O dexismo (de DX) é um passatempo bastante interessante acessível aos que possuem um rádio capaz de sintonizar ondas curtas e moram em locais isolados onde ainda não existe Internet ou outros meios mais modernos de comunicações. Ele consiste na escuta de estações de rádio de locais distantes na faixa de ondas curtas. No entanto, não basta ter um bom receptor para que os melhores resultados na captação de estações fracas e distantes seja conseguido. Muito mais que isso, podemos contar com alguns truques e macetes que permitem receber muito melhor as estações difíceis.
(Para os leitores que não sabem, DX significa o contacto à longa distância. DXista é o radioamador que consegue ouvir ou manter contactos com estações muito distantes)
Com um velho receptor BC-238 valvulado, da Segunda Guerra Mundial (restaurado com mais de 50 anos de uso) tenho conseguido captar estações distantes que fazem inveja a muitos que possuam receptores mais modernos. QSLs de estações de ondas médias (1500-1600kHz) da Alemanha e Estados Unidos são alguns exemplos.
No entanto, o êxito na escuta dessas estações não depende somente do meu velho receptor, pois resultados igualmente interessantes tenho conseguido com receptores transistorizados mais modernos, inclusive tipos comerciais.
O que devemos fazer para ter uma boa escuta das estações mais distantes, mesmo usando rádios comuns?
Qual ‚ o segredo do Dexista que, sem rádios especiais do tipo profissional consegue captar estações fracas e distantes?
a) ANTENA
Uma boa antena é fundamental para uma boa recepção. A antena deve "colher" o máximo possível da energia eletromagnético e enviá-la ao receptor. Quanto mais energia for colhida, maior será a intensidade do sinal e portanto melhor a recepção.
Uma boa antena deve ter dimensões compatíveis com a faixa de frequências recebida e localização que impeça que sinais interferentes e ruídos também sejam captados.
Nem todos os leitores dispõem de espaço para a instalação de uma boa antena externa, no entanto existem antenas internas boas que podem ser usadas com eficiência. Damos a seguir alguns tipos de antenas.
Na figura 1 temos uma antena "L" invertido que ‚ uma antena bastante popular para escuta de ondas curtas.
O comprimento do braço maior do L pode variar entre 4 e 40 metros e o importante é que ela seja bem isolada por "castanhas" de porcelana ou plástico.
O fio usado deve ser nú grosso (12 a 16) e o posicionamento deve ser tal que linhas de transmissão de energia elétrica não passem perto.
O cabo de ligação da antena ao receptor, se ela ficar longe, deve ser blindado ou ainda um fio encapado.
Na figura 2 temos um dipolo que é uma antena direcional e que tem seu maior rendimento na frequência que corresponde à metade de seu comprimento.
Também devemos ter cuidado na isolação dos ramos da antena e o fio de descida deve ser blindado. Este tipo de antena pode ser usado dentro de caso, desde que não fique próxima de objetos de metal ou linhas de transmissão de energia.
Para os que possuem pouco espaço ou moram em apartamentos uma antena vertical do tipo telescópica ou mesmo feita com uma haste de metal é interessante. Na figura 4 temos uma antena deste tipo.
Para um bom rendimento na faixa de ondas curtas, esta antena deve ter pelo menos 3 metros de comprimento. Na instalação ela deve ficar bem isolada e afastada da parede pelo menos uns 20 cm.
b) TERRA
Muitos ouvintes de ondas curtas não dão muito valor à ligação à terra, mas ela é fundamental para se obter uma boa recepção.
Os sinais que são captados pela antena descem até o receptor e precisam de um percurso completo para a terra para que possam atuar sobre os circuitos. Este percurso significa que deve haver um prosseguimento da corrente para a terra, conforme mostra a figura 5.
Sem este percurso o rendimento do circuito cai e, mesmo com uma boa antena, a recepção pode ficar prejudicada.
A ligação à terra precisa ser tão boa como a antena. Temos diversas possibilidades para fazer uma boa ligação à terra, conforme as condições locais.
A primeira e melhor consiste em se enterrar uma barra de metal de pelo menos 1 metro de comprimento no chão, o qual deve ser úmido, conforme mostra a figura 6.
A ligação a esta barra pode ser feita com fio comum encapado.
Para o caso de não termos acesso à terra no local em que está o rádio, um apartamento ou segundo andar de uma casa, temos outras alternativas.
Uma delas consiste no uso do dipolo onde o segundo ramo da antena faz as vezes de terra, conforme mostra a figura 7.
Para outros tipos de antenas podemos também usar um fio longo que fique estendido de preferência do lado oposto ao que se encontre a antena, conforme mostra a figura 8.
Uma alternativa interessante para a ligação à terra consiste no aproveitamento do polo neutro da tomada.
No entanto, dependendo do local, por este polo também podem entrar ruídos, o que significa que nem sempre sua utilização é interessante. É preciso verificar antes.
Na figura 9 mostramos como identificar o polo neutro da tomada usando uma lâmpada neon.
Tocando a lâmpada no polo vivo ela acende, enquanto que no polo neutro não.
Também podemos usar como terra qualquer grande objeto de metal que esteja em contacto com a parede, chão ou mesmo a própria terra tal como uma esquadria de janela ou porta de alumínio, usando para esta finalidade uma garra jacaré, conforme mostra a figura 10.
Observamos que a ligação à terra é fundamental nos rádios transistorizados, já que nos tipos ligado à rede, pode haver um percurso para a terra através da fonte de alimentação.
c) PRÉ-SELETORES
A finalidade de um pré-seletor é casar a impedância da antena na frequência que está sendo recebida com a impedância de entrada do receptor.
Com uma diferença muito grande de impedâncias ocorrem perdas no sinal e, portanto, uma queda no rendimento.
Observamos ainda que a impedância depende da frequência que está sendo recebida e das dimensões da antena, o que quer dizer que uma antena de determinado comprimento, que deve ser usado numa faixa muito ampla (3 a 30 MHz, tipicamente) apresenta variações de comportamento bastante amplas.
Na figura 11 temos um exemplo de como o rendimento pode variar levando em conta que a antena está sintonizada numa única frequência.
Com o uso do pré-seletor entre a antena e o receptor casamos, dentro de certas possibilidades, as impedâncias e com isso melhoramos a recepção.
Na figura 12 temos um circuito de pré-seletor que o leitor pode montar para usar com seu receptor de ondas curtas, qualquer que seja seu tipo.
O aspecto desta montagem é mostrado na figura 13.
A bobina L1 é enrolada num bastão de ferrite de 1 cm de diâmetro aproximadamente com fio 26 a 28 constando de 40 espiras com tomadas de 4 em 4 espiras.
Com esta bobina podemos pré-selecionar estações de 3 a 30 MHz melhorando assim a recepção e ajudar do na rejeição de sinais interferentes fortes ou ruídos.
O capacitor variável pode ser aproveitado de algum velho rádio de válvulas com capacitância máxima entre 120 e 300 pF. Também pode ser usado um capacitor variável miniatura para a faixa de AM com 120 a 250 pF de capacitância.
d) BOOSTERS
Os boosters ou amplificadores de sinais são circuitos que aumentam a intensidade dos sinais fracos sendo instalados entre a antena o receptor ou ainda entre o pré-seletor e o receptor, conforme mostra a figura 14.
Temos diversos circuitos de boosters neste site com ganhos que variam conforme o tipo e quantidade de transistores usados.
Os boosters devem ser circuitos com baixo ruído pois, pelo contrário, aparecem no receptor o ruído que o próprio circuito gera.
Os boosters podem ser aperiódicos ou sintonizados. Dizemos que um booster é aperiódico ou não sintonizado quando ele amplifica indistintamente todos os sinais de uma determinada faixa de frequências sem a necessidade de um circuito de sintonia, conforme mostra a figura 15.
Neste circuito o transistor praticamente amplifica tudo entre alguns quilohertz até seu limite de operação, sem distinção de frequências.
A desvantagem deste circuito é que se houver um sinal muito forte no local ele pode amplificá-lo a ponto dele saturar o circuito e com isso se espalhar interferindo na recepção dos demais.
Na figura 16 temos um circuito de booster sintonizado em que o transistor recebe apenas o sinal da frequência que deve amplificar.
Neste circuito, os sinais de outras frequências, ruídos e outros são eliminados não afetando assim a recepção.
Os boosters são interessantes quando usamos receptores com circuitos de baixo rendimento como por exemplo rádios comerciais.
e) FILTROS
Nas grandes cidades principalmente, a recepção pode ser muito prejudicada por ruídos e interferências geradas por diversos tipos de aparelhos.
A principal fonte de ruído é a rede elétrica por onde se propagam transientes gerados por diversos tipos de equipamentos.
Motores, lâmpadas fluorescentes, computadores e aparelhos diversos geram radiofrequências que podem se propagar pela rede de energia chegando até o receptor afetando assim seu funcionamento.
Se a interferência vem via rede de energia podemos nos "livrar dela" com a ajuda de um filtro, conforme mostra a figura 17 e que serve para aparelhos alimentados pela própria rede.
A bobina consta de 40 ou 50 voltas de fio 22 ou mais grosso num bastão de ferrite e os capacitores devem ser de poliéster com uma tensão de trabalho de pelo menos 450 volts.
No entanto, os ruídos também podem se propagar pelo espaço e são captados pelas antenas instaladas muito próximas das redes de energia ou mesmo por um receptor portátil que seja colocado próximo de tomadas ou fios da instalação.
Neste caso, os ruídos são evitados pela identificação do local pelo qual chegam ao receptor e seu afastamento dos mesmos.
Um filtro interessante é o que rejeita sinais de uma única frequência, mostrado na figura 18.
Se o leitor mora perto de uma estação de rádio muito forte, AM por exemplo, seus sinais podem ser recebidos por um rádio espalhando por todas as faixas e impossibilitando assim a escuta de estações fracas.
O sinal da estação indesejável deve ser rejeitado e o filtro mostrado faz isso. O capacitor variável deve ser ajustado para a frequência da estação.
Para a faixa de ondas médias a bobina tem 100 espiras de fio 28 num bastão de ferrite de 0,8 a 1 cm de diâmetro e o variável é de rádio AM comum.
Quando não há meio de se evitar que os sinais interferentes ou ruídos cheguem ao receptor, podemos melhorar a recepção com uma filtragem no áudio.
Para isso, podemos usar um filtro de áudio como o mostrado na figura 19.
O que ocorre é que o batimento entre duas estações muito próximas produz um apito que pode ser eliminado pelo estreitamento da faixa de sintonia. Isso‚ conseguido com o melhoramento do fator Q ou estreitamento do canal de som.
A bobina consta de 500 espiras de fio fino (30 ou 32) num bastão de ferrite de 0,8 a 1 cm de diâmetro e de 10 a 20 cm de comprimento com tomadas de 50 em 50 espiras.
Ajustamos a chave para a posição em que tenhamos a melhor recepção da estação desejada.
OUTROS TRUQUES
Os sinais das estações que desejamos ouvir nem sempre vem da mesma direção e as antenas que usamos, com exceção das verticais, têm uma certa diretividade.
Desta forma ‚ interessante que o leitor disponha de mais de uma antena de ondas curtas, orientadas em direções diferentes e use uma chave para fazer sua comutação.
Este recurso tem a vantagem de podermos rejeitar sinais de estações fortes e captar estações fracas que incidam num ângulo mais favorável da antena, conforme sugere a figura 20.
Televisores antigos, principalmente os valvulados são poderosas fontes de interferências na faixa de ondas curtas. Evite usar ao mesmo tempo um aparelho destes em sua casa quando estiver procurando por estações fracas ou distantes.
Instale se for o caso seu rádio ou antena bem longe destes aparelhos e suas antenas.