Para os técnicos veteranos das regiões mais afastadas dos grandes centros a entrada de um equipamento valvulado na oficina não é novidade. Na verdade, uma pesquisa recente revelou que uma boa parte dos televisores em funcionamento nas regiões mais pobres do país ainda é do tipo válvulado. No entanto, para o técnico novo, o estudante ou mesmo o amador que deseje recuperar uma "raridade" ganha de uma tia ou avó, a presenças das válvulas é algo que assusta. Como reparar valvulados é o que veremos neste artigo com algumas "dicas" importantes para os leitores mais jovens (e mesmo para os veteranos que as esqueceram).
Os equipamentos modernos usando circuitos integrados e transistores estão em toda a parte e normalmente dão muito pouco de "dor de cabeça" aos seus possuidores pois quando quebram ou estão na garantia ou então já se tornaram obsoletos sendo mais interessante comprar um novo.
No entanto, os equipamentos valvulados ainda existem e muitos técnicos com frequência são visitados por clientes que desejam fazer sua reparação ou mesmo eles desejam colocar algum equipamento deste tipo em funcionamento por motivos sentimentais ou históricos.
A vinda de um equipamento valvulado a uma oficina pode ter três motivos:
* A região é pobre e a maioria das pessoas ainda têm televisores, rádios e outros equipamentos antigos em funcionamento não podendo comprar os novos.
* O aparelho tem valor sentimental muito grande para o possuidor. São pessoas de idade que gostam do seu "primeiro rádio" ou ainda os mantém como novos por terem sido presente de pessoas que gostam ou ainda por confiarem mais na "antiga tecnologia".
Lembramos que da mesma forma que móveis antigos podem ter muito valor se recuperados, os rádios e aparelhos (vitrolas) antigas se "recuperados" e deixados como novos podem ter um valor muito grande para colecionadores ou mesmo para pessoas que tenham decorações antigas em suas casas e queiram manter a "harmonia" do ambiente com um aparelho da mesma época (que funcione.
O técnico esperto que souber recuperar tais aparelhos pode vendê-los a preço de ouro!
Um rádio antigo em estado de novo vale mais que um novo com a tecnologia de nossos tempos. Pensem nisso!
* O aparelho tem valor histórico, sendo mantido por colecionadores que desejam mantê-lo em bom estado, custe o que custar independentemente de seu valor real.
Dica Para Ganhar Dinheiro:
Se voc6e tem rádios antigos ou toca-discos antigos, do tempo das válvulas, você pode recuperá-los e deixá-los como novos! Colecionadores ou pessoas que tenham decoração antiga em suas casas pagarão um bom dinheiro por um aparelho destes que esteja com aparência de novo e ainda funcione!
OS CIRCUITOS VALVULADOS
Na maioria dos casos os circuitos valvulados tanto de televisores como de rádios e equipamentos de som são simples. As válvulas, além de consumirem muita energia e serem grandes (e caras) não eram usadas em coisas complexa por motivos óbvios.
Assim, encontramos nos equipamentos antigos uma variedade de tipos de válvulas relativamente pequena. Algumas centenas de tipos correspondem a tudo que existia antigamente e um manual completo de válvulas (diferente de um de transistores) podia ser encontrado com facilidade.
Muitos técnicos antigos ainda possuem tais manuais.
Os tipos das válvulas basicamente se diferenciam pelo número de eletrodos e pela sua potência (corrente de anodo e tensão de anodo). Os principais tipos com seus aspectos são mostrados na figura 2.
Nos aparelhos da década de 40 e 50 eram usadas válvulas grandes que depois foram substituídas pelas pequenas.
Estas válvulas são encaixadas em suportes padronizados que facilitam a sua troca. Observe que existem dois tipos de encaixe para estas válvulas que são mostrados na figura 3.
Num primeiro tipo, usado nos equipamentos mais antigos a base da válvula possui um pino que tem um ressalto-guia que permite ela se encaixe apenas em determina posição. Nas mais modernas o soquete tem um pino ausente de modo que ela só se encaixa numa determina posição.
A identificação dos pinos da válvula é feita com a sua contagem a partir do ressalto ou pino ausente no sentido horário conforme mostra a figura 4.
Como os transistores, as válvulas têm diversos tipos o que quer dizer que, num aparelho a ser reparado não podemos colocar num soquete qualquer válvula que nele se encaixe e que o aparelho funcionará.
A válvula substituta deve ter o mesmo tipo. Isso significa que as letras e números marcados numa válvula são importantes para se obter a nova que deve ser igual.
TENSÃO DE ALIMENTAÇÃO
Uma característica importante da maioria dos circuitos valvulados é que eles operam com tensões muito mais altas que as usadas nos circuitos transistorizados.
Assim, as fontes de alimentação dos equipamentos valvulados podem operar com tensões que vão de 150 a 450 volts e até mais.
Nos equipamentos mais simples esta tensão pode ser obtida diretamente da rede de energia como, por exemplo, em alguns rádios antigos com o circuito da figura 5 que, em lugar de usar diodos comuns usa uma válvula diodo para retificar a corrente.
Nos circuitos que precisam de tensões mais elevadas são usados transformadores, como o mostrado na figura 6 que além da alta tensão, também fornece uma tensão mais baixa para os filamentos, conforme veremos mais adiante.
Se bem que a tensão seja alta, mesmo nos circuitos de potências elevadas tais como amplificadores de áudio e mesmo televisores as correntes são baixas ficam normalmente em menos de 1 ampère.
De qualquer forma, o uso da alta tensão quer isolada ou não pelo transformador, significa que o técnico deve ter um cuidado especial no manuseio do equipamento ligado.
Medidas de tensão ou outros trabalhos com o equipamento ligado devem ser feitos com o máximo de cuidado pois os choques não são apenas desagradáveis em alguns casos, mas podem ser até bastante perigosos.
A presença de capacitores eletrolíticos de valores elevados carregados com tensões de 150 a 450 volts faz com que qualquer curto acidental provoque verdadeiros "estouros", que fará o técnico menos cuidadoso levar sustos enormes!
Evidentemente, pelas necessidades de grande quantidade de energia são muito raros os equipamentos valvulados que funcionam com pilhas ou bateria ou mesmo no carro.
Os antigos rádios de carro valvulados (da década de 40 a 50) usavam "vibradores" que eram dispositivos que geravam a partir dos 12 V da bateria a alta tensão necessária para as válvulas. O leitor de sorte pode achar um deles numa sucata, num depósito de coisas muito antigas ou num museu!
Na figura 7 mostramos um desses antigos "vibradores".
Uma aplicação interessante de um destes dispositivos que ainda funcione é como "máquina de choque" eletrificando cercas ou outros objetos a partir de uma bateria de 12 V.
O FILAMENTO
As válvulas possuem filamentos de tungstênio como as lâmpadas os quais devem ser aquecidos por uma baixa tensão para que elas funcionem.
Assim, as válvulas "acendem" e isso pode ser facilmente observado quando um aparelho valvulado funciona.
O não acendimento de uma válvula ou de diversas delas indica que algo vai mal.
Nos aparelhos comuns valvulados as tensões de alimentação podem variar entre 3 a 50 volts tipicamente. O circuito vai determinar como os filamentos são alimentados.
Assim, existem aparelhos antigos em que os filamentos são ligados em paralelo a um secundário de baixa tensão do transformador principal, denominado transformador de força ou alimentação, conforme mostra a figura 8.
Neste caso, todas as válvulas alimentadas devem ter a mesma tensão de filamento (por exemplo, 6,3 volts) e como estão em paralelo se uma queimar, apenas ela deixará de funcionar ou acender.
No entanto, existem aparelhos em que as válvulas estão com os filamentos em série conforme mostra a figura 9.
Fica evidente, neste caso, que se uma delas for retirada do circuito ou seu filamento queimar todas as demais deixam de receber alimentação e apagam.
O leitor deve então ter cuidado ao observar um aparelho que tenha todas as válvulas apagadas ao ser ligado não julgando logo que todas estejam queimadas.
O QUE ACONTECE COM AS VÁLVULAS
As válvulas podem apresentar três tipo de problemas que impedem que os aparelhos em que elas se encontrem funcionem corretamente.
a) Queima
A queima é a interrupção do filamento. Se, por algum motivo (desgaste ou excesso de corrente) o filamento se romper a válvula deixa de funcionar (nem sequer acende).
Um teste com o multímetro pode ser feito para se verificar a continuidade do filamento conforme mostra a figura 10.
Se bem que em algumas válvulas seja possível identificar visualmente quais são os pinos do filamento, o melhor mesmo é contar com o diagrama ou um manual para fazer isso.
b) Enfraquecimento
Com o tempo os eletrodos das válvulas vão perdendo suas características de emissão de elétrons e com isso a válvula "enfraquece" alterando suas características.
Quando isso ocorre os rádios perdem sensibilidade, passam a distorcer o som, não sintonizam apropriadamente as estações, etc. Os televisores apresentam problemas correspondentes com as imagens que podem perder o contraste, luminosidade, aparecerem chuviscos, etc.
Não se pode perceber se uma válvula está fraca pela simples observação, pois ela acende normalmente. Para testar as válvula sverificando isto as antigas oficinas tinham "provadores de válvulas" aparelhos próprios para esta finalidade com a aparência mostrada na figura 11.
c) Curto-circuito
Pode ocorrer dos eletrodos internos da válvula encostarem uns nos outros por algum motivo qualquer.
Quando isso acontece a válvula não mais funciona e precisa ser substituida.
OUTROS COMPONENTES DOS EQUIPAMENTOS
Rádios, televisores e outros equipamentos antigos possuem outros componentes que podem trazer problemas de funcionamento.
Podemos citar em primeiro lugar os capacitores de papel e óleo, cuja aparência é mostrada na figura 12.
Com indicação de valor em "mfd" ou "mmfd" para microfarads e picofarads (micro-microfarads) estes capacitores absorvem umidade com o tempo e passam a apresentar fugas elevadas que afetam o funcionamento do aparelho.
Se a resistência de um destes componentes for inferior a 1 M ohms ele deve ser trocado ou por um capacitor de poliéster (de pelo menos 400 V) se o circuito for de áudio ou de styroflex ou cerâmico se o circuito for de RF.
Outros componentes que se deterioram facilmente com o tempo são os eletrolíticos que "ressecam" perdendo a capacitância ou mesmo apresentando fugas.
Estes capacitores devem ser trocados.
UM CIRCUITO TÍPICO ANALISADO
Na figura 13 temos um circuito típico de um rádio antigo valvulado que o próprio leitor pode ter em algum canto de sua casa abandonado ou ainda ser "convidado" a recuperar por um cliente.
Este é um dos mais tradicionais circuitos de rádio de 5 válvulas e que pode ser ainda recuperado com certa facilidade.
Os filamentos são ligados em série e alimentados pela rede de energia diretamente havendo um resistor redutor. Em alguns rádios antigos deste tipo o resistor redutor era "embutido" no próprio cabo de alimentação feito com material resistivo o que os mantinha levemento aquecidos quando o rádio funcionava. Esta característica levou estes receptores a receber o apelido de "rabo quente".
Neste circuito uma válvula 12BE6 funciona como oscilador/misturador aplicando o sinal de FI a uma 12BA6 que os amplifica. A válvula 12AV6 que vem a seguir funciona tanto como detectores com a aplicação dos sinais em dois eletrodos especiais nos pinos 5 e 6 como também como triodo pré-amplificador de áudio.
Os sinais de áudio obtidos no anodo desta válvula são levados as grades 2-5 de uma 50C5 que funciona como saída de potência alimentando o alto-falante através de um pequeno transformador.
A fonte de alimentação consta de uma 35W4 (simples diodo) e um eletrolítico duplo de 50+50 uF.
Observe que os números antes de cada tipo de válvula representa a tensão do seu filamento.