Novamente embarco em minha máquina do tempo quântica indo em direção ao passado. Como sempre, visito o Antenor, um profissional da eletrônica de 1945, comentando assuntos técnicos da época e ajudando-o em seus projetos. Encontro-o na sua oficina trabalhando.
Encontro-o mexendo num toca-discos automático da época.
- Bom dia, Antenor, como vão as coisas?
- Não muito bem. Este “cambiador(1)” está com um comportamento estranho. Está manifestando “flutter(2)” na reprodução dos discos.
(Como adepto do som, este termo eu conhecia, mas certamente pode ser estranho para muitos. Você sabe o que é flutter?)
- Sim. Já verificou as correias de transmissão do movimento do motor? – perguntei.
O Antenor, como profissional competente já tinha feito das devidas verificações.
- Sim, até usei meu “growler(3)” para testar o próprio motor.
(Essa eu não conhecia. Tirei o meu celular onde gravei o almanaque do site e fiz a consulta. Você sabe o que é um growler?)
- E, do que você desconfia? – perguntei curioso.
- Veja que esse cambiador não é de marca de melhor qualidade. O motor usado não é dos melhores. Acho que pode ser um problema de “cogging(4)”.
- ?
(Mais uma vez pedi socorro ao almanaque através no meu celular. E você? Sabe o que é cogging?)
- Se é isso a melhor solução é trocar o motor. Mas não é melhor fazer uma verificação antes?
Certamente, seria necessário fazer medidas. O Antenor pediu então minha ajuda.
- Peque meu osciloscópio no armário. Tenho um velho “ondógrafo5”, mas neste caso acho que não serve para medir as baixas frequências.
- Ondógrafo?
(mais uma vez recorri ao meu almanaque. O leitor tem ideia do que seja um ondógrafo?)
Peguei o osciloscópio, tendo antes admirado o ondógrafo do Antenor, uma verdadeira relíquia, que depois ele me contou que comprou de um técnico que se aposentou. Na bancada, depois de ligar o osciloscópio e esperar que se aquecesse (era valvulado, obviamente), ele explicou.
- Temos que usar o “roll mode(6)” no nosso caso. Vou colocar um disco estroboscópico no prato e usar um “thalofide(7)” ligado e um amplificador para medir as variações de velocidade do motor.
(Mais dois termos pouco comuns. Sabe o que é roll mode num osciloscópio? E sabe também o que é um thalofide?)
- Resolvido. Trocamos o motor.
Observamos a forma de onda no osciloscópio e ela apresentava um sinal de modulação.
Satisfeito por ter acompanhando o Antenor nessa aventura arqueológica, me despedi e voltei para o futuro.
Significado dos termos usados:
(1) Cambiador
Este termo ainda é usado em alguns lugares entre os que usam toca-discos. Trata-se de um toca-discos automático que troca (cambia) os discos em sequência.
(2) Flutter – (ALM1715)
Flutuação da intensidade do som de um amplificador. Veja também Wow (ALM1431). Nos receptores consiste na rápida mudança da intensidade do sinal recebido afetando a reprodução.
(3) Growler – (ALM1741)
Provador auditivo de continuidade usado principalmente no teste de motores. Qualquer tipo de teste de continuidade que forneça uma indicação sonora também é chamado de growler.
(4) Cogging – (ALM1573)
Efeito que ocorre quando a armadura de um motor corta as linhas do campo magnético de maneira não uniforme. Isso faz com que sua rotação não seja uniforme, aumentando à medida que a armadura entra no campo e diminuindo quando sai. O resultado é uma oscilação da rotação. Essa oscilação modula o som reproduzido, afetando a reprodução.
(5) Ondógrafo – (ALM1862)
Aparelho registrador gráfico que desenha numa folha de papel que se movimenta uma forma de onda. O mesmo que registrador gráfico. Na figura um tipo antigo que originou o nome que hoje é pouco usado.
(6) Roll mode (ALM2234)
Nesta modalidade de operação, o sinal é apresentado na tela de um osciloscópio antes mesmo de se completar um ciclo de amostragem. Este modo de operação é interessante quando se observa sinais de frequências muito baixas.
(7) Thalofide – (ALM2034)
Também pode ser chamada de célula talófida. Trata-se de uma célula fotocondutiva (LDR) que usa o oxido-sulfeto de tálio com material sensível.
