as luzes da oficina permaneceram acesas até bem tarde. O zelador, que havia voltado mais uma vez para ver como estava seu aparelho, recebeu como resposta um pedido para voltar dois dias depois... A coisa estava se complicando.

 

Mais dois dias, seu Joaquim já completamente alterado, sem encontrar o problema deu sinais de desespero. Com a passagem dos dois rapazes pela oficina ele resolveu confessar o problema, mas inicialmente "só de leve". Ele tentava tirar alguma pista dos dois que pudesse lhe ajudar na solução do caso.

 

- Tenho um defeito intermitente e gostaria de saber se vocês são realmente "bons" como dizem! - O técnico lançou um desafio.

 

Beto cutucou Cleto com o cotovelo para alertá-lo, e os dois se puseram a ouvir o que o técnico tinha a explicar. Ele relatou todo o problema com o televisor, mas não deu a entender que estava em dificuldades...

 

Percebendo que ele não daria o braço a torcer, Beto resolveu deixá-lo mais confuso ainda !

 

- No nosso curso aprendemos uma teoria muito simples que nos permite encontrar o problema num instante. Certamente, com sua experiência o Sr. conhece a Análise Logarímica de Russell?

 

Evidentemente, o técnico que conhecia muito mais prática do que teoria, nunca tinha ouvido falar de tal "Análise de Não-sei-quem", mas ele não podia ceder...

 

Depois de engolir em sêco, seu Joaquim tentou mudar de assunto...

 

- Deixa pra lá ... Mas, o que eu posso fazer por vocês?

 

Beto e Cleto inventarm uma pequena história de que precisavam de algumas velhas válvulas 6L6 para montar um pequeno transmissor experimental, disfarçando assim o verdadeiro motivo de sua visita.

 

Naquele dia, mais uma vez as luzes da oficina ficaram acesas até mais tarde. Isso ocorreu em mais dois dias até que, finalmente, seu Joaquim apareceu na escola procurando ajuda...

 

O professor Ventura foi o procurado e para sorte de Beto e Cleto, eles estavam perto quando isso ocorreu...

 

O técnico falou de um modo encabulado:

 

- Professor, tenho um problema e acho que o Sr. pode me ajudar. É sobre uma tal de "Análise Logarítmica de Não-sei-quem" que ajuda a achar defeitos intermitentes...

 

O professor, evidentemente não sabia de nada, pois a tal análise era "invenção" dos rapazes.

 

No entanto, uma tosse forçada de Beto fez o professor logo entender que se tratava da "pegada" que tinham preparado para o pobre técnico.

 

- Ah! sim, a análise funciona mas é preciso ter todos os parâmetros disponíveis, ou seja fazer alguns testes adicionais. - o professor Ventura precisava ganhar tempo, pois neste ponto ele não sabia realmente o que os rapazes tinham dito ao técnico e portanto o que fazer. Inventou então um jeito de adiar um pouco o problema:

 

- Volte para sua oficina e ligue o aparelho por algum tempo, junto com outros que você tenha. A análise diz que ‚ preciso acompanhar o andamento do problema comparando a outros aparelhos que estejam bons. Volte depois para nos dizer o que houve.

 

Feito isso, o professor Ventura pegou delicadamente pelo braço o técnico e, suavemente, o colocou para fora do laboratório recomenando que ele realizasse o mais rápido possível a observação. Isso daria tempo para ele descobririr o que lhe tinham dito e decidir com os rapazes o que fazer. O que o professor não imaginava é que esta recomendação ía aumentar mais ainda o problema!

 

- O que fazer agora? - Cleto segredou em voz baixa para Cleto, ambos com ar muito preocupado.

 

O professor Ventura voltava, pouco depois, com ar muito sério, disposto a dar uma boa "bronca" nos dois, e foi realmente o que fez:

 

- Muito bem, vocês aprontaram o "negócio". agora vão ter que dar um jeito de arrumar a situação. Ou contam tudo, ou vão la,  e resolvem o problema para o pobre Joaquim, antes que ele resolva fechar a oficina e criar galinhas ou coisa parecida... Ele realmente parece estar arrasado com a impossibilidade de encontrar o defeito.

 

Beto e Cleto decidiram então que era hora de encerrar com a brincadeira e quando se preparavam para ir a oficina do seu Joaquim, eis que o próprio praticamente invade a sala do professor Ventura, e emocionado exclama:

 

-         É contagioso! Sim, o negócio é contagioso!...

 

O professor Ventura vendo o homem alterado daquela forma pediu para que ele se sentasse e depois de lhe dar um copo com água pedindo calma, recomendou que contasse o que houve bem devagar. Beto e Cleto, como responsáveis pela brincadeira, estavam preocupados.

 

O técnico expicou então o que aconteceu:

 

- Vocês recomendaram que eu ligasse o aparelho e observasse, comparando com outros televisores. Foi o que eu fiz. - O técnico bebeu o resto da água, tomou um pouco de folego e continuou:

 

- Pois bem, liguei o maldito televisor e lá estava o problema... Depois liguei outro televisor que eu já tinha consertado, e estava prontinho para entrega, e aí aconteceu; o mesmo defeito "passou" para ele! Começou a fazer a mesma coisa! Tudo bem, mas de tempos em tempos o chuvisco, o som e a imagem desapareciam. Fiquei apavorado e liguei outro televisor: a mesma coisa. Liguei um terceiro e agora tinha quatro com o mesmo problema: a imagem sumia com chuvisco em seu lugar e chiado no alto-falante. Parecia um defeito sincronizado: os quatro ao mesmo tempo. É contagioso!

 

Neste momento, o técnico silenciou como esperando alguma palavra esclarecedora do professor Ventura.

 

O professor, Beto e Cleto estavam embaraçados. O estado alterado do técnico mostrava que era hora de por fim a brincadeira.

 

- Contagioso! Ora, vejam só! Vamos dar um jeito nisso. - O professor Ventura pediu então para ir a oficina do pobre homem.

 

Como foram os rapazes que tinham "instalado" o aparelho no televisor, o professor Ventura procurou distrair o técnico enquanto os dois "trabalhavam" no televisor. Seu Joaquim abalado, olhava com certa desconfiança.

 

- Não se preocupe...Os dois são meus melhores alunos na teoria dos defeitos intermitentes, e certamente sabem o que fazer...

 

- A tal da Análise Logarítmica de Não-Sei-Quem ? ...

 

- Russel! - completou Beto, para melhor informar o professor Ventura.

 

- Sim isso, mesmo... - confirmou o professor, olhando para Beto, com um olhar fulimnante sob os óculos, como costumava fazer quando estava bravo.

 

Trabalhando disfarçadamente, os dois cortaram simplesmente a alimentação do pequeno transmissor de interferências e, quando o aparelho foi ligado, tudo voltou ao normal, para supresa do Técnico.

 

Depois, quando o zelador levasse de volta o aparelho, eles teriam mais tempo para "desinstalar" o pequeno interferidor...

 

- Sensacional! Não que a "tal" teoria resolve mesmo... - Seu Joaquim estava com outra aparência. - Devo pedir desculpas a todos vocês por duvidar do ensino técnico... Realmente existem casos em que a teoria é mais importante que a prática, mas os senhores poderiam me dizer o que havia neste maldito aparelho?

 

Beto olhou para Cleto, que olhou para o professor Ventura, que saia de fininho para evitar maiores explicações (e complicações). Não havia outro jeito e Beto tentou uma explicação...

 

- Bem, a teoria envolve fórmulas complicadas que qualquer hora podemos lhe explicar com mais tempo... - e os dois rapazes também sairam de fininho, tentando escapar de mais complicações. Mas,eles estavam enganados!

 

Tudo parecia acabado, até que na segunda-feira seguinte os rapazes tiveram uma grande surpresa: quando entraram na sala para a primeira aula deram de cara com o técnico Joaquim sentado na primeira fila que, com um largo sorriso, os recebeu:

 

- Me matriculei para aprender a tal Teoria Logarítmica de... - ele não chegou a completar, neste momento, pois nada surpreso, entrou o prof. Ventura que havia feito a matrícula e completou olhando para Beto e Cleto, novamente com o olhar fulminante:

 

- Russell!... E os meus dois melhores alunos no assunto vão dar a primeira aula...

 

A classe não tinha a mínima idéia do que se tratava. Somente os dois rapazes, sentindo que haviam "entrado pelo cano" naquela brincadeira, não sabiam onde enfiar a cara...

 

O professor Ventura sério aguardou por algum tempo uma resposta, até que em determinado momento caiu numa estrondosa gargalhada... Deu então uma explicação que contentou a todos:

 

- Era uma vez um físico Inglês chamado John Russell, (O professor estava inventando isso, mas somente Beto e Cleto sabiam disso, mas não ousavam se manifestar...) que, no século passado, desenvolveu uma teoria segundo a qual, "defeitos intermitentes poderiam ser previstos com cálculos logarítmicos... No entanto, como isso poderia ser feito nunca foi descoberto, pois ele morreu e suas anotações desapareceram...

 

Olhando para Beto e Cleto, ele continuou:

 

- Mas, os nossos dois amigos aqui resolveram "reviver" Russell e tentaram aplicá-lo com o nosso amigo Joaquim e, na "pura sorte", tiveram êxito...

 

- Assim, mesmo se tratando de uma brincadeira, que felizmente deu certo, aconselho a não brincar mais com coisas sérias: apenas lembrem-se que a eletrônica tem muito mais mistérios do que nossa vã inteligência pode alcançar (sem querer lembrar Sheakspeare). Sugiro apenas que os rapazes peçam descuplas ao seu Joaquim, e depois eu explico tudo a ele...

 

Sem entender muito bem que estava acontecendo, muito menos a classe, o técnico Joaquim recebeu as desculpas, com ar desconfiado, mas continuou querendo saber mais sobre...Russell, o que o professor Ventura conseguiu contornar depois de algumas aulas, explicando que o que é, na realidade não é‚...(seja lá o que isso passou a significar para o "velho" Joaquim!)

 

Depois disso, Chamados em particular na sala do Prof. Ventura, Beto e Cleto prometeram não mais fazer esse tipo de brincadeira...

 

Para o técnico Joaquim, ficou a lição de que cada um é competente na sua atividade e da sua maneira e que, o respeito ao conhecimento dos outros, quer seja ele maior ou menor que é o nosso ‚ fundamental para nosso êxito na vida tanto profissionalmente como socialmente...

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