Iniciamos nosso trabalho com as reparações mais simples, que não envolvem propriamente o conhecimento de Eletrônica. Sugerimos aos leitores que desejam praticar que arranjem um rádio transistorizado de 2 ou 4 pilhas e que o utilizem como “laboratório", para aprender a identificar os defeitos e peças que trataremos neste livro (ver nota). Com isso, a procura dos defeitos em outros rádios ficará facilitada.
a) Suporte de pilhas
Um problema que comumente aparece nos rádios transistorizados e gravadores e que prejudica o funcionamento é a oxidação dos contactos do suporte de pilhas. Os sintomas que este defeito provoca são os seguintes:
- O rádio ou gravador não toca
- O rádio “pipoca” ou altera seu volume sozinho
- Ocorre distorção no som
- Movimentos bruscos do rádio fazem com que os sintomas se acentuem
O que ocorre neste caso é um mau contacto que impede a circulação da corrente a partir do suporte das pilhas.
O próprio vazamento de pilhas deixadas no suporte por muito tempo, ou ainda o uso do aparelho em atmosferas salinas, como por exemplo na praia, pode ajudar na formação de uma camada de óxido sobre os contactos.
Tirando as pilhas do suporte, examine os contactos. Se estiverem cobertos de uma camada de ferrugem ou ainda de uma substância pastosa, é sinal que o problema é justamente este.
Para limpar os contactos, se a camada por fina, bastará usar uma faca ou lâmina afiada. Raspe bem os contactos até que fiquem brilhantes e depois experimente colocar as pilhas de volta.
Se os contactos estiverem muito corroídos,o melhor mesmo será trocar todo o suporte. Para esta finalidade, antes de fazer a retirada do suporte velho, anote os pontos em que seus fios são ligados, observando as cores, pois se houver inversão do novo suporte o aparelho não funcionará. Use um suporte do mesmo tipo que o original.
b) Rachaduras em caixas
Temos aqui um problema que antes causa uma má aparência ao aparelho do que deficiência de funcionamento.
As caixas plásticas dos aparelhos podem, em muitos casos de rachaduras, ser consertadas facilmente com a ajuda do próprio soldador quente.
Uma rachadura numa caixa de plástico, conforme mostra a figura 35, pode ser reparada com a realização de sulcos com o soldador, os quais “soldarão” a peça, evitando assim que a própria rachadura aumente de tamanho.
Muito cuidado deve ser tomado nesta operação, para que os sulcos não sejam muito profundos, pois isso pode causar o rompimento do plástico com a produção de um furo.
c) Bobinas soltas
As bobinas de antena que possuem bastões de ferrite para a faixa de ondas médias costumam soltar-se com frequência no interior dos rádios.
Com o tempo, a movimentação destas peças dentro do rádio pode causar o rompimento dos fios de ligação, quando então o radinho deixa de funcionar.
Logo que uma bobina se solte no interior do rádio é preciso prende-la firmemente em sua posição de funcionamento. Normalmente a presilha que se utiliza para esta finalidade é de plástico, encaixada na placa e soldada por baixo. A solda é feita rebitando- se a peça com o próprio plástico.
Se o leitor puder, deve utilizar uma presilha igual na reparação, mas se não puder encontrar esta peça existem muitas alternativas para reparação (fig. 2).
Uma das possibilidades consiste no uso de abraçadeiras feitas com pedaços de fios comuns que. enlaçam o bastão de ferrite; outra consiste no uso de um gota de cola forte para manter á bobina colada na própria placa de circuito impresso.
d) Troca de antenas
Muitos rádios portáteis levam antenas telescópicas, principalmente os que possuem faixas de FM, onde este elemento é indispensável.
Com uma queda ou um esforço maior, os segmentos da antena podem romper- se, caso em que uma nova antena deve ser colocada.
Para esta finalidade deve ser removido o parafuso que a prende no rádio, normalmente por baixo da caixa, conforme mostra a figura 3, e uma antena do mesmo tipo deve ser colocada.
Não se esqueça de colocar o terminal de entrada do fio de antena ao fazer esta troca. Lembramos que o tamanho da antena, em muitos casos, é importante, devendo ser por isso usada uma igual à original.
e) Alto-falantes defeituosos
Os cones dos alto-falantes de rádios portáteis e gravadores são de papelão e portanto muito frágeis. Estão sujeitos a rasgões, a deterioração devido à umidade e até mesmo a servirem de ninho ou alimento para insetos!
Um alto- falante em mau estado influirá do seguinte modo no seu rádio ou gravador ou outro equipamento de som:
- Má qualidade de som
- Som distorcido
- Baixo volume
De fato, se o leitor perceber que o som do seu aparelho “arranha”, convém fazer uma verificação do alto- falante. Para isso, remova esta peça com cuidado, pondo-a à descoberto de modo a examinar o cone.
Pequenos rasgos no cone podem ser colados com muito cuidado com cola forte, conforme mostra a figura 4.
Se o problema for na borda do alto- falante, muito cuidado deve ser tomado na reparação, pois nela existe uma articulação que permite que o cone se mova para a frente e para trás. Se for usada cola em excesso na reparação deste ponto, o cone perde a movimentação e, portanto, seu rendimento diminui com a redução consequente do volume do aparelho.
Do mesmo modo, não se deve usar fitas adesivas ou semelhantes, pois estas imobilizam também o cone, impedindo seu funcionamento normal.
Nos casos em que o alto - falante estiver ruim, o melhor procedimento é a troca. Devemos então procurar um alto- falante do mesmo tipo, com a mesma impedância, ou seja, se o original for de 8 ohms, o substituído também deve ter 8 ohms.
Para os alto-falantes caros de alta fidelidade, um dano ao cone pode ser reparado pela substituição desta peça que, entretanto, é um trabalho delicado, já que o centrado é muito importante para garantir a perfeita reprodução. Em São Paulo e no Rio de Janeiro existem casas especializadas na recuperação de alto-falantes deste tipo (*Na internet existem empresas que oferecem este serviço.).
Para os alto- falantes de potência (de grandes aparelhos) é importante observar que, em caso de substituição, esta grandeza deve ser observada.
Veja que o alto-falante usado deve ter a mesma ou maior potência que a de cada canal do aparelho com que vai ser usado.
f) Cordinhas de escalas
As cordinhas ou barbantes que movem os ponteiros indicadores sobre as escalas dos rádios podem arrebentar ou simplesmente escapar. A reparação deste defeito é simples, não oferecendo problemas ao técnico experiente.
Aconselhamos ao leitor que pretende se tornar técnico reparador ter sempre à sua disposição na bancada um rolo de barbante especial para esta finalidade, que pode ser comprado nas casas de materiais eletrônicos.
O tipo de arranjo mais comum para os cordames de ponteiros indicadores é mostrado na figura 5.
Neste sistema, existe um tambor de redução que está acoplado ao eixo do capacitor variável, que é o componente responsável pela mudança de estação. Uma mola presa neste elemento mantém o cordame esticado, sendo esta a primeira a ser colocada na sua passagem.
O cordame dá uma ou duas voltas no tambor e depois passa pelas polias auxiliares, tendo estão preso o ponteiro. Na passagem neste circuito encontramos o eixo de redução, onde está preso o botão de sintonia. Neste eixo o cordame dá umas duas ou três voltas.
Um sistema mais simples é o mostrado na figura 6, onde temos apenas o tambor e o botão de redução.
Neste sistema o ponteiro está preso ao próprio tambor numa escala redonda, encontrada em muitos rádios.
Nos tipos simples de rádios transistorizados este sistema não existe, já que o botão de sintonia é preso ao próprio eixo do capacitor variável.
g) Quebra de placas de circuito impresso
Uma queda muito forte ou ainda um esforço mecânico indevido na colocação da placa de circuito impresso pode leva-la' à quebra. A placa em si pode ser emendada sem problemas com o uso de uma cola forte e até mesmo com a utilização de duas guias feitas conforme mostra a figura 7.
Estas guias consistem em duas lâminas de alumínio dobradas em U na forma de trilhos, que serão encaixadas nas bordas da placa.
Entretanto, o problema maior surge quando a quebra da placa causa a interrupção de trilhas de cobre e com isso o circuito deixa de operar. A reparação neste caso pode ser feita conforme mostra a figura 8.
Uma ponte de solda será feita, permitindo assim que a corrente passe normalmente pelos pontos interrompidos com a quebra.
h) Polias e correias defeituosas
Borrachas e alguns tipos de plásticos podem sofrer deterioração em função do clima a que estão expostos. Em gravadores é comum encontrarmos polias e mesmo correias completamente deterioradas, com sinais de corrosão que impedem o funcionamento normal do aparelho.
As polias e correias dos gravadores e toca- discos devem ser mantidas sob tensão para poderem transmitir seu movimento às peças.
Os sinais mais evidentes de que polias e correias devem ser verificadas num gravador são:
- Som distorcido devido a alteração de rotação
- Dificuldade do gravador ou toca- fitas dar partida
O gravador patina, principalmente com fitas miais longas (C60 e C90)
No retorno, o gravador para ou então sofre alterações de velocidade A única solução no caso é abrir o gravador e examinar com cuidado todas as polias, fazendo a troca pelos tipos originais daquelas que apresentarem sinais de deterioração.
i) Lâmpadas de mostrador
Muitos aparelhos eletrônicos utilizam lâmpadas indicadoras em seus painéis. Estas são denominadas “lâmpadas pilotos” e basicamente são encontradas com dois tipos de base: baioneta e rosca (fig. 9).
As lâmpadas podem ainda ser especificadas para funcionar com 6 volts ou outras tensões como 12 volts.
As correntes também variam entre valores situados entre 50 mA e 250 mA. Na troca de uma lâmpada queimada deste tipo, não basta observar a tensão de alimentação original, isto é, 6 ou 12 V, mas será preciso também seguir a corrente indicada, isso porque em alguns circuitos esta lâmpada pode fazer parte do circuito ativo, com função que depende de suas características.
O melhor na substituição será verificar o número que existe na rosca (Ex: 47) e pedir na loja uma do mesmo número.
Observamos também que estas lâmpadas possuem um consumo de corrente considerável, daí não serem usadas em aparelhos alimentados por pilhas. A colocação destas lâmpadas em aparelhos alimentados por pilhas causaria um desgaste muito rápido já que, para um radinho de 4 pilhas típico, o consumo de corrente é da ordem de 50 mA a médio volume, enquanto que uma única lâmpada piloto pode exigir uma corrente tão alta quanto 250 mA!
j) Substituição de válvulas
Se o leitor possuir em sua casa um rádio antigo, ou aparecer um deles para reparar em sua oficina, verá que em lugar dos transistores o que existem são tubos de vidro denominados “válvulas termoiônicas", ou simplesmente válvulas. Estas válvulas, como as lâmpadas, possuem filamentos finos que podem queimar- se, quando então o dispositivo deixa de funcionar (fig. 10).
Olhando o rádio ligado, as válvulas devem estar todas “acesas” com um pequeno brilho avermelhado no seu interior. A ausência desse brilho pode indicar uma válvula queimada que deve ser testada e depois substituída.
Veja que existem dois tipos de ligação para as válvulas em rádios antigos:
- nos aparelhos que usam transformador de força, as válvulas têm os filamentos ligados em paralelo, o que quer dizer que se uma queimar o aparelho deixa de funcionar, mas todas as demais válvulas permanecem acesas;
- nos aparelhos que não usam transformadores (denominados popularmente “rabo quente”) as válvulas são ligadas em série, o que quer dizer que se uma queimar todas apagam!
Se uma válvula estiver queimada e o leitor a descobrir, deve leva-la à loja e testá-la antes de comprar uma nova. No segundo caso, existe uma saída se não quiser testar todas, que é a prova local, a qual será ensinada posteriormente. Mas, descoberta aquela que está ruim, deve ser comprada uma igual.
k) Troca de knobs
Nos radinhos pequenos os knobs, ou botões plásticos, podem afrouxar, e se o parafuso apresentar problemas, ou ainda houver a quebra do próprio botão, deve ser feita a troca.
Na figura 11 mostramos a maneira como os knobs são presos. Veja que existe um encaixe que impede que o botão vire em falso.
Normalmente, o parafuso usado neste tipo de botão é Philips, dai a necessidade salientada no inicio deste livro do técnico ter a chave própria a sua disposição.
Os capacitores variáveis dos radinhos também utilizam botões deste tipo.
Na troca do botão procure sempre um de mesma espessura e mesmo diâmetro para não ter problemas.
l) Parafusos e porcas
É frequente a perda de parafusos e porcas dos aparelhos em uso. Quando um ou mais parafusos de um aparelho são perdidos, as peças podem ficar soltas e com o tempo podem surgir problemas mais graves. Já falamos do caso de bobinas que podem se soltar e depois de algum tempo causar o rompimento dos seus fios de ligação. O mesmo acontece com transformadores, motores e alto-falantes, que são componentes pesados.
Basicamente, são os seguintes os parafusos mais usados nos aparelhos eletrônicos, devendo o técnico ter um bom estoque de todos os tipos para o caso de necessidade (fig. 12):
- parafusos com porcas de pequenas dimensões
- parafusos Philips
- parafusos auto-atarrachantes
O técnico deve procurar identificar o parafuso que falta no aparelho em reparo e colocar outro igual.
m) Fusiveis
Muitas vezes um aparelho que é levado à oficina de reparação por não funcionar, nada mais tem do que um simples fusível queimado. É claro que, havendo a troca do fusível por um do mesmo tipo e ele volte a queimar logo em seguida, deve haver causa mais grave que provoque isso. Uma verificação interna deve ser realizada.
Se nada ocorrer é provável então que a queima se deveu a variações da tensão da rede de alimentação ou algum pequeno “acidente” como, por exemplo, fios encostados uns nos outros por descuido.
Os fusíveis mais usados nos aparelhos eletrônicos são os de cartucho de vidro, com a aparência mostrada na figura 13, que podem ser especificados para correntes de 100 mA até 10 A ou mais.
Observamos que as tensões indicadas nos fusíveis referem- se ao valor máximo em que eles podem ser aplicados. Assim, um fusível com a indicação de “250 V” pode perfeitamente ser usado num circuito de 12, 110 ou 220 V. A corrente é que deve ser obedecida.
n) Jaques de fones
O uso frequente dos jaques de fones acaba por trazer problemas para seus contactos. Como o jaque de fones é do tipo circuito fechado, ou seja, também controla a alimentação do alto- falante, um problema no jaque pode desligar o alto-falante e o radinho deixará de “falar".
Na figura 14 mostramos um jaque do tipo circuito fechado usado para fones de baixa impedância (auriculares) de radinhos.
Veja que existem duas lâminas que permanecem em contacto constante e que são desligadas quando o pino do fone é introduzido.
Se ao retirar o fone estas lâminas não voltarem a fazer contacto entre si, o alto- falante não recebe alimentação.
Se isso acontece num radinho, existem duas opções: se as lâminas simplesmente estão vergadas pelo uso, bastará força-las com o alicate de ponta e trazê-las à posição normal; entretanto, se as lâminas estiverem soltas ou partidas, a solução será trocar o jaque.
Na troca por um novo siga exatamente a mesma ordem de ligação. Se for usado um tipo diferente de disposição de terminais, veja na figura 15 a disposição dos fios.
Como solução imediata, para o rádio pelo menos funcionar só com o alto falante o técnico pode unir os dois fios que fazem contacto com estas lâminas, deixando assim de operar o fone, ficando apenas o alto-falante.
o) Ligação de jaques para fones
Este é um serviço que pode render algum dinheiro ao técnico: fazer a adaptação de um jaque de fones.
Lembramos que o jaque deve ser do tipo circuito fechado (com três terminais, mas não estéreo, que é diferente) e o fone de baixa impedância (8 a 50 ohms).
Na figura 16 temos exatamente a maneira de se fazer a adaptação do jaque de fones num gravador ou rádio transistorizado.
Para os aparelhos de som potentes, a ligação da saída de fone envolve uma segunda adaptação, que é um resistor limitador de potência. Sem este resistor poderá ser aplicada potência em excesso no fone e com isso causar sua queima.
Os valores dos resistores usados, conforme o circuito da figura 17 são dados na figura:
p) Uso de antena externa
Se na sua localidade a recepção das estações de ondas médias for difícil, e mesmo a de ondas curtas, a ligação de antenas externas pode ser a melhor solução. Entretanto, a maioria dos rádios portáteis de baixo custo não tem local para conexão de antena externa. Neste caso, pode ser improvisada uma antena de quadro de irradiação, conforme mostra a figura 18.
Numa caixa de sapatos enrolamos umas 5 ou 10 voltas de fio esmaltado 28 ou de espessura próxima (Pode ser usado fio comum.), fazendo a conexão dessa bobina a uma antena externa e à terra.
O radinho portátil será então colocado no interior da caixa na posição que dê a melhor recepção, havendo uma considerável melhora na sensibilidade, como poderá ser percebido.
A ligação à terra deve ser feita em objetos de metal em contacto com o solo, ou se não for possível, numa barra de metal de uns 30 ou 40 cm enterrada no chão em local úmido.
Conforme vimos, os defeitos e melhorias sugeridas nesta parte do livro não envolveram conhecimentos de Eletrônica propriamente, já que pouco mexemos em componentes do circuito.
Infelizmente, não são só estes os defeitos que podem aparecer nos rádios transistorizados e outros aparelhos. Por isso, devemos neste próximo capitulo cuidar dos defeitos eletrônicos propriamente, começando pelos mais simples.
A medida que formos analisando estes defeitos, iremos ensinando ao leitor os nomes das peças e também suas funções, assim como a maneira de usar alguns instrumentos importantes.