Os componentes eletrônicos possuem características elétricas. Essas características gerais determinam o modo de se obter o correto desempenho do componente numa aplicação. Na documentação técnica que mostra as características de um componente, geralmente em inglês (*) existe um cuidado muito especial em se garantir que as especificações dadas sejam corretas e digam exatamente o que o projetista precisa saber. O uso dos termos é, portanto, quase que padronizado e todo o profissional que trabalha com eletrônica deve conhecê-los em profundidade suficiente para não fazer confusões. É justamente desse assunto que vamos tratar neste segundo artigo da série.
Todos os componentes eletrônicos possuem diversas características elétricas que precisam ser observadas com cuidado quando os usamos em qualquer projeto ou quando os usamos na substituição de outro, num trabalho de reparo. Normalmente, as folhas de dados dos componentes vêm em inglês e existem termos técnicos cujo significado pode confundir os leitores que não tenham muita familiaridade com o idioma. Será conveniente saber o significado exato desses termos para que, por exemplo, não seja confundida a expressão “pode” com “deve”.
Para que o leitor tenha uma ideia de como essas especificações são dadas, vamos tomar um exemplo prático do livro “CMOS Sourcebook (Newton C. Braga - Prompt Publications – 2001)
Tomamos como exemplo as especificações do circuito integrado 4013, um duplo flip-flop tipo D ou Dual D-Flip-Flop.
4013
Electrical Characteristics:
Characteristic | Conditions (Vdd) | Value | Units |
Drain/Source Current (typ) |
5 V 10 V 15 V |
0.88 2.25 8.8 |
mA mA mA |
Maximum Clock Frequency (typ) |
5 V 10 V 15 V |
5 12.5 15.5 |
MHz MHz MHz |
Quiescent Device Current (max) |
5 V 10 V 15 V |
1.0 2.0 4.0 |
uA uA uA |
Supply Voltage range | - | 3 to 15 | V |
Na tabela temos suas características elétricas. É comum que, além da tabela com as características elétricas também sejam dadas tabelas com os máximos absolutos (absolute maximum) que são as especificações de tensão, corrente e potência, além de outros parâmetros que, em hipótese alguma devem ser superadas.
Esses máximos absolutos são diferentes das “recommended operating conditions”, que são as condições de operação recomendadas que têm valores mais baixos para as grandezas indicadas. Por exemplo, um circuito integrado que tenha uma tensão absoluta máxima de operação de 7 V, terá uma faixa de tensões de alimentação recomendada de 2,7 a 6 V.
Finalmente, nos manuais e folhas de dados também é comum termos uma diferenciação entre as características elétricas, normalmente dadas para uma determinada temperatura ambiente e tensão de alimentação, das características de operação (operating characteristics) também dada sob determinadas condições.
Para as características elétricas, assim como para as demais, observamos a indicação de faixas em que temos valores mínimos (min), típicos (typ) e máximos (max). Essas faixas, em alguns componentes podem ser bastante amplas, o que exige muito cuidado quando fazemos substituições ou projetos que os envolvam. Podemos ser facilmente enganados num projeto se levarmos apenas as condições típicas quando a faixa de valores é muito ampla.
Por exemplo, um amplificador operacional como o LM324, que tem uma corrente típica (typ) de alimentação de 1,5 mA, pode apresentar tipos que tenham um máximo de 3,0 mA (max). Da mesma forma, para o mesmo circuito integrado, o ganho típico de 100 V/mV corresponde a um mínimo (min) de 50 V/mV. Veja então que num mesmo lote de componentes podemos ter diferentes valores de corrente de repouso (quiescente) e diferentes valores de ganho.
Voltando agora à tabela de características, vemos que a corrente drenada/fornecida (drain/source) varia. Observe que “drain” tanto pode indicar o eletrodo de dreno de um componente (FET) como o verbo drenar e da mesma forma “source” tanto pode indicar o eletrodo de fonte de um FET como o verbo fornecer. Assim, para a tabela, os valores indicam as correntes que a saída do dispositivo CMOS pode drenar (quando está no nível baixo) ou fornecer (quando está no nível alto) e isso muda conforme a tensão.
Vemos ainda que tanto a frequência máxima de clock como a corrente quiescente dependem da tensão. Veja que a corrente quiescente é a corrente que circula pelo dispositivo quando ele está em funcionamento, mas sem alimentar qualquer carga. É a corrente de repouso do dispositivo.
A tabela traduzida fica como:
Características | Condições (Vdd) | Valor | Unidades |
Corrente Drenada/fornecida (typ) |
5 V 10 V 15 V |
0.88 2.25 8.8 |
mA mA mA |
Frequência máxima de clock (typ) |
5 V 10 V 15 V |
5 12.5 15.5 |
MHz MHz MHz |
Corrente Quiescente do Dispositivo (max) |
5 V 10 V 15 V |
1.0 2.0 4.0 |
uA uA uA |
Faixa de Tensões de Alimentação | - | 3 a 15 | V |
Observe que mantivemos na forma original os termos set (fixar), reset (rearmar) e clock que são utilizados normalmente na literatura técnica em português.
Abreviações
CMOS – Complementary Metal-Oxide Semiconductor
Vdd – Tensão positiva de alimentação
Vss – Tensão negativa de alimentação ou terra
MOSFET – Metal-Oxide Semiconductor Field Effect Transistor
SCR – Silicon Controlled Rectifier
CLK – Clock
RST – Reset
NC – Not Connected – Não conectada (*)
Typ – Typical – típico
Max – Maximum - máximo
CL – Clear – apaga
(*) Quando um terminal de um componente tem a indicação NC, significa que ele não é ou não está conectado a nenhum lugar. Num circuito integrado, por exemplo, significa que ele está livre ou flutuante e num diagrama significa que aquele ponto não está ligado a nenhum lugar ou não é usado.