Você que já abriu um rádio levado pela curiosidade, mesmo sem nada entender de seus mistérios, deve ter sentido uma sensação ao mesmo tempo de espanto ao procurar saber como peças tão pequenas, aparentemente rústicas podem pegar e converter ondas de rádio em som, e de curiosidade, tentando saber como estavam tais peças ligadas para fazer tudo aquilo e o que haveria em seu interior capaz de lhes dar tamanha capacidade.
Talvez aquela tenha sido a primeira vez que o leitor se sentiu atraído pela eletrônica e decido estudar os seus mistérios vindo a tornar-se um técnico reparador, montador ou ajustador de rádios e mesmo de outros aparelhos eletrônicos.
Um rádio nada tem de misterioso e é justamente essa ausência de mistérios que o torna mais maravilhoso ainda. A utilização de componentes que se repetem facilitará o seu aprendizado como o leitor verá, servindo de ponto de partida para o conhecimento de outros aparelhos que em pouco tempo o leitor dominará as técnicas de montagem e reparação.
Observando um rádio por dentro o leitor deve ter notado que são muitas as peças que o formam, mas que, estas peças aparecem repetidas, o que quer dizer que, em quantidade, um rádio é complexo, mas em variedade de funções, um rádio é simples.
Assim, se o leitor procurar conhecer a função das peças isoladamente e depois no próprio rádio, não será preciso estudar as dezenas ou mesmo centenas delas que existem num único aparelho, mas sim algumas que, conforme o local em que estiverem farão algo diferente porém sempre segundo o mesmo princípio.
Tudo isso significa que dentro de um rádio existem peças de uns poucos tipos denominadas resistores, capacitores, transistores, diodos, transformadores, etc., que, conforme o local que estiverem farão algo diferente, porém segundo o mesmo princípio. Conhecer o que faz cada uma delas significa conhecer o funcionamento do rádio todo, e partir dai o domínio das técnicas de montagem, reparação e ajuste destes aparelhos.
O aprendizado de rádio pode então ser resumido em duas fases: conhecer a função das peças isoladamente e depois conhecer a sua função segundo a posição que ocupam no circuito do mesmo.
Este curso rápido de rádio que levamos ao leitor procurará ser objetivo nas duas fases, ensinando-lhe os fundamentos dos funcionamentos de peças e circuitos que lhe possibilitem entender como funcionam os rádios e como fazer seu conserto e ajuste.
2. As unidades elétricas
Um rádio funciona com eletricidade que pode ser fornecida por pilhas ou pela tomada vinda de uma usina. Se bem que não seja simples explicar o que é realmente esta eletricidade, o leitor pode ter uma ideia melhor do que acontece num rádio ou em qualquer outro circuito eletrônico em funcionamento, se pensar nesta forma de energia como sendo uma espécie de “fluido” muito tênue formado por milhões e milhões de minúsculas partículas denominadas elétrons que são capazes de se locomover através de determinados materiais (figura 1)
Estes materiais através dos quais estas partículas podem se locomover são justamente os usados para fazer os fios que transportam eletricidade e muitas outras peças por onde a eletricidade deve passar.
Os fios condutores são feitos de cobre, alumínio, etc., porque estes materiais permitem que o fluido de que é formada a eletricidade os atravesse como facilidade.
Existem ainda materiais por onde a eletricidade pode passar, mas não sem encontrar alguma dificuldade. Estes materiais como o NICROMO também encontram aplicações práticas em eletricidade, pois são usados para se reduzir intencionalmente o fluxo de eletricidade oferecendo-lhe uma RESISTENCIA. e, finalmente, existem os materiais através dos quais a eletricidade não pode passar de modo apreciável, sendo denominados estes de isolantes. São materiais isolantes o vidro, o plástico, o papel, a cerâmica o ar, etc.
Mas, seguindo com nossas explicações, vemos que num rádio, a eletricidade que é fornecida para sua alimentação não percorre um único caminho, mas sim divide-se em diversos fluxos os quais passam por diversos materiais de que são formados os componentes. Cada fluxo tem uma intensidade diferente, conforme as exigências de cada componente, de modo que todo o. conjunto funcione com harmonia.
Esta harmonia de funcionamento é justamente a base de operação do rádio, harmonia que, se quebrada leva-o a uma operação anormal, ou mesmo parada completa.
Como dividir os fluxos de eletricidade entre os diversos componentes de um rádio?
Este é um problema que só pode ser resolvido de um modo: se houver possibilidade de se medir a eletricidade e os efeitos que os componentes podem ter na sua passagem. Isso significa que, o primeiro ponto importante para se entender como funcionam os aparelhos eletrônicos reside justamente na compreensão das medidas elétricas básicas.
Intensidade de corrente: o fluxo de eletricidade que se estabelece num fio elétrico é denominado corrente elétrica. Quando um fio está sendo percorrido pelas minúsculas partículas de eletricidade que denominamos elétrons, dizemos que este fio está sendo percorrido por uma corrente elétrica.? A quantidade de eletricidade que passa em cada segundo por este fio nos dá a intensidade desta corrente.
A intensidade de uma Corrente elétrica tem uma medida. denominada Ampère que é-abreviada por A.
Unidade de corrente-: ampère (A)
Assim, se um fio estiver sendo percorrido por uma corrente de 1A e outro por uma corrente de 2 A, o segundo estará sendo percorrido por duas vezes mais cargas elétricas ou elétrons em cada segundo.
Em eletrônica é comum expressar as correntes muito fracas por submúltiplos do ampère. Assim, em lugar de dizermos “milésimos de ampère” podemos simplesmente falar em miliampères ou abreviar isso por mA. Uma corrente de 5 mA é o mesmo que 0,005 A.
Para o caso de correntes de “milionésimos de ampère” podemos simplesmente falar em microampères e abreviar por uA. Uma corrente de 0,000 008 A pode ser expressa simplesmente como 8 uA. (figura 2)
Importante: a corrente não existe por si só, mas precisa de uma causa. Para que as cargas elétricas se movimentem no fio e preciso que uma força externa as empurre. Isso quer dizer que uma corrente só pode existir a partir do momento em que também existir uma causa.
Esta causa denomina-se tensão elétrica.
Veja também que é errado falar que numa tomada existe “corrente”. Uma corrente só existe quando há uma movimentação de eletricidade ou de cargas o que só ocorre quando ligamos alguma coisa a esta tomada. Numa tomada desligada não existe, portanto, corrente mas sim tensão que explicaremos a seguir.
Tensão elétrica: a tensão elétrica é a causa da corrente, ou seja, a “força de natureza elétrica” que empurra as cargas num fio ou num aparelho quando o ligamos.
Esta força de natureza elétrica é medida em “volts” cuja abreviação é V
São os “volts” de uma tomada que empurram os elétrons por um fio ou por um aparelho estabelecendo assim uma corrente elétrica. A tensão é a causa e a corrente é o efeito.
Se numa tomada existir uma tensão de 220 V e noutra 110V, ao ligarmos uma lâmpada de 110 V na tomada de 220 V, sendo a “força” que empurra os elétrons muito maior, maior também será“ a intensidade da corrente e portanto ocorre a queima de lâmpada. (figura 3)
Os submúltiplos do volt também são usados. Temos então a maneira de expressar milésimos de volt por milivolts (mV) e milionésimos de volt por microvolts (uV).
0,001 V = 1 mV (lê-se um milivolt)
0,000 001 V = 1 uV (lê-se um microvolt)
Resistência elétrica: quando uma corrente elétrica percorre determinados materiais ela pode encontrar uma certa dificuldade. Esta dificuldade e' denominada “resistência” e depende fundamentalmente do material e do formato do corpo por onde a corrente deve circular.
A resistência elétrica pode então ser definida como uma “oposição a passagem da corrente” sendo medida em uma unidade denominada “OHM” cuja abreviação 'é a letra grega ? (ômega).
Para as resistências encontramos com frequência a expressão de valores em múltiplos do ohm.
Assim, em lugar de usarmos “milhares de ohms” empregamos o prefixo “quilo” ou abreviadamente “k”.
Uma- resistência de 22 000 ohms pode então ser expressa como 22 quilohms ou simplesmente 22k.
Para “milhões de ohms” usamos o prefixo “mega” ou abreviadamente “M”. Uma resistência de 4 700 000 ohms pode então ser expressa como 4,7 megohms ou ainda 4,7M.
Potência elétrica: a quantidade de energia elétrica que um aparelho pode fornecer ou consome em cada segundo é dada pela sua potência. Para um radio, a potência pode indicar tanto o seu consumo de energia como a quantidade de som que ele apresenta em seu alto-falante. Para componentes como uma lâmpada ou uma resistência esta potência pode indicar também a quantidade de eletricidade ou energia elétrica que ele converte em luz ou calor (figura 4).
A unidade de potência elétrica é o “Watt” cuja abreviação é “W”.
Também no caso do watt podemos usar seus múltiplos e submúltiplos. "Para expressar milésimos de watt usamos então o “miliwatt” cuja abreviação é “mW” e para expressar milhares de watts usamos o “quilowatt” cuja abreviação é “kW”.
Estas são as unidades básicas que o leitor deve conhecer, assim como seu significado, procurando nunca fazer confusões com o modo de sua aplicação,
Outras unidades serão vistas associadas a determina dos componentes, no momento em que estes forem estudados. Por enquanto daremos um pequeno quadro em que as 4 unidades estudadas serão reunidas.