Certamente, a maioria dos leitores quando compra, usa ou precisa de um resistor não se preocupa em consultar o datasheet. Na maioria dos casos, realmente isso não importa muito, pois estamos tão acostumados a usar esse tipo de componente que não nos preocupamos. Mas, isso não significa que resistores não tenham datasheet e que eles não tenham precisam de informações que vão além daquelas que estamos acostumados. Neste artigo tratamos dos datasheets desses componentes.

Resistência, dissipação e eventualmente tolerância, normalmente é o que nos importa mais quando usamos um resistor. O tipo eventualmente importa, se temos uma aplicação mais crítica como a montagem SMD, necessidade de baixo ruído, etc.

Todas essas informações, como em todos os componentes eletrônicos, e muitas outras estão presentes no datasheet de resistores e elas importam quando estamos fazendo um trabalho sério que use esse tipo de componente.

Para muitos isso pode não parecer tão importante, mas o uso de tipo impróprio, mesmo num componente tão comum e aparentemente não crítico, pode por a perder um projeto ou um trabalho de reparação.

Assim, saber ler o datasheet de um resistor é tão importante como o de qualquer outro componente e isso que veremos agora.

 

Estrutura do datasheet

Os datasheets (folhas de dados) dos componentes seguem uma estrutura padronizada em que as informações importantes que o fabricante precisa fornecer são organizadas.

Para o caso dos resistores, tomamos como exemplo os tipos de carbono sólido (que são os mais comuns) da TE Connectivity que podem ter o datasheet acessado pelo site da Mouser Electronics em https://www.mouser.com/datasheet/2/418/5/NG_DS_1773192_C_CBT_1111-1545606.pdf 

 

Figura 1 - Entrada
Figura 1 - Entrada

 

Assim, na primeira página no alto temos a identificação do fabricante e o tipo de componente. A foto do componente e em “Key Features” (Destaques-chave) temos as principais características que o fabricante deseja ressaltas.

No caso, vemos que se trata de resistores de composição sólida, projetados para trabalhar em regime de pulsos, baixo custo, disponíveis em dois tamanhos, etc

Um texto ressaltando as características principais é normalmente fornecido.

A seguir, temos as características elétricas, normalmente fornecidas como tabela. Nessa tabela as características podem ser elétricas ou eventualmente contendo informações adicionais que dependem do componente.

 


 

 

Por essa tabela vemos que os dois tipos disponíveis de resistores desta série possuem características diferentes.

Em primeiro lugar temos a potência de dissipação (Power) que é especificada para uma determinada temperatura (70º C). Veja então que, como qualquer componente, a capacidade de dissipação depende da diferença de temperatura entre o componente e o maior ambiente. Assim, quando se especifica para 70º C significa que os valores indicados são para essa temperatura. Num ambiente com temperatura maior a capacidade de dissipação diminui.

Uma informação adicional normalmente é necessária para que o projetista possa saber o que ocorre acima disso, e realmente isso é dado no datasheet na forma de “derating” (degradação). Figura 2.

 

Figura 2 – Fator de degradação
Figura 2 – Fator de degradação

 

 

Veja que em 100 graus aproximadamente ele já perdeu perto de metade de sua capacidade de dissipação!

Uma outra característica que não é muito comum vermos os projetistas observar e a tensão máxima (maximum voltage). Sim, os resistores possuem tensões máximas de operação. Se superadas podem levar a faiscamentos ou outros problemas internos que acabam por queimar o componente.

É comum vermos resistores que, mesmo tendo valores adequados para o projeto e também dissipações, acabam por queimar num circuito de alta tensão. A tabela mostra que os tipos descritos têm tensões máximas e 250 V e 350 V respectivamente.

Para a tolerância, os fabricantes costumam especificar de acordo com as série padronizadas de E6 a E24 ou mesmo E48 e E96 em alguns casos de tipos de alta precisão. E, dentro dessas séries temos a faixa de resistências disponibilizadas ou Resistance Values.

A Limiting Element Voltage ou tensão limite por elemento é a mesma que a tensão máxima, mas temos a tensão máxima de sobrecarga, que o valor absoluto da tensão que não deve ser de maneira alguma superado. Trata-se do Maximum Overload Voltage de 500 V e 700 V no nosso caso.

Uma especificação que pode deixar dúvidas é sobre a resistência de isolamento (insulation resistance). Trata-se da resistência entre a parte ativa do componente (elemento resistivo) e o ambiente externo, ou seja, a resistência da proteção externa.

Temos depois as especificações mecânicas e a principal é dada pelas dimensões do componente que determinará o projeto da placa de circuito impresso. (figura 3)

 

Figura 3 – especificações mecânicas
Figura 3 – especificações mecânicas

 

 

A seguir temos as especificações de desempenho (performance) que são importantes no caso de projetos de produtos que usem o componente.

As informações dizem como o componente se comporta em determinadas condições de teste. No caso dos resistores temos diversos itens que podem ser importantes para o tipo de aplicação que o equipamento terá, o modo como ele vai ser usado, por exemplo condições de soldagem, tensão mecânica nos terminais, modo de dobrar os terminais, etc.

E para completar temos o modo como o componente é fornecido, por exemplo, o tipo de embalagem e a codificação que é usada para se encomendar o componente. Na figura 4 temos o exemplo dado.

 

Figura 4 – Como encomendar
Figura 4 – Como encomendar

 

 Em especial este tipo de informação é importante para que não se tenha a surpresa de se receber componentes diferentes daquele que se espera com atrasos e prejuízos decorrentes.

É comum que um mesmo tipo de componente tenha variações conforme o tipo de invólucro, disposição de terminais, se é SMD ou não. Para um resistor se os terminais são axiais ou paralelos para montagem vertical, etc.

Na figura 5 temos o caso de resistores em chip ou (Chip Resistor) que são para montagem SMD cujo datasheet pode ser obtido através da Mouser em: https://www.mouser.com/datasheet/2/427/VISH_S_A0002473671_1-2568388.pdf

 

Figura 5 – Primeira página de um datasheet para resistores em chip.
Figura 5 – Primeira página de um datasheet para resistores em chip.

 

 

A estrutura é a mesma do datasheet que vimos para resistores comuns. A quantidade de informações neste caso é maior, com diversos gráficos já que o componente, neste caso, é fornecido em diversos invólucros.

Na figura 6 mostramos a descrição do produto e o “part number” através do qual se deve fazer o pedido sem problemas de que chegue um componente errado.

 

Figura 6 – Part number informatiom
Figura 6 – Part number informatiom

 

Uma informação importante quando se trabalha com resistores em chip (para montagem SMD) é as dimensões das áreas de soldagem das placas. Na figura 7 temos a informação na forma como é dada num datasheet.

 

Figura 7 – As áreas de soldagem (solder pad)
Figura 7 – As áreas de soldagem (solder pad)

 

Um fato importante que deve ser levado em conta quando se faz um projeto, além das características do componente é se sua utilização é conveniente. Isso significa que eventualmente um determinado componente que se pretende usar pode estar no fim de sua vida útil, ou seja, o fabricante já prevê que em breve um tipo equivalente será lançado.

Por quanto tempo o componente pode estar disponível é importante no momento do projeto, pois pode chegar o momento (indesejável) em que o reparo do produto se torna problemático pela não existência mais do componente, se ele queimar. Ou ainda, se for pretendida a continuidade da fabricação do produto.

Esse tipo de informação, assim como o preço, modo de envio pode ser obtidas nos datasheets através de fornecedores. Por exemplo, baixando o datasheet que demos como exemplo de resistores da Vishay através da Mouser, temos essas informações para o caso do fornecedor ser a Mouser.

Sem dúvida, é algo importante quando se pretende usar um tipo de componente num projeto, e isso é válido não apenas para resistores.