No passado éramos estimulados em nossas escolas a criar “clubes de ciências” em que nos reuníamos para repetir experimentos aprendidos nas aulas teóricas e práticas e para criar coisas novas, inclusive visando feiras de ciências. O enfoque mudou, mas a ideia básica se mantém como trataremos neste artigo.

Eu mesmo em meus tempos de estudante do ginásio e depois colégio na Penha em São Paulo participava de um clube de ciências que montamos no porão da fábrica do pai de um amigo nosso que até hoje mantemos contato. Havia uma oficina em que trabalhávamos e tínhamos a vantagem do acesso a algumas ferramentas da própria fábrica. Montamos coisas interessantes.

O próprio Cambraia (como se chamava o meu colega, hoje engenheiro e proprietário da indústria do pai, que dá continuidade com seu filho) montou um locomóvel fantástico, não muito diferente do da foto mas em menor escala.

 

Figura 1 - Locomóvel – Foto da internet de produto vendido em kit
Figura 1 - Locomóvel – Foto da internet de produto vendido em kit

 

 

Hoje, seguindo a mesma linha, montamos o Parafuso de Arquimedes, como temos feito numa série de lives de grande sucesso.

Posteriormente, já trabalhando na edição de revistas, a revista Experiências e Brincadeiras com Eletrônica criei uma seção dedicada aos Clubes de Ciências, com enfoque na eletrônica, que era a atividade minha principal, estimulando a criação de grupos. Muitos foram formados, nos enviando relatos de suas atividades, as quais publicamos.

Até demos uma ideia de uma “carterinha” que os grupos poderiam adotar para identificar seus membros., além de dar muitos projetos de todos os níveis, como fazemos hoje nesta revista. E, isso foi nos anos 90. Na figura 2 mostramos a revista e um dos artigos dedicados aos clubes.

 

Figura 2 – Seção de clubes na revista Experiências e Brincadeiras com Eletrônica Jr e exemplares da minha coleção.
Figura 2 – Seção de clubes na revista Experiências e Brincadeiras com Eletrônica Jr e exemplares da minha coleção.

 

 

O tempo passou e a ideia de termos atividades envolvendo ciência e tecnologia não mudou. Mudou apenas o nome. Hoje chamamos de Espaços Maker ou ainda de Fablabs.

Mas, o mais importante é que a ideia dessas associações, clubes ou espaços cresceu em importância, tanto devido presença cada vez maior da tecnologia em nossas vidas como também ao fato de que as próprias escolas, seguindo as normas da BNCC precisam ensinar ciência e tecnologia de uma forma mais abrangente. O projeto STEM entra em ação.

STEM significa Science, Technology, Engineering and Mathematics. Depois foi acrescentada a sigla A de Arts, tornando-se STEAM. Trata-se de projeto aprovado em 2007 pelo governo Obama nos Estados Unidos para implementar o ensino dessas disciplinas desde as primeiras séries do ensino fundamental (K5).

Tivemos a satisfação de ver nosso livro Robotics, Mechatronics and Artificial Intelligence ser recomendado pelo IEEE como base para a aplicação desse programa nos Estados Unidos.

 


 

 

 


 

 

 

O livro precisa de atualização e estamos trabalhando nisso, com edições em português que tratam do mesmo assunto. Na verdade, temos o livro Manual Maker, que é indicado como guia de iniciação para os que desejam montar um espaço maker, ou um clube de ciências dentro dos moldes modernos.

Na verdade, essa ideia de atividade maker está tomando vulto e saindo das escolas. Já temos programas de TV, espaços abertos ao público e até mesmo condomínios com salas especialmente dedicadas a isso. Assim, foi na minha cidade que The Brick, o primeiro residencial Maker do Brasil foi lançado em 2020.

 

Espaço Maker no The Brick.
Espaço Maker no The Brick.

 

 

E é claro, temos organizações como o SESI e outros.

A ideia de ter um espaço maker dentro de sua escola não atende apenas à necessidades dos alunos. Hoje temos uma filosofia de compartilhamento como a do site do autor (www.newtoncbraga.com) que visa compartilhar conhecimentos técnicos das áreas de eletrônica, mecatrônica, física, etc.

Uma escola pode criar um espaço maker com uma finalidade social maior, compartilhando-o com a comunidade. O tempo ocioso e mesmo os fins de semana poderiam ser aproveitados para abrir o espaço não apenas para ministrar atividades aos que desejam ter um conhecimento sobre o assunto e que tenham poucos recursos, ou ainda pais de alunos como até mesmo para os makers já avançados que poderiam fazer uso de ferramentas e instrumentos com que não podem contar em suas casas.

Um programa de “reservas” de espaço e de uso de ferramentas poderia ser criado e até mesmo “oficinas” criadas por pais de alunos, professores ou amigos do espaço visando determinados recursos tecnológicos como o uso de impressoras 3D, microcontroladores e muito mais.

Sem dúvida, muito além da Feira de Ciências ou do Evento Cultural, o Espaço Maker conseguiria uma integração da ciência e da tecnologia com a comunidade. E lembramos que o espaço maker não é apenas eletrônica e robótica, mas muito mais abrangendo qualquer tecnologia o atividade manual, os antigos “trabalhos manuais das escolas” como artesanato, pintura, moda, culinária, jardinagem e muito mais. Pensem nisso educadores do presente que pensam no futuro.