Os defeitos apresentados em um televisor envolvem duas categorias: aqueles que deixam o receptor completamente inoperante e aqueles que deixam o mesmo em mau funcionamento. Completamente inoperante significa sem brilho ou luminosidade na tela e sem som no alto-falante. Parcialmente inoperante é o caso em que o televisor apresenta brilho, mas não tem imagem, ou tem brilho, mas não tem som nem imagem, ou então, tem brilho e imagem, mas não tem som. A presença de brilho também é tida, nos meios técnicos, como presença de trama.
Em qualquer dos casos exemplificados aqui podemos usar um osciloscópio para pesquisar o estágio defeituoso. Como todo televisor é dotado de circuitos amplificadores ou manipuladores e de circuitos geradores de sinal, então na pesquisa de sinais com osciloscópio pode haver ou não a necessidade de injeção de sinal apropriado na entrada dos circuitos que estão sendo analisados. Num televisor a cores, por exemplo, é bastante comum a necessidade de se aplicar o sinal de um gerador de barras coloridas na entrada de antena do aparelho, enquanto se pesquisa o mesmo sinal através dos circuitos amplificadores e manipuladores.
Chamamos de manipuladores àqueles circuitos que operam, separando sinais, modificando a forma dos sinais, comparando sinais, filtrando sinais, demodulando sinais, ou mesmo atenuando, somando ou misturando sinais. Geradores são aqueles circuitos que trabalham de maneira independente, "produzindo" seu próprio sinal. Nesta categoria estão incluídos os osciladores e os geradores de varredura. A figura 1 mostra como é feita a pesquisa do sinal de vídeo dentro de um circuito amplificador de vídeo e a figura 2 mostra a pesquisa do sinal que é gerado em um oscilador horizontal.
No caso da figura 1, o sinal observado é chamado de "sinal composto de vídeo". Este sinal pode ser obtido de uma emissora que esteja operando no momento ou obtido de um gerador de barras que é ligado aos terminais de antena do televisor. Este sinal composto de vídeo, como pode-se observar na figura 1, contém o sinal de vídeo, propriamente dito, e os sinais apagador horizontal e sincronismo horizontal, todos numa só forma-de-onda. Este sinal pode ser no circuito amplificador de vídeo de qualquer televisor, desde que esse circuito esteja funcionando corretamente. Observe a inversão de fase que é produzida no sinal a cada estágio que o mesmo atravessa.
Para obter essa forma-de-onda no osciloscópio, é necessário que a chave seletora de base-de-tempo ou frequência de varredura horizontal (X) do mesmo esteja posicionada para um tempo aproximado de 127 µseg, ou numa frequência de aproximadamente metade da frequência de varredura horizontal do televisor. A frequência de varredura horizontal, ou de linha, de um televisor em branco-e-preto é 15.750 Hz e de um televisor a cores é de 15.734 Hz. Daí a seleção do gerador de varredura horizontal do osciloscópio para metade daquela frequência (H/2) situar-se em aproximadamente 7,9 kHz.
Um televisor que se apresenta com falta de imagem, com falta de som, mas que tem brilho na tela, pode ter qualquer um dos seguintes circuitos com defeito:
— Seletor de Canais;
— Amplificador de F.I. de Vídeo;
— Detector de Vídeo;
— 19 ou 29 Amplificador de Vídeo;
— Controle Automático de Ganho (C.A.G.).
Conectando um gerador de barras na entrada de antena ou sintonizando o televisor para um canal operante, e ligando a "entrada vertical" do osciloscópio para qualquer um dos estágios mostrados na figura 1, permite saber em qual circuito se encontra o defeito. Se, por exemplo, a tomada de sinal na saída do detector de vídeo não apresenta uma forma-de-onda semelhante àquela mostrada na figura 1, ou seja, a tela do osciloscópio não mostra "nada", a não ser um traço horizontal, a indicação é de que o defeito se encontra no seletor de canais, no amplificador de vídeo, ou mesmo no C.A.G. Se, pelo contrário, a forma-de-onda do "sinal composto de vídeo" pode ser obtida na saída do estágio detector de vídeo, então a indicação é de que o defeito está no primeiro ou no segundo estágio amplificador de vídeo.
O passo seguinte será passar a ponta-de-prova do osciloscópio para a saída do 19 amplificador de vídeo. O aparecimento da forma-de-onda na saída desse estágio indica o seu bom funcionamento. O não aparecimento da forma-de-onda indica que o 1° estágio amplificador de vídeo está funcionando, e que o defeito só pode se encontrar no 29 estágio amplificador de vídeo. Resta então passar a ponta--de-prova para a saída deste circuito para uma comprovação final. Esta última tomada não deve mostrar a forma-de-onda do sinal composto de vídeo.
Após ter determinado em qual estágio se encontra o defeito, passa-se a uma verificação dos componentes do mesmo, agora com auxílio de um multímetro. A figura 2 mostra uma forma-de-onda aproximada que pode ser obtida na saída de um circuito oscilador horizontal. A existência, ou não, dessa forma-de-onda indica o funcionamento, ou não, do circuito oscilador horizontal do televisor sob teste.
Sempre que se pretende pesquisar sinais com auxílio de um osciloscópio convém, antes, estar de posse de um esquema ou manual de serviço do aparelho que se pretende consertar. O fabricante do televisor costuma indicar a forma de onda correta que pode ser obtida de um circuito, além de indicar todas as condições necessárias. As condições que comumente são descritas pelo fabricante são:
— Sinal que deve ser aplicado na entrada do circuito sob teste (caso da figura 1).
— Condições de operação do circuito sob teste, tais como, tensão da rede, tensão D.C. de alimentação, posição dos controles, etc. (caso da figura 2).
— Ponta de prova utilizada.
— Tolerâncias permitidas.
— Ponto de referência para tomada da forma de onda.
Além de se fazer uma pesquisa de sinal em circuitos que se encontram completamente inoperantes, como foram os casos citados aqui, pode-se, com um osciloscópio, analisar o "bom" ou "mau" funcionamento de um circuito. Nesta categoria de defeito podemos incuir:
a. Amplificação de tensão insuficiente.
b. Deformação na forma-de-onda.
c. Frequência com valor alterado.
Para os casos a e b, necessita-se a aplicação de um sinal na entrada do circuito sob teste, conforme foi feito para a figura 1. No caso a, por exemplo, o fabricante costuma indicar o valor da tensão pico-a-pico que pode ser obtida para determinado sinal na saída de um circuito sob condição de que na entrada do mesmo seja aplicado um sinal com valor especificado. A figura 3 mostra o caso de um típico televisor a cores, cujo fabricante indica que a operação do segundo estágio amplificador de luminância estará normal sempre que se aplicar na entrada de antena um gerador de barras coloridas, os controles de luminosidade e contraste estão em posição média e a tensão pico-a-pico da forma de onda for aquela indicada na figura.
Observe a inversão de polaridade que o sinal sofre ao passar pelo circuito e o ganho de tensão que o mesmo recebe. Na entrada, o sinal composto de vídeo tem polaridade negativa e um valor de tensão pico-a-pico igual a 2 volts. Na saída do circuito, o sinal tem polaridade positiva e 60 volts pico-a-pico. O fabricante também indica que, para a obtenção dessa forma de onda no osciloscópio, é necessário que a varredura horizontal do mesmo esteja posicionada para H/2, ou seja, para metade da frequência de linha (15.750Hz/2).
Um valor de tensão p-p menor do que o indicado para o sinal de saída do circuito, indica que a amplificação de tensão do mesmo está insuficiente. Por outro lado, uma "não inversão" do sinal indica um curto-circuito no interior do transistor que opera neste estágio. No primeiro caso, o sintoma apresentado pela deficiência na amplificação é uma "falta de contraste" na imagem. No segundo caso, a imagem se apresentará "negativa".
As figuras 4 e 5 mostram casos de deformação na forma-de-onda obtida de dois circuitos distintos. A figura 4 mostra uma forma de onda que pode ser obtida em um circuito amplificador de luminância e a figura 5 mostra uma forma de onda que pode ser obtida de um circuito de varredura horizontal. Em (a) vê-se uma forma de onda quando o circuito opera corretamente e em (b) quando há alguma irregularidade no circuito em questão. No caso da figura 4(b), o sintoma apresentado pelo televisor é uma falta parcial de sincronismo horizontal, ou seja, a imagem "bamboleia" e sai fora de sincronismo ao menor sinal de ruído exterior. Já no caso da figura 5 (b), o sintoma apresentado é um "enrugamento" na parte esquerda da tela, com aparecimento de duas estrias verticais claras no lado esquerdo da imagem.
Como se pode perceber, o emprego de um osciloscópio na reparação de um televisor é, na fase técnica atual, quase que imprescindível para um trabalho mais perfeito e lucrativo. Sempre que possível, incluiremos nesta seção, algumas "dicas" para utilização de osciloscópio na pesquisa de defeitos
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