Não é necessário que se detenha em explicações e argumentos que versem sobre a necessidade de se proteger um automóvel hoje em dia, especialmente nas grandes cidades (em São Paulo rouba-se um automóvel a cada três minutos) e esse artigo tem como propósito fundamental sugerir ao leitor maneiras simples e eficientes de se conseguir uma boa proteção.
Pedro Ricardo Drumond
Nota: Artigo publicado na Revista Saber Eletrônica de setembro de 1983.
O leitor que vê a eletrônica como hobby, como profissão, ou mera curiosidade, já tem um passo de vantagem em relação aos outros, pois 95% dos sistemas de proteção de veículos têm base na eletrônica, sendo os outros 5% puramente mecânicos; mas não se deve ficar contente com esta afirmação sem antes ver o outro lado da moeda: as estatísticas mostram que 89% dos ladrões de carros têm conhecimentos eletrônicos, ainda que básicos e restritos ao sistema elétrico do veículo, porém de 12 a 15% desses mesmos ladrões têm conhecimentos mais sólidos sobre circuitos, sendo, portanto, os mais perigosos.
TIPOS DE CIRCUITOS
Os circuitos antirroubo dividem-se em dois tipos:
Circuitos de alarme
Circuitos de detenção do roubo.
Embora os circuitos que detenham um roubo sejam mais eficientes, os alarmes também têm o seu valor, pois a última coisa que um ladrão de veículos pode querer é chamar a atenção.
CIRCUITOS DE ALARME
Como todo circuito eletrônico, tem uma entrada e uma saída, sendo a entrada o(s) sensor(es), e a saída pode ser a buzina do veículo em toque contínuo ou intermitente, uma sirene, ou mesmo um emissor de bips, sinais estes que o dono do veículo receberia por um receptor especial ou mesmo um rádio AM ou FM (indicado para curtas distâncias). Os sensores podem ser pelas portas (botão da luz de cortesia), pelo capô do motor, sensores, de luminosidade (para uso dentro de garagens: caso o ladrão se aproxime do veículo com uma lanterna, fará disparar o alarme, mesmo antes de tentar qualquer coisa), vibrações e até ultrassom. O ladrão pode tentar, antes de qualquer investida mais direta, abrir o capô do motor para desconectar a bateria do veículo, ponto fraco de qualquer alarme, eis porque um sistema que antecipe este procedimento é 200% mais confiável.
Neste artigo serão descritos os funcionamentos de dois dispositivos, que juntos em um veículo, permitem uma proteção de grande eficiência.
O primeiro é o transmissor de bips, que apesar de ter seu alcance um pouco reduzido basicamente pela simplicidade de seu projeto, pode proteger o carro quando você estiver em um raio de aproximadamente 70 metros de distância, o que indica seu uso em diversas situações, mantendo-o sempre informado e tranquilo a respeito de seu veículo, mas lembre-se: uma vez avisado pelo circuito que alguém entrou em seu automóvel, seja prudente e haja com cautela; ninguém é herói por imprudência. Note que este circuito também impede o roubo, pois quando ligado, aterra a bobina, não permitindo que o motor dê a partida, nem mesmo com a chamada "ligação direta". Trata-se de um transmissor de bips temporizado, que, uma vez ativado (pelas portas ou capô do motor), transmite o sinal (através da própria antena do automóvel) durante um tempo predeterminado e depois cessa a transmissão, permanecendo, no entanto, alerta a novas investidas.
Na figura 1 temos o diagrama completo do Transmissor de Bips. A montagem em placa de circuito impresso é dada na figura 2.
Instalando-se um sensor de vibrações, pode-se usá-lo também em motocicletas. Um "sensor de vibrações" figura 3, apesar do nome pomposo, nada mais é do que um pequeno pêndulo metálico, localizado dentro de um anel também condutor, sendo o pêndulo ligado à entrada do sensor, e o anel, à terra (ou massa). Uma boa sugestão para quem pretende instalá-lo em motocicletas é omitir a chave CH 1 e ligá-lo diretamente à bateria. Assim, o intruso não seria capaz de desligá-lo, porque o circuito permaneceria constantemente alerta. É claro que a placa do circuito, bem como sua ligação à bateria e ao sensor deverão estar localizadas em local de difícil visão e principalmente acesso.
O segundo circuito é basicamente de detenção do roubo (embora o primeiro também o faça), em uma situação pouco explorada (em se tratando de proteção eletrônica), porém muito frequente no trânsito intenso das grandes cidades: você está parado em um semáforo, quando, prestes a sair, é surpreendido pelo assaltante que o convence a deixar o veículo sob seus cuidados. Um automóvel bem protegido fica nesse instante indefeso, e o tão evitado roubo acaba por acontecer. Uma boa solução é o presente circuito. Antes de deixar o veículo, você deve apertar um push-button no painel, bem próximo à direção, e o automóvel permanecerá em funcionamento, desligando-se em um período de tempo pré-fixado (30 s a 4 minutos).
Na figura 4 temos o diagrama completo do Temporizador Ativado com o carro em movimento. A montagem em placa de circuito impresso é dada na figura 5.
Até a presente publicação só existe no mercado um equivalente mecânico para o circuito em questão, sendo este, até agora o primeiro de caráter eletrônico a ser divulgado.
DESCRIÇÕES DOS CIRCUITOS
—Transmissor de Bips
É basicamente um transmissor de FM temporizado, utilizando 2 integrados 555, um deles em sua tradicional configuração astável, e o outro como temporizador, chaveando o primeiro.
As frequências de saída dos bips de Cl2 obedecem às fórmulas:
Sendo então para o circuito:
Ajustando-se TP2 podemos obter a frequência desejada dentro desta faixa.
O integrado Cl1 é o responsável pelo tempo de emissão dos bips, pois seu pino 3 (saída) está conectado ao pino 4 (reset) de C12. Este período é controlado segundo as fórmulas:
Sendo, para o circuito, no mínimo,
Os valores de R2, R4, R5, TP1, TP2, C2 e C3, poderão ser trocados a gosto pelo leitor para alterar as características de frequência e tempo da maneira que melhor lhe convier.
A frequência obtida no pino 3 de Cl2 é aplicada a um capacitor (C4) que descarregará em um transistor unijunção (Q1), que por sua vez emitirá pulsos para o resistor R8. A frequência obtida pelo conjunto C4, R8 situa-se dentro da faixa das audiofrequências, ou seja, na saída desta etapa (que é um oscilador de relaxação) já temos um bip sonoro, pronto para modular uma radiofrequência; e é justamente o que ocorre na etapa seguinte, um transmissor de FM de um transistor. A modulação (mistura de áudio com a radiofrequência) ocorre no único transistor desta etapa, um 2N2218, que se encarrega de fornecer alguns miliwatts à saída, cuja antena pode ser a do veículo. A frequência de rádio pode ser ajustada a um ponto livre da faixa 88-108 MHz do espectro, quer dizer, um ponto onde não haja uma estação comercial de FM transmitindo. O pino 2 de Cl1 (temporizador), é usado como entrada do sensor e vai ligado diretamente ao botão NF (Normalmente Fechado) da luz de cortesia (atrás da porta) do automóvel (figura 6). Pela própria configuração elétrica do veículo, basta ligar em um dos botões e as duas portas estarão protegidas. Para o capô do motor basta instalar uma outra chave NF de forma que, com o capô fechado ela fique pressionada, mas que se liberte e feche o circuito quando da sua abertura. Ao se deixar o circuito preparado, comutando-se a chave CH1 para L, também o carro ficará impedido de dar a partida, pelo aterramento da bobina.
O leitor não precisa preocupar se o ladrão que amanhã tentar assaltá-lo, também hoje ler o presente artigo, pois para ter acesso à bobina ou à bateria do veículo, é necessário abrir o capô do motor, e ele não terá meios de anular o sensor que lá o espera (veja mais uma vez a importância deste local estratégico).
—Temporizador Ativado com o carro em movimento
Veja o leitor a simplicidade e a importância deste pequeno circuito. Pressionando-se a chave CH1 o relê comuta e carrega C2 através do diodo fotoemissor D2 e de R3. O led D2 pode ir no painel, próximo ao interruptor de pressão, pois ele praticamente pisca ao pressionarmos o botão, indicando pois que o circuito foi ativado e que depois do tempo fixado pelo trimpot TP1, o relê voltará à posição de origem, enviando um pulso de C2 através de R3 ao gate de SCR1, que curto circuitará bobina e massa, desligando o veículo e impedindo a sua reativação, podendo esta ocorrer após pressionado o interruptor CH2 momentaneamente colocado sob o painel ou em outro local de acesso mais difícil).
É importante deixar bem claro que não existe um sistema 100% garantido para a proteção de nada, e que, por mais sofisticado e rigoroso que possa ser este sistema, sempre haverá um meio, fácil ou difícil, de contornar a situação e burlar a segurança. O que se tenta fazer, e é extremamente válido, é dificultar ao máximo qualquer tentativa de acesso indevido (no caso, a veículos) que possa vir a ocorrer.