Uma maneira mais segura de se interceptar conversas telefônicas consiste em se ligar um transmissor à linha e fazer a escuta ou gravação a distância. Evidentemente, os mesmos problemas do projeto anterior devem ser considerados: a necessidade de se ter alguém próximo para acionar o aparelho e a possibilidade do sinal estar sempre presente no ar, facilitando assim sua detecção.
O aparelho que propomos é muito interessante, pois ele é alimentado pela própria linha telefônica, não necessitando, portanto, de pilhas ou bateria e, além disso, é acionado somente quando o fone é tirado do gancho.
Seu alcance é da ordem de 50 metros, o que permite que o agente se posicione em local seguro com seu receptor e o gravador e a operação pode tanto ser programada para a faixa de FM como de VHF.
De montagem bastante compacta, ele é conectado à linha telefônica em menos de 1 minuto, e pode ser escondido em qualquer parte.
O consumo, por outro lado,é suficientemente baixo para não carregar de modo sensível a linha, o que pode causar suspeitas ao vigiado.
COMO FUNCIONA
Na figura 1 damos o diagrama completo do transmissor interceptador telefônico automático.
Uma ponte de 4 diodos serve tanto para alimentar o circuito, independente da polaridade da conexão, como também para acionar o circuito transmissor.
Assim, quando o fone está no gancho, a tensão que aparece na ponte e alta e com isso o transistor é polarizado no corte, de modo a não alimentar o transmissor. 0 transmissor, nestas condições, se mantém fora do ar.
O ajuste do ponto de corte em função da tensão da linha é feito pelo trimpot P1. Este ajuste e interessante, pois tanto em função das características dos componentes como pelas variações que a tensão da linha pode ter pelo seu comprimento, não se conseguiria um acionamento perfeito com o uso de componentes fixos.
Uma possibilidade de se obter um ajuste fixo, mas ainda assim sujeito a não operação em linhas com tensões muito baixas, devido ao comprimento do fio, seria trocar R2 por um diodo zener de 24 V.
Quando o fone é retirado do gancho, a tensão da linha cai e com isso a polarização de base proporcionada por R3 e P1 passa a predominar, levando o transistor Q1 a condução.
O resultado da condução é a alimentação com uma tensão entre 4 e 12 V do pequeno transmissor com base no transistor Q2.
Neste transmissor, a bobina L1 em conjunto com CV1 determina a frequência de operação, que pode estar entre 50 e 150 MHz.
Evidentemente, o agente deve ter um receptor capaz de sintonizar a frequência para a qual o circuito foi montado e ajustado.
A polarização de base para o transistor oscilador é dada pelos resistores R5 e R6, enquanto que CS serve de desacoplamento de base e como corte para as altas frequências de modulação, evitando assim que os ruídos da linha telefônica sejam transmitidos.
A modulação vem do áudio da própria linha telefônica através do resistor R4 e do capacitor C7.
Eventualmente, em função das características dos componentes, o resistor R4 pode ser alterado na faixa de 10 k ohms a 220 K ohms no sentido de se obter a melhor modulação. Sugerimos aos montadores que façam experiências depois da montagem no sentido de obter o valor que dê o melhor desempenho.
O capacitor C7 pode ser alterado na faixa de 22 nF a 220 nF, sem problemas.
Os sinais gerados pelo oscilador que é alimentado somente quando o fone é retirado do gancho são irradiados pela antena.
MONTAGEM
A disposição dos componentes numa placa de circuito impresso é mostrada na figura 2.
Para a bobina temos as seguintes características conforme a faixa de frequências, sempre enrolada com fio 22 a 26 em fôrma de 1 cm sem núcleo:
Frequência | Espiras |
50 a 80 MHz | 5 ou 6 |
80 a 100 MHz | 4 |
100 a 130 MHz | 2 ou 3 |
130 a 150 MHz | 1 |
Para o caso da faixa de 100 a 150 MHz, será conveniente reduzir o capacitor C6 para 2,2 pF ou mesmo 1 pF.
Os diodos admitem equivalentes e todos os resistores são de 1/8 W. O trimmer CV1 pode ter capacitâncias máximas entre 20 e 50 pF. Os capacitores menores devem ser todos cerâmicos, exceto C7 que deve ser de poliéster metalizado.
Os capacitores eletrolíticos devem ter uma tensão de trabalho de pelo menos 16V , exceto C1 que deve ser de 25 V ou mais.
Os transistores admitem equivalentes como o BC558 para Q1 e o BF495 ou 2N2218 para Q2.
Não se deve aumentar a potência do circuito com a troca de Q1 por um BD135 e Q2 por um 2N2218 com a redução de R7 para 47 ohms, pois isso poderia carregar o circuito, reduzindo o volume do telefone vigiado, causando assim suspeitas.
O conjunto cabe facilmente numa pequena caixa plástica que deve ter apenas duas garras jacaré para conexão à linha e a antena.
A antena é um pedaço de fio comum encapado de até 80 cm de comprimento.
PROVA E USO
Para a prova de funcionamento basta ligar as garras a uma fonte de 6 V e ajustar CV1 para captar a portadora do sinal numa frequência livre da faixa desejada. A antena pode ficar esticada sobre a mesa para esta finalidade e o ajuste deve ser feito com uma chave não metálica.
Feito este ajuste, teste o aparelho numa linha telefônica, agora ajustando P1 para que o acionamento ocorra quando o fone for retirado do gancho.
Altere os componentes citados no item anterior, se julgar necessário.
Para usar, descasque rapidamente a linha nos pontos de conexão e coloque as garras jacaré, tomando cuidado para não deixar os fios encostarem um no outro. Posicione a antena de modo que fique longe de fios e objetos de metal, e deixe rapidamente o local.
Conecte na saída de fone do receptor um gravador se quiser registrar as conversas.
Semicondutores:
Q1 - BC557 ou equivalente - transistor PNP de uso geral
Q2 - BF494 ou equivalente - transistor de RF
D1 e D4 - 1N4002 - diodos de silício
Resistores: (1/8 W, 5%)
R1 - 470 ohms
R2 - 47 k ohms
R3 - 1 k ohms
R4 - 100 k ohms
R5 - 10 k ohms
R6 - 5,6 k ohms
R7 - 100 ohms
P1 - 47 k ohms - trimpot
Capacitores:
C1 - 100 uF/25 V - eletrolítico
C2 - 1 uF/16 V - eletrolítico
C3 - 10 uF/ 16 V - eletrolítico
C4 - 100 nF - cerâmico
C5 - 22 nF - cerâmico
C6 - 4,7 pF - cerâmico
C7 - 22 nF - poliéster
CV1 - trimmer - ver texto
Diversos:
L1 - bobina de antena - ver texto
A - antena - ver texto
Placa de circuito impresso, caixa para montagem, garras jacaré, fios, solda, etc.
Artigo publicado originalmente em 1985