Este artigo foi resumido de um antigo livro nosso que estará disponível para download no site, o Curso de TV e vídeo. Nele, fazemos uma pequena abordagem de como surgiu a TV, com destaque para a primeira fase de sua evolução que foi a TV analógica. O artigo foi originalmente escrito na década de 90, mas tem valor histórico, a não ser pelo ponto em que chegamos em nossos dias com a TV digital.

A televisão, que hoje é coisa absolutamente comum, pareceu por muito tempo ser algo impossível. No entanto, não existe a palavra impossível para o homem, e isso pode ser constatado com a máxima naturalidade no caso da TV de nossos dias.

Para os leitores que encontrarem dificuldades em entender certos termos técnicos de eletrônica sugerimos uma prévia leitura de nossos livros da série Curso de Eletrônica.

 

a) HISTÓRIA DA TV

Entre 1923 e 1927 a eletrônica estava muito pouco desenvolvida, se bem que o rádio ¡á existia e com ele a possibilidade de se "falar a distância". No entanto, nesta época já existiam pessoas que pensavam em fazer com a imagem o que o rádio fazia com a voz. Duas pessoas se destacaram nessas primeiras pesquisas de transmissão de imagens, mesmo trabalhando em locais diferentes. Um deles foi um escocês chamado John L. Baird, e outro um inglês chamado Philo Farnsworth.

 

Nota: não devemos esquecer os trabalhos de Landel de Moura no Brasil que também tiveram contribuição muito grande neste campo (veja artigos no site)

 

Como a eletrônica da época era muito pouco desenvolvida, para solucionar os problemas encontrados os inventores tinham de recorrer com frequência a outras ciências como, por exemplo, a mecânica, a química etc. Isso não foi dispensado também no caso das primeiras experiências de TV.

A ideia básica dos inventores era a mesma da TV atual: decompor a imagem a ser transmitida em "pontos", por meio de um disco perfurado, e depois recompor no local da recepção.

Na figura 1 temos uma ideia de como isso podia ser feito, e realmente o foi, nas primeiras experiências.

 


 

 

Girando rapidamente, os pontos furados do disco "varriam" a imagem, obtendo-se assim um sinal de níveis altos e baixos conforme as regiões percorridas fossem claras ou escuras.

A disposição dos furos em espiral permitia que em cada instante somente um ponto da imagem explorada fizesse sua luz incidir numa célula sensível. O sinal desta célula, uma corrente variável segundo o padrão de imagem, o que hoje chamamos de "sinal de vídeo", podia ser enviado a distância.

Para reproduzir, bastava então substituir a célula sensível por uma lâmpada, que então acenderia com os pontos de maior nível e permaneceria apagada com os pontos escuros. Na frente da lâmpada um disco exatamente igual ao transmissor, e sincronizado com ele, girava rapidamente. Desta forma, os pontos de claros e escuros reproduzidos pela lâmpada “caiam" na mesma posição que os correspondentes captados, conforme mostra a figura 2. Com isso, o observador que estivesse diante do disco receptor "veria” a imagem original captada a distância.

 


 

 

A velocidade com que o disco perfurado varria a imagem e o número de furos era o principal obstáculo à obtenção de uma imagem boa. Conforme veremos, esta qualidade depende do número de pontos que podemos obter, e que deve ser o maior possível.

As primeiras demonstrações em público de um sistema que usava este princípio de funcionamento ocorreram em 1926, e a partir daí ele passou a ser conhecido por "televisão".

Depois de aperfeiçoamentos, em 1927 à Bell Telephone Laboratories conseguia transmitir, através de uma linha telefônica, a imagem de uma pessoa de Washington a Nova York. A ideia de se fazer a captação da imagem por meios totalmente eletrônicos já havia sido lançada, mas esta ciência não estava preparada para produzi-lo na prática.

O cientista V. K. Zworykin, dos Estados Unidos, havia lançado a ideia de uma "câmera de vídeo" usando um tubo de vácuo com eletrodos sensíveis à luz, resultando no que posteriormente se denominou de “iconoscópio", e que por algum tempo era a "válvula" das câmeras de vídeo. (temos artigo que mostra como este tubo funciona).

Do iconoscópio, Vladimir K. Zworykin desenvolveu um novo tubo chamado "kinescópio", e a partir dele o cinescópio de TV como o conhecemos hoje. Com a possibilidade de tornar o sistema totalmente eletrônico, e de explorar a imagem muito rapidamente com uma melhor qualidade, estavam abertas as possibilidades de também se usar as ondas de rádio para sua transmissão.

As experiências com a TV eletrônica foram feitas em 1932 pela NBC, que colocou uma antena no topo do prédio mais alto do mundo até então, o Empire States Building, em Nova York, de onde realizou algumas transmissões.

Naquela época, entretanto, muitas empresas já procuravam desenvolver seus próprios sistemas, antevendo que a televisão viria a ser uma novidade de aceitação total. No entanto, havia uma confusão total sobre padrões, já que uns exploravam a imagem de um jeito e outros de modo completamente diferente. As "linhas' e 'quadros" variavam em número e frequência (figura 3).

 


 

 

Diante disso, foi criado um comitê para se estabelecer um padrão único.

Este comitê era patrocinado pela Radio Manufacturers Association, que depois passou a se chamar Eletronics Industries Association, cuja abreviação EIA é bem conhecida até hoje de todos os profissionais de eletrônica.

Já em 1931, houve uma distribuição dos "canais" que ocupariam a faixa de VHF, transmitindo um padrão de 525 linhas com 60 quadros por segundo e um entrelaçamento de 2 por 1, como mostra a figura 4.

 


 

 

A largura de faixa ocupada por cada canal era de 4,25 MHz (vídeo).

É claro que em outras partes do mundo foram adotados outros padrões como, por exemplo, a França, que optou por 819 linhas. Naquela época, entretanto, os receptores eram extremamente caros e não havia transmissões permanentes.

Foi somente depois da segunda grande guerra, em 1946, que começou a exploração comercial da TV nos Estados Unidos. Pouco depois, já existiam à venda receptores com 12 canais (numerados de 2 a 13) na faixa de VHF.

Os receptores não tinham o canal 1, pois este foi simplesmente abolido por serem as suas frequências ocupadas por outros serviços. Como os receptores já estavam presentes em muitos lares nesta época era inviável uma remodelação: simplesmente "cortou-se" o canal um.

 

Nota: veja no TEL110 artigo do site do autor que explica mais porque não existe o canal 1.

A partir daí a evolução foi rápida, com milhões de aparelhos vendidos e em seguida a possibilidade de se transmitir imagem em cores.

As tendências para o futuro são fantásticas, vindoa HDTV (TV de alta definição - digital), com maior número de “linhas” e portanto maior qualidade de imagem, já temos a TV por satélite (parabólicas), a TV Iterativa, em que é possível o telespectador participar de programas ou decidir o que vai acontecer, o sistema Multimídia, em que se juntam num sistema único o televisor, telefone, fax, computador, videocassete e até mesmo videogame, de modo a haver um funcionamento 'inteligente" (figura 5).

 


 

 

Chegamos então à TV digital que é a que domina, com a abolição completa das emissões de TV analógica.

É claro que existem ainda milhões de videocassetes, videogames e outros dispositivos que operam segundo o princípio da TV analógica antiga. Por esse motivo o conhecimento de seu princípio de funcionamento é ainda importante para recuperação desses equipamentos.

Os próprios componentes usados nos televisores evoluem: do cinescópio de raios catódicos pesados e frágeis já está gradualmente passando para os cinescópios ou displays de estado sólido com emissores de luz e semicondutores (LEDs) ou cristal líquido, e para os sistemas de projeção em tela.

Microprocessadores sofisticados, controles remotos, sistemas internos de programação, visualização simultânea de dois canais, indicação de hora, dois canais de som com línguas diferentes são alguns dos recursos que novos componentes agregam à TV.