A cada dia que passa a eletrônica invade mais e mais setores de nossas atividades. Um dos primeiros setores atingidos por esta "onda" eletrônica, foi a fotografia, de tal modo, que praticamente não existe nenhum dispositivo fotográfico que deixe de utilizar eletrônica o que significa um preparo especial do técnico especializado (*). Damos a seguir algumas idéias práticas, para a reparação de dispositivos usados em fotografia, ajudando assim o técnico que não possua literatura especializada a ter uma fonte de consulta.

(*) Este artigo é de 1992. Se bem que as tecnologias tenham avançado com a fotografia digital, ainda vemos os flashes auxiliares e as baterias a tira-colo sendo usadas em muitas ocasiões.

 

Basicamente podemos classificar os dispositivos eletrônicos usados em fotografia em dois grupos: os que fazem parte direta da câmara fotográfica, tais como: célula indicadora de luz, os controles de foco e abertura, etc. e os que são utilizados em equipamentos assessórios.

Analisaremos os dois casos. Um primeiro equipamento auxiliar muito usado pelos fotógrafos profissionais é o carregador de baterias.

Os Flashes de maiores potências, exigem uma bateria recarregável de maior capacidade, normalmente chumbo-ácido, e que são carregados a tira-colo, (figura 1).

 

Figura 1 – A bateria auxiliar para flash
Figura 1 – A bateria auxiliar para flash

 

As fontes que carregam estas baterias nada mais são do que fontes muito simples, normalmente com um ou dois diodos, e um resistor limitador de corrente.

Como a bateria pode ser carregada com uma faixa relativamente ampla de correntes, não há necessidade de controle, ou outro dispositivo eletrônico de controle mais sofisticado.

Na figura 2 temos um circuito típico de carregador, observando- se que, como sofisticação temos apenas o LED indicador de funcionamento.

 

Figura 2 – Um carregador simples de bateria
Figura 2 – Um carregador simples de bateria

 

O transformador fornece corrente de algumas centenas de miliampères e a tensão varia conforme a bateria, normalmente ficando de 3 a 10 V acima da tensão da bateria.

A comprovação de funcionamento destas fontes é muito simples, medimos a tensão de saída. Na sua ausência podemos suspeitar de:

- Capacitor eletrolítico em curto, levando o diodo a queima e eventualmente o transformador. Verifique o capacitor eletrolítico e o diodo, caso o transformador estiver com sinal de aquecimento ou queima.

- Diodo aberto, caso em que o capacitor eletrolítico ainda pode estar bom, assim como o transformador.

- Transformador com o enrolamento primário aberto, o que pode ocorrer por uma ligação acidental na rede de 220 V quando preparado para operar em 110 V ou ainda pela entrada em curto do diodo, do capacitor eletrolítico ou contatos internos entre terminais de componentes.

Normalmente o resistor limitador, que funciona aquecido é superdimensionado no sentido de admitir até que as garras de ligação a bateria sejam curto-circuitadas, mas este componente eventualmente também pode abrir.

As baterias normalmente possuem pequenas esferas de plástico com densidades diferentes, formando assim um densímetro que permite saber pela sua flutuação quando a bateria está carregada. (figura 3).

 

Figura 3 – A bateria chumbo-ácido
Figura 3 – A bateria chumbo-ácido

 

Obs. Atualmente são mais usadas as baterias Nicad.

 

Outro equipamento auxiliar do fotógrafo, em que a eletrônica está presente totalmente é o flash.

Na figura 4 temos um circuito típico de flash com lâmpada de xenônio.

 

   Figura 4 – Circuito de flash com lâmpada de xenônio
Figura 4 – Circuito de flash com lâmpada de xenônio

 

Esta lâmpada precisa ter uma tensão muito alta (entre 400 e 600 V) para disparar, quando então ela apresenta uma resistência muito baixa conduzindo um pulso de corrente intensa de curta duração que gera o flash luminoso.

Desta forma, nosso circuito funciona da seguinte maneira:

No primário do transformador temos um oscilador com um ou dois transistores operando numa freqüência de faixa de áudio (quando o aparelho está funcionando ouvimos um zumbido que vem justamente deste oscilador e que se traduz na vibração das lâminas do transformador).

A finalidade do oscilador é aplicar no transformador uma baixa tensão alternada (das pilhas) que produz no secundário uma alta tensão para a carga dos capacitores (um ou mais eletrolíticos de alto valor); (figura 5).

 

Figura 5 – Um flash comum
Figura 5 – Um flash comum

 

A alta tensão no secundário é da ordem de 400 a 600 V e carrega o capacitor até o ponto de disparo que normalmente e indicado pelo acendimento de uma lâmpada neon.

Para o disparo existe um SCR que produz um pulso transformador de ignição o qual gera algo em torno de 1000 V para dar início ao processo de condução da lâmpada.

Como o início da condução os capacitores descarregam-se pela lâmpada de xenônio transformando sua energia armazenada em um flash de luz.

Para um novo flash devemos esperar que o capacitor se carregue novamente.

As falhas mais comuns deste tipo de equipamento:

- Não há oscilação, verifique o transistor (ou transistores) do inversor, a continuidade do transformador e os componentes de polarização. A ausência do zumbido pode ser facilmente percebida pela falta de zumbido audível quando o ligamos.

A falta de oscilação também pode ser acusada pela ausência de alta tensão no secundário do transformador mas atenção: os multímetros comuns carregam o circuito com sua baixa resistência, de modo que a tensão que vamos medir num circuito deste tipo, mesmo bom não será real, (figura 6).

 

Figura 6 – Nesta medida a tensão indicada é menor que a real
Figura 6 – Nesta medida a tensão indicada é menor que a real

 

A alta tensão de 400 a 600 V, transforma-se em algumas dezenas de volts quando ligamos o multímetro a escala de tensões alternadas para medida. A tensão real é medida com um multímetro de muito alta sensibilidade (acima de 100 k/v).

- Há tensão mas não há disparo. Se a lâmpada neon acende mas não ocorre o flash, devemos verificar o SCR e o enrolamento do transformador de pulso, além da própria lâmpada de xenônio. Infelizmente, não há uma maneira de se comprovar com instrumento o estado da lâmpada.

Sua prova somente é possível com um circuito que provoque seu disparo.

Devemos também verificar se o capacitor mantém a carga. Neste caso sim, um multímetro deve medir a tensão de 400 a 600 V, nestes componentes. Use a escala volts DC, apropriada e cuidado para não receber um violento choque se tocar acidentalmente nos dois terminais destes capacitores!

Flashes mais modernos podem controlar a carga do capacitor em função da luminosidade, distâncias ou outras informações obtidas por meio de foto-células acopladas a microprocessadores, mas seus circuitos são bastante complexos, (fig. 7).

 

Figura 7 – Flash profissional com diversos recursos
Figura 7 – Flash profissional com diversos recursos

 

Normalmente os fabricantes não fornecem com o aparelho um diagrama que facilite uma eventual reparação o que torna difícil o trabalho do técnico.

Neste caso, o que se faz é verificar os componentes suspeitos em torno do integrado processador e se nada for encontrado, proceda a sua troca (se for encontrado o tipo usado que normalmente e um dedicado de fabricação oriental e, portanto, "figurinha difícil").

Também é importante observar que em muitos casos a montagem é SMD (componente para montagem em superfície) o que exige do técnico reparar a posse de material especial para trabalhar nestas placas, (figura 8).

 

Figura 8 – Placa com componentes SMD
Figura 8 – Placa com componentes SMD

 

Na eventual necessidade de se substituir a lâmpada é preciso levar em conta sua "energia" dada em milijoules (mJ). Caso seja colocado urna lâmpada maior que a original, o circuito de disparo pode não conseguir a excitação.

Um terceiro equipamento auxiliar do fotógrafo é chamado flash auxiliar, mostrado em uso na figura 9.

 

Figura 9 – O flash auxiliar
Figura 9 – O flash auxiliar

 

Quando o flash principal dispara, sua luz provoca o disparo do flash auxiliar de modo que a cena é iluminada por luz de duas direções diferentes.

Este fato ajuda a eliminar as sombras que poderiam aparecer na foto, devido a posição de uma fonte de luz única diferente da máquina fotográfica, conforme ilustra a figura 10.

 

Figura 10 – Eliminando sombras com o flash auxiliar
Figura 10 – Eliminando sombras com o flash auxiliar

 

Na figura 11 temos um circuito típico de flash auxiliar, por onde analisamos seu funcionamento.

 

Figura 11 – Circuito de flash auxiliar
Figura 11 – Circuito de flash auxiliar

 

Um SCR é ligado em paralelo com o interruptor de disparo do flash auxiliar que pode ser do tipo comum com lâmpada de xenônio com circuito igual ao que já vimos.

Na comporta do SCR existe um elemento de disparo, um sensor que pode ser um LDR, um foto-transistor ou em alguns casos pode ser o próprio SCR que é sensível a luz (LSCR = light silicon controlled rectifier).

Quando o flash incide no elemento sensível o SCR liga produzindo o pulso que dispara a segunda lâmpada. A diferença de alguns milissegundos é insuficiente para ser cortada para a abertura do diafragma da máquina fotográfica de modo que a cena é iluminada pelos dois focos de luz.

A análise deste aparelho se resume no estado do SCR e do sensor.

Evidentemente, existem outros equipamentos auxiliares do fotógrafo que fazem uso da eletrônica mas que o espaço disponível reduzido não nos permite abordar num único artigo.

Desta forma, voltaremos em outra edição falando de alguns recursos eletrônicos das próprias máquinas e como repará-los.

 

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