Recursos eletrônicos simples podem levar a resultados importantes, e até inesperados, em setores que nada têm a ver com a eletrônica propriamente dita. Sugerimos neste artigo uma realização experimental que pode ter resultados úteis no campo da fonoaudiologia, principalmente no tratamento e recuperação de deficientes auditivos.
Obs. O artigo é de 1987.
E claro que não pretendemos dar soluções para problemas complexos como a perda da audição que pode ter diversas origens e que, quando a recuperação é possível, exige tratamento especializado.
Também não pretendemos impor o uso de nenhum equipamento que tenha sido resultado apenas de uma experimentação em laboratório de eletrônica e não do setor especializado.
O que propomos neste artigo é a montagem de um sistema que, levado aos profissionais da área, pode ter a resultados satisfatórios na ajuda de deficientes auditivos.
A sugestão é dada, ficando os resultados de seu uso e experimentação a cargo dos próprios leitores (desde que profissionais ou estudantes da área, ou acompanhados por orientadores do setor), os quais convidamos a nos escrever para relatar suas experiências.
A ideia é basicamente a seguinte:
No treinamento de deficientes auditivos, uma das grandes dificuldades consiste em se transmitir as “vibrações" correspondentes a determinados sons, para que o aluno possa senti-la, gravá-la na memória e, posteriormente, reproduzi-la por seus próprios meios.
Este problema é agravado no caso dos que têm perda total da audição, já que nem mesmo potentes amplificadores podem produzir algum resultado.
Um dos meios que se utiliza no treinamento do deficiente consiste em fazê-lo sentir através do tato (apalpando) as vibrações da garganta da pessoa que fala, emitindo o som analisado.
Outro meio mais moderno consiste na utilização de amplificadores, os quais ligados a "vibradores" que nada mais são do que alto-falantes, podem ser tocados pelos dedos do deficiente, que então sentirá as vibrações do som. (figura 1)
A utilização do tato, de maneira constante, na percepção de sons e vibrações, faz com que os deficientes logo tenham este sentido bastante desenvolvido, a ponto de poder usá-lo mesmo em substituição ao que lhe falta.
A sugestão que damos consiste na excitação do tato através de pequenas correntes elétricas reguláveis, as quais podem causar a sensação correspondente aos sons que se deseja transmitir, diretamente sobre o sistema nervoso.
O som se transforma em pequenas correntes, as quais excitam os dedos do deficiente, que os apoia em eletrodos especiais e que, pela sensação que causa, pode levar a sua identificação. (figura 2)
Novamente, salientamos que não estamos no meio médico a ponto de fazer afirmações sobre a eficiência deste método (que precisa ser antes estudado), mas acreditamos que sua indicação pode levar a estudos sérios inclusive com aperfeiçoamentos que levem a novos dispositivos.
Como Funciona
Os sons que são obtidos nos alto-falantes de um aparelho de som correspondem a perturbações de um meio material, no caso o ar, que se propagam até o ouvido de uma pessoa. (figura 3)
Os sons que são obtidos nos alto-falantes correspondem a correntes elétricas que neles circulam, cuia forma de onda é a mesma dos sons originais.
Se segurarmos os fios de saída de 3um amplificador, a não ser que tenha características muito especiais, nada sentiremos porque a tensão é insuficiente para provocar correntes apreciáveis, capazes de excitar nosso sistema nervoso.
Para haver uma excitação, a tensão deve ser elevada de modo a vencer a resistência da pele, mas deve manter as características originais, ou seja, frequência e forma de onda, se ela deve ser "interpretada" pelo nosso cérebro.
A proporção em que deve haver esta elevação é muito importante: se for de apenas algumas dezenas de volts, teremos apenas um "formigamento", mas totalmente perceptível, com a diferenciação das frequências.
Se a elevação for muito grande, teremos a sensação de choque, o que não é desejável.
A elevação pode ser feita facilmente com a ajuda de um transformador, conforme mostra a figura 4, ao qual Se agrega um potenciômetro que permite dosar a excitação de modo a se obter a sensação que melhor se adapte a cada situação.
Em resumo, nosso aparelho consiste de um amplificador de áudio (com pelo menos 5 watts de potência), um transformador, um potenciômetro e um par de eletrodos.
Componentes
O transformador pode ser tanto do tipo de saída para aparelhos valvulados 6V6 ou 6AQ5 usado em rádios e televisores antigos, como de alimentação com enrolamento primário para 110 V e 220 V e secundário de 6, 9 ou 12 V com correntes entre 100 e 500 mA.
O potenciômetro pode ter valores de 4k7, 10 k ou mesmo 22 k.
O resistor de proteção tem valores de acordo com a potência do amplificador, devendo em alguns casos ser feitas experiências para se conseguir a determinação correta (melhor excitação sem choque).
Potência do amplificador | R1 |
até 10 watts | 10 Ω x1W |
de 10 a 25 watts | 22 Ω x 2W |
de 25 a 50 watts | 47 Ωx 2W |
acima de 50 watts | 100 Ω x 2W |
Os eletrodos consistem simplesmente em duas peças de metal de 5 x 5cm, onde o deficiente apoiará os dedos.
Pode ser feito a partir de uma placa de circuito impresso.
Na figura 5 temos a sugestão de caixa.
O diagrama completo do aparelho é dado na figura 6.
A disposição real dos componentes é mostrada na figura 7.
Na montagem observe os seguintes cuidados:
Observe a posição dos fios do transformador. Se houver inversão nada acontece com o amplificador, mas não há excitação.
No transformador de força (110 V x 220 V) os fios vermelhos, marrom e preto é que ficam do lado do potenciômetro. O fio marrom não será usado.
A ordem dos fios do potenciômetro é importante para que ele atue no sentido de aumentar a excitação ao ser girado para a direita.
Para a ligação dos eletrodos use dois pedaços de fio comum com 1 metro de comprimento, no máximo.
Prova e Uso
Ligue o aparelho na saída de um amplificador (retire os alto-falantes ou desligue as caixas) e faça a conexão do excitador. Se quiser uma “monitoria", porém em baixo volume, intercale entre o alto-falante, que deve ficar no circuito, um resistor de 10 a 47 Ω x 2 watts. (figura 8)
Você pode usar como fonte de sinal para o amplificador um microfone comum (preferivelmente de cristal), um toca-discos ou mesmo um gravador.
Ligue o amplificador a meio volume e coloque o potenciômetro do sensi-som no mínimo, ou seja, todo para a esquerda.
Apoie os dedos nos eletrodos e vá girando o potenciômetro para a direita até sentir as “vibrações” ou “formigamento" correspondentes aos sons.
Ajuste o volume do amplificador para obter a sensação no nível desejado.
Se quiser, atue também sobre os controles de graves e agudos para reforçar ou atenuar as faixas desejadas.
Para usar o aparelho, basta fazer com que o deficiente apoie os dedos no sensor e ajustar o nível de excitação conforme desejado. Fale depois diante do microfone para que ele sinta as “vibrações" que correspondam a cada sílaba.
Ouvir com o pulso Siemens (1987)
Atestando a viabilidade do nosso projeto, reproduzimos interessante notícia, vinda da Alemanha, com o título acima:
“Seis anos foram necessários ao desenvolvimento e teste do "Mini-Fonator”. Agora está pronto para aplicação prática. Trata-se de um novo aparelho eletrônico miniatura para surdos ou pessoas com audição altamente prejudicada, que lhes possibilita ouvir as emissões sonoras da fala, da música, e de ruídos em geral do meio ambiente.
Discreto e de fácil manuseio, o novo aparelho possibilita a seu usuário o acesso a muitas áreas de percepção e vivência até agora inatingíveis, dando-lhe oportunidade de um melhor entrosamento social.
Os diferentes sons e ruídos são captados por um microfone pequeno, eletronicamente amplificados e transmitidos ao vibrador especial preso ao pulso, semelhante a um relógio sem o mostrador.
O amplificador a pilha adapta-se a qualquer bolso de jaqueta ou calça.
Especialmente importante para o usuário do Mini-Fonator é que ele agora também pode perceber e diferenciar consoantes difíceis que, na leitura dos lábios, lhe dão muito trabalho.
Assim, por exemplo, as duas consoantes mais frequentes, o "n" e "t".
O “Mini-Fonator" é um novo desenvolvimento eletrônico da Siemens e surgiu em colaboração com o grupo de pesquisa de linguística aplicada da Escola Superior de Pedagogia de Heidelberg e com o grupo de pesquisa Bionik da Escola Superior Especializada de WuppertaL
Além disso, o projeto teve o apoio do ministro do Trabalho e de Questões Sociais.
T1 - Transformador de saída para válvulas com primário entre 2 k e 10 k
ou transformador de alimentação com primário de 110/220 V e secundário de 6 a 12 V e corrente de 100 a 500 mA
P1 - Potenciômetro de 4k7 a 22 k
R1 - Resistor (ver texto)
Diversos: eletrodos, ponte com dois terminais, fios, solda, caixa para montagem, botão para o potenciômetro etc.