Um equipamento eletrônico de uso bastante comum nas clínicas de fisioterapia e mesmo usado em cirurgias é o aparelho de diatermia por ondas curtas usado em termoterapia. Se bem que existam aparelhos equivalentes que operem com microondas, vamos nos dedicar neste artigo aos aparelhos que fazem uso das ondas curtas.
Os radioamadores e os operadores de transmissores de ondas curtas sabem que um toque acidental numa linha de RF ou mesmo na antena não causa choque, mas sim uma sensação de aquecimento ou mesmo queimadura, dependendo da potência do aparelho.
O fato de uma corrente de alta frequência causa aquecimento no contato com o corpo humano já havia sido notado em 1890 pelo físico e médico Jacques-Arsene d’Arsonval.
O aquecimento de tecidos vivos pelas correntes de alta frequência recebeu então o nome de diatermia, de “dia” que em grego quer dizer através e “termos” que significa aquecimento ou calor.
O uso terapêutico
A possibilidade de se utilizar sinais de altas frequências com finalidade terapêuticas logo foi aproveitada em tratamentos os mais diversos, principalmente quando as válvulas se tornaram disponíveis para geração com boa potência.
O que se notou é que o aquecimento das diversas partes do corpo pelas correntes induzidas de alta frequência tem diversos efeitos. Veja que não são as ondas de rádio produzidas pelo sinal que causam efeitos no corpo humano, mas sim as correntes que são induzidas no meio condutor que nosso corpo corresponde.
Essas correntes geram calor e observam-se com isso diversos efeitos, tais como, a dilatação dos vasos sanguíneos, ativa a circulação do metalismo ajudando a eliminar a linfa, aumentam o metabolismo, agem sobre o sistema nervoso aumentando a velocidade de condução dos impulsos, atuam sobre o tecido muscular provocando o relaxamento além de inibir a dor e tornar o tecido conjuntivo mais flexível.
Além disso, observa-se que ocorre a diminuição da dor, agindo nas terminações nervosas e em tecidos lesionados.
Tudo isso faz com essa terapia seja indicada para ser usada em diversos tipos de terapias tais como: artrite, fibromialgia, miosite, tendinite, bursite, dor nas costas e muitas outras.
Na figura 1 temos o modo típico de aplicação da diatermia num paciente.
Faixa de onda e os circuitos
Para este tipo de aplicação médica classifica-se como faixa de ondas curtas as que correspondem à frequências entre 2 e 100 MHz. Uma classificação mais técnica coloca essa faixa de frequências, de uma forma um pouco diferente:
- 300 kHz a 3 MHz – Média frequência ou MF
- 3 – 30 MHz – Alta frequência ou HF
- 30 a 300 MHz – Muito Alta Frequência ou VHF
Assim, na realidade a faixa denominada de ondas curtas entre 2 e 100 MHz estaria parte em MF, parte em HF e parte em VHF. São sinais cujos comprimentos de onda variam entre 150 metros e 3 metros.
Mas, o que importa é que se observa que os sinais desta faixa causam o aquecimento do tecido vivo quando aplicados com potências razoáveis. Os aparelhos comuns podem gerar de 100 a 500 W tipicamente.
Atualmente, os aparelhos usados em diatermia usam as frequências de 27,957 MHz e 27,605 MHz conforme o item C da portaria do Dentel:
c) Os canais compreendidos na faixa de 26,957 e 27,283 MHz devem aceitar qualquer interferência prejudicial que possa ser causada pelas emissões utilizadas com fins industriais, científicos e médicos.
Os circuitos e os sinais
Podemos fazer um exame histórico dos circuitos que foram usados na diatermia no passado e analisar os mais modernos.
Para se obter a potência de RF necessária a obtenção dos efeitos desejados, os circuitos fazem uso de válvulas.
A configuração mais comum é que consiste num oscilador de bloqueio do tipo mostrado na figura 3.
Neste circuito temos um transformador de alimentação (T1) que possui dois enrolamentos secundários.
O primeiro é o de baixa tensão para o filamento da válvula, e o segundo de extra alta tensão ou EHT que produz tensões na faixa de 500 a 2 000 V conforme a válvula utilizada e a potência de saída.
A válvula é um tríodo de potência, com aparência mostrada na figura 4.
A frequência de operação é dada pelo transformador de RF T2. O enrolamento entre A e B, em paralelo com C1 determinam a frequência de oscilação e funciona como carga para o circuito de placa (anodo) da válvula.
O enrolamento CD proporciona a tensão de realimentação para a grade da válvula, responsável pela oscilação do circuito. O resistor R ajusta o ponto de oscilação.
Temos ainda o enrolamento F que é isolado do circuito oscilador responsável pela transferência do sinal para o paciente. Esse enrolamento forma um circuito ressonante que é ajustado em C2.
Em série com o circuito existe um instrumento indicador de sintonia. Essa sintonia é feita através do capacitor variável C2.
Os circuitos modernos possuem diversos recursos adicionais como, por exemplo, o controle do tipo de circuito que será aplicado ao paciente.
Assim, podemos ter pulsos amortecidos que são usados no caso cirúrgico para coagulação, sinais contínuos para corte e massagem e pulsos rápidos, conforme mostra a figura 5.
A aplicação normalmente é feita através de eletrodos, sendo um deles usado como aterramento ou retorno e o outro como elemento ativo.
Na figura 6 temos um exemplo de uso obtido de uma apostila do curso de fisioterapia da SEM University.
Os eletrodos podem os mais diversos formatos, conforme a aplicação. Assim podemos ter os tipos em forma de agulha para aplicações cirúrgicas, conforme mostra a figura 7.
Na figura 8 mostramos eletrodos de um equipamento usado em fisioterapia, a partir de anúncio na internet.
Finalmente, na figura 9 mostramos tipos comerciais que podem ser adquiridos com facilidade pela internet.
Para o profissional de reparação, ter recursos para analisar os circuitos é importante. Um multímetro ajuda a verificar as tensões de alimentação da válvula osciladora e eventualmente um detector de sinais de RF.
É claro que tudo dependerá da sofisticação do equipamento que pode ter microcontroladores no estabelecimento de controles importantes como tempo de aplicação, tipo de sinal, intensidade, etc.