Como já salientamos em outros artigos desta revista, se existe um instrumento que não pode faltar na bancada ou na maleta de serviço do profissional de elevadores, ele é o multímetro. Já analisamos em outros artigos o tipo de multímetro mais indicado e demos informações sobre seu uso. Também, descrevemos alguns testes simples.

Nota: Artigo publicado na Revista Elevador Brasil de fevereiro de 2022.

 

Neste artigo vamos além ensinando a usar o multímetro em mais alguns testes e dando dicas sobre o seu uso.

Começamos por salientar que a utilidade do multímetro digital é a mesma do multímetro analógico. Na verdade, se bem que a tecnologia do tipo digital seja mais avançada, existem testes em que a avaliação dos resultados é mais fácil no analógico.

 

Provas dinâmicas

Ao contrário do que muitos leitores pensam, os multímetros não são simples provadores de componentes. Se bem que o uso mais simples seja realmente a prova de continuidade que nos permite avaliar o estado de dezenas de tipos de componentes, muito mais que isso, o multímetro também é um analisador dinâmico de circuitos.

É claro que, para avaliar o estado de um circuito a partir de medidas dinâmicas é preciso saber interpretar os números indicados na escala do instrumento. E isso deve ser feito levando-se em consideração o princípio de funcionamento do aparelho.

Não basta então o leitor ter o multímetro para poder se considerar logo um "técnico reparador" dos mais competentes. A competência vem do saber usar, e para isso deve-se estudar muito bem todo o princípio de funcionamento, tanto dos componentes como dos circuitos eletrônicos.

Não fosse assim, não seria preciso estudar tanto para se tornar um bom técnico de eletrônica.

 

A prova dinâmica

Entendemos por prova dinâmica aquela que se realiza com o equipamento suspeito em funcionamento, ou pelo menos, ligado de modo a se poder verificar suas diferentes etapas em operação. É claro que existem casos em que isso não é possível. Podemos citar como exemplo o caso de algum equipamento que se encontre em total curto e que pode pôr em perigo a rede local (de sua casa) se ligado a uma tomada de força.

Num aparelho em plena operação as principais medidas que podem ser feitas são de corrente e de tensão.

Como as medidas de corrente são realizadas em série com os circuitos, o que dificulta sua realização, já que o circuito deve ser interrompido, as medidas mais comuns são as de tensão, realizadas conforme mostra a figura 1.

Num circuito eletrônico em perfeito estado devem existir determinadas tensões perfeitamente determinadas e, normalmente, indicadas nos diagramas de fábricas ou manuais.

Baseando-se nestas medidas, o técnico pode facilmente encontrar discrepâncias e a partir delas chegar ao componente, ou aos componentes com problemas.

 


 

 

 

Nos equipamentos transistorizados ou que fazem uso de circuitos integrados, as tensões encontradas nos diversos pontos de análise são contínuas, o que facilita ainda mais a sua medida.

Trabalhando, então, com um multímetro na escala apropriada de tensões contínuas técnico pode chegar facilmente a causa dos mais diversos tipos de problemas.

 

A medida de tensão

A medida de tensões contínuas com um multímetro é feita a partir de um ponto de -referência, normalmente denominado terra, Dor estar a zero volt em relação ao solo, onde gamos a ponta de prova preta.

 


 

 

 

Encostando então a ponta de prova vermelha nos pontos indicados no diagrama devem ser ligadas as tensões indicadas num diagrama.

A terra ou massa pode também ser positiva. Neste caso, os valores lidos por um multímetro correspondem à tensões negativas. É claro que a agulha do multímetro não pode se movimentar para a esquerda para a indicação de valores negativos, mas isso é facilmente solucionado.

Se invertermos as pontas de prova, ligando a positiva à referência que seria o terra do aparelho, o multímetro passa a indicar "valores absolutos", ou seja, indica um número em que se despreza o sinal negativo.

Deste modo, o multímetro pode ser usado, tanto na medida de tensões positivas, como negativas.

 


 

 

 

Como testar motores:

Os motores de corrente contínua (DC ou CC) e motores de passo se incluem na categoria dos componentes formados por bobinas. Assim, basicamente, o teste desses componentes se resumem nos testes de continuidade e curtos entre espiras de suas bobinas.

Os motores de corrente contínua são formados por uma ou mais bobinas que apresentam uma baixa resistência, a qual depende basicamente de sua potência e tensão de acionamento. Na figura 4 temos o aspecto deste tipo de componente.

 

Figura 4 – Motores de passo e DC
Figura 4 – Motores de passo e DC

 

 

Suas tensões de acionamento variam tipicamente entre 1,5 e 48 V e as correntes entre 5 e 500 mA. Isso resulta em resistências de bobinas entre poucos ohms a perto de 500 ohms no máximo. Os motores de passo são basicamente de dois tipos, mostrados na figura 5.

 

Figura 5 – Motores de passo
Figura 5 – Motores de passo

 

 

O tipo de motor determina o número de bobinas. Esses motores têm tipicamente bobinas de 12 V com correntes que variam na faixa de 50 a 500 mA.

 

O que devemos testar

O teste básico que podemos fazer consiste em se verificar a continuidade da bobina, tanto no caso de motores comuns DC como de motores de passo.

No entanto podem ser realizados testes adicionais como, por exemplo, os que nos permitem avaliar a corrente drenada, torque, tensão nominal, além de outras características.

 

Que Motores podem Ser Provados com o multímetro

Podem ser testados motores de corrente contínua e motores de passo de 1,5 a 48 V com correntes na faixa de 10 mA a 1 A tipicamente. Para os motores de passo os tipos de duas e quatro fases podem ser testados. Também se incluem nos testes os motores que possuam sistemas de redução (caixas de redução).

Motores de corrente alternada para tensões de 110 V ou 220 V também podem ter suas bobinas testadas, verificando-se sua continuidade.

 

Procedimento

 

Prova de continuidade dos enrolamentos

Este teste não revela se existem curtos nos enrolamentos. Para essa finalidade, em alguns casos podem ser realizados testes de funcionamento ou ainda testes semelhantes aos que descrevemos para o caso de bobinas.

 

a) Desligue os terminais do motor do circuito em que ele se encontra.

 

b) Ajuste o multímetro para uma escala de baixas resistências (x1 ou x10) zerando-o. O provador de continuidade deve ser capaz de indicar continuidade com resistências de 0 a 1 000 ohms.

 

c) Encoste as pontas de prova do multímetro ou provador de continuidade nos terminais do motor em teste.

 

d) Se for um motor de passo com diversos enrolamentos, cada um deve ser testado indvidualmente, devendo ser feita sua identificação.

 

Na figura 6 mostramos como realizar este teste.

 

Figura 6 – Teste de continuidade de motores de passo
Figura 6 – Teste de continuidade de motores de passo

 

 

Interpretação da Prova

Um motor que tenha seus enrolamentos em ordem deve apresentar uma baixa resistência (ou continuidade nesta prova). Uma resistência elevada (acima de 10 k ohms) indica que o enrolamento está interrompido.

Se um motor de passo tiver um dos enrolamentos interrompido, ele já não pode ser usado em suas aplicações básicas. Observamos que esse teste não revela se um ou mais enrolamentos do motor apresenta espiras em curto-circuito.

A resistência do enrolamento pode servir de parâmetro para se obter a corrente que o motor drena na condição de curto-circuito. Lembramos que em funcionamento normal, a corrente sempre será menor do que a corrente de curto-circuito dependendo da carga, ou seja, da força que ele está exercendo. Na figura 7 temos um gráfico que mostra o comportamento típico de um motor de corrente contínua.

 

Figura 7 – Característica de um motor DC
Figura 7 – Característica de um motor DC

 

 

Conclusão

Existem centenas de outros testes que podem ser feitos com um multímetro comum, ajudando o profissional de manutenção de elevadores encontrar falhas em componentes e circuitos elétricos. O autor deste artigo possui uma série de livros de grande utilidade para quem deseja saber mais que é Como Testar Componentes (Volumes 1 a 4), disponíveis no site.

 

(*) Newton C. Braga é autor do livro Os Segredos no Uso do Multímetro (https://www.newtoncbraga.com.br/index.php/biblioteca-do-instituto/6751-os-segredos-no-uso-do-multimetro) e mantém o site www.newtoncbraga.com.br além de um canal de vídeo (https://www.youtube.com/c/InstitutoNCBNewtonCBraga)